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Diagnósticos à parte, importa assinalar, como lembra Vitorino Magalhães Godinho na sua recente obra Os Problemas de Portugal, que "Escreveu Jacques Attali que não devemos perder tempo a atacar os jogadores, mas sim mudar as regras do jogo" (p. 78).
O mesmo é dizer que a estrutura constrange de forma determinante os actores. O que significa que este regime não serve. Está à vista de todos. Pela crescente falta de legitimidade, porque se baseia num anti-fascismo que já não faz sentido, porque o PS continua a comportar-se como o dono da democracia quando a democracia para o ser verdadeiramente não pode ter donos, porque na gestão de dependências que caracteriza a nossa política externa desde sempre, fomos dos piores alunos da UE nas últimas décadas - desbaratámos milhões, não investimos na melhor poupança, i.e., a educação, e continuamos a endividar-nos a um ritmo alucinante, o que em conjunto com um sempre eterno descontrolo nas finanças públicas nos deixa na alma um travo amargo a incompetência para nos governarmos a nós próprios.
Os actores da nossa democracia e das histórias que têm povoado os noticiários nas últimas semanas não parecem dar-se conta que está em causa muito mais do que apenas o seu nome ou personalidade. Está em causa a democracia - se esta não estiver já mesmo dada como falhada, como afirma o Henrique Raposo. Está em causa a viabilidade futura de Portugal.
Quando um sistema se encontra em tamanha degenerescência é impossível percepcionar completamente as causas e consequências do que se passa à nossa volta, o que torna quase impossível corrigir as deficiências estruturais que nos vão assolando. A maior parte das pessoas parece fazer de conta que não se passa nada, como assinala Martim Avillez num excelente editorial.
Os actores não mudam o seu comportamento a não ser que sejam constrangidos, e só a estrutura o pode fazer, para impedir ou pelo menos minorar que o poder corrompa, e que o poder absoluto corrompa absolutamente, como diria Lord Acton.
Mais importante do que tentar perceber o que se passa, que já todos sabemos que é uma vergonha, importa ir pensando no que fazer para colocar o país em bom rumo. Importa lembrar que as pessoas que temos ao dispor vão continuar a ser exactamente as mesmas e o seu comportamento revestir-se-á das mesmas características se as regras do jogo não forem alteradas. O João Távora mostra bem como a mal pensada arquitectura institucional da III República cai em ambiguidades e paradoxos que a tornam refém de si própria.
Por isso, precisamos de outro regime ou, pelo menos, de rearquitectar este. Nada melhor do que o ano do Centenário da República para o fazermos e para encontrarmos uma forma de galvanizar o país e recuperar a verdadeira ética res publicana, ou seja, aquela que tende apenas para a verdadeira devoção pela boa gestão da causa pública. É imperioso arrumar a casa.