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Um dos temas do verão, consiste na algazarra que uma parte da classe política tem feito, pretextando o grave crime que consiste na tentativa de rever a Constituição. De facto, o prolixo, desfazado e confuso texto já foi revisto noutras épocas e rasgaram-se vestes, amarfanharam-se vestidos e chorou-se até mais não, dizendo que o livrinho fundamental tinha sido destruído pela cáfila de mal intencionados. Afinal, o texto outrora revisto, continuou a servir os propósitos dos seus putativos progenitores - exactamente os mesmos que contra ele asperamente se bateram em 1975 -, que agora à coisa se agarram com unhas e dentes, como se sem ela ficássemos sem democracia.
A resistência à revisão constitucional, consiste em mais um erro, fruto de velho e atávico sentimento de posse da coisa pública, arrogantemente invocada por pretensos defensores de uma muito questionável "legalidade ad eternum". Se a iniciativa de Passos Coelho pode ser interpretada como mais uma alínea que, à falta de algo de mais substancial, preenche a sua agenda política, pode também significar uma tentativa de profunda alteração do regime, naquele sentido pretendido pelos sectores que sem um inatingível De Gaulle, em Cavaco Silva - um noviço na política portuguesa...- esperam ver o tal sonhado presidente de recorte sarkozyano. Os opositores à revisão temem a hipótese, pois o Parlamento tenderá a transformar-se cada vez mais, numa caixa de percussão para o ruído de palmas ou de inofensivos apupos.
Mas existe aquele outro argumento que de tão bem escondido pelos media, passa despercebido. A questão da liquidação de uma parte dos chamados Limites Materiais, consiste precisamente no ponto essencial que uma grande parte da esquerda - e desconfiamos que algumas franjas do PSD - para sempre quer ver intocável. Como se sabe, a Constituição foi outorgada por uma imaginada divindade que revestida de indiscutível autoridade, para sempre estabeleceu princípios imorredouros. Ridículo!
O problema consiste na intangibilidade da seráfica república e tudo o mais que se possa dizer, para nada mais serve, senão de desculpa para a manutenção desta situação de abuso e prepotência sobre uma nação inteira.
Não querem rever a Constituição? Pois assim sendo, estabelecem o primeiro marco para uma futura situação de ruptura. Gostem ou não gostem , é este o inexorável ditado da história que admite vírgulas, mas por vezes prefere o ponto final.