O interesse da pergunta é óbvio, porque em Portugal, desde os anos 30 que só há Salazar e os que são contra. Tanto é assim que do regime do 25 do A nada há de harmonioso exceptuando a oposição ao regime anterior. Assim sendo, compreender o que Salazar pensava torna-se essencial para compreender o Estado Novo, bem como o anti-Estado Novo onde vivemos.
É evidente que o assunto não será de interesse para os monárquicos que querem transformar o Republicanismo num bloco monolítico de coisas más, para apresentar uma visão beatífica da monarquia.
Curiosamente, a monarquia desde 1820 é pouco destrinçável de qualquer regime republicano. Por isso era palavra corrente tratar-se de uma "monarquia sem monárquicos" e a forma como o apoio à monarquia era feito através do condicionalismo da monarquia aos modos da república.
É por isso que existe uma incongruência gigantesca nos monárquicos que querem uma monarquia para colocar em cima desta república. Fazem referência ao constitucionalismo liberal como modelo, mas esquecem que o republicanismo está lá todo encapsulado. O caciquismo, o centralismo, a partidarite, o Estado como arma de perpetuação de elites, a nobreza como forma de reconhcimento das elites do dinheiro e da rapina.
Quando vejo ser imputado ao Estado Novo um carácter republicano, quando este foi o sistema dos últimos dois séculos que mais confrontou o sistema republicano (a ideia da titularidade colectiva do bem comum, o cidadão massificado, a urbanização espiritual do país, a religiosidade falsificada da xafarica maçónica mascarada de Cristianismo, as finalidades laicas da comunidade, o partidarismo) tenho enorme vontade de rir. Só não me rio mais porque, a coberto de uma dicotomia falsa (republicanismo vs monarquia) se continuam a cativar os espíritos simples para uma cruzada monárquica que não existe. Os monárquicos de hoje não defendem nada que não seja republicano. Apenas defendem que a república funcionaria melhor com uma coroa. O que é um triste substituto da ideia monárquica e algo que me afasta dos arraiais de botão dourado em que se transformou essa causa.
Talvez fosse mais interessante (e esta farpa é para o Nuno CB) do que identificar os cartazes da Mocidade Portuguesa como republicanismo, mostrar como os manuais de educação cívica da monarquia mostravam o rei como primeiro dos cidadãos à moda revolucionária, faziam a apologia da soberania popular e defendiam os modelos educativos progressistas de Pestalozzi e outros precursores da deseducação europeia.