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Quando não está exclusivamente preocupado em fazer-se notar para um previsível render da guarda no Palácio de S. Bento, este antigo secretário de Estado dos tempos do pântano guterrista, chama a atenção para um ou outro episódio da nossa política.
Hoje, o móbil consiste na apreciação que o tresloucado grupo parlamentar do PS no Parlamento Europeu, faz da política.
O semanário Sol, diz que os socialistas resolveram declarar guerra à Alemanha. Genialidades da dimensão de um Sérgio Sousa Pinto, além da descabelada Ana Gomes - assim a denomina Edite Estrela -, acusam os alemães de todos os males, desde as suas exportações, até à adopção de medidas que combatam o endividamento. A estrela falante do grupo rosa, chega ao desplante de tecer considerações pouco simpáticas acerca da dimensão política da chanceler Angela Merkel, adoptando o tom chocarreiro que outrora um outro compagnon de folie, utilizou para definir a Sra. Nicole Fontaine. Mais uma ou outra encabritada voz se fez ouvir, afinando pelo mesmo diapasão e aventando as mais disparatadas alusões a outros tempos, onde as guerras mundiais surgem como explicação para tudo, ou pior ainda, como ineficaz chantagem moral sobre quem tem a bolsa que paga as loucuras de outros.
As personagens são secundárias e perfeitamente inócuas, mas o mesmo não se poderá dizer acerca de Mário Soares, de longe mais influente e respeitável do que a soma de todas as inefáveis nanidades acima mencionadas. Além da excentricidade de considerar como "excelentes propósitos", o esquema sarkoziano de governo mundial, Soares regressa à requentada lenda do ingresso britânico numa Europa comunitária, tendo como exclusivo e tenebroso fito, a sua sabotagem interna. Insiste assim, na francófila cegueira perante aquela evidência que qualquer consulta a uma história factual de bolso, mostrará sem sofismas.
Morta a URSS e liquidado o seu império colonial na Europa de leste, as condições que estabeleciam os diversos equilíbrios de poder alteraram-se radicalmente. A unificada Alemanha recuperou o seu tradicional predomínio nos Estados vizinhos e foi sem dúvida, a principal promotora da entrada dos arruinados ex-membros do Comecon, naquilo que hoje é a U.E. Duas décadas antes, os mesmos alemães fizeram tudo o que puderam para convencerem franceses, italianos, ingleses, belgas e outros, a abrirem as portas do selecto clube a Portugal e à Espanha. Recuando ainda mais no tempo, todos decerto recordarão o importante contributo alemão para a derrota do comunismo durante o PREC de 1975. Muito deve o PS à Alemanha, desde a conferência de fundação do Partido em Bad Munstereifel, à enxurrada dos dinheiros da Fundação Friedrich Ebert e ao outrora "pacóvio conservador da CDU" Helmuth Kohl, hoje pelos socialistas muito justamente reabilitado, como um entre os grandes. Muito mais importante que este aspecto da vida interna da Internacional Socialista, os portugueses deverão estar gratos à Alemanha, pelo progresso visível nas nossas infraestruturas e até por um estilo de vida imerecido, porque não correspondente às nossas possibilidades de produção e criação de riqueza. Se liquidámos os nossos afazeres por influência externa, essa é uma outra questão que apenas poderá imputada a quem isso permitiu.
Nunca tivemos qualquer ilusão acerca das correrias inter-fronteiriças, onde saltitantes grupos de jovens e idosos se abraçavam, empunhando bandeirinhas estreladas e cantando a 5ª sinfonia do fim das barreiras. A política séria, não se compadece com este tipo de folclore e o mais surpreendente é verificarmos que uma boa parte dos nossos decisores, encaram essas trivialidades com o ar mais sério deste mundo. O jogo europeu consiste antes de tudo, no evitar de fricções excessivas que conduzam à declarada inimizade de outros tempos, hoje impossível pela visível decadência desta península que diz ser um "continente". A rivalidade entre as empresas e a luta dos Estados pela conquista de posições cimeiras que garantam óbvias vantagens políticas e económicas, continuam como sempre, a ditar a agenda de qualquer governante que chegue ao poder, seja na Europa, como nas Américas, Ásia ou África. Não entender este princípio básico da boa governação, denota a escassa consciência que os nossos políticos têm da realidade. É perfeitamente possível sermos europeus e em simultâneo, mantermos uma política secular que diversifique o nosso campo de acção para outras áreas do mundo, especialmente aquele que fala português e claro está, nos negócios com as potências interessadas nas potencialidades da CPLP, sejam aquelas a China ou os cada vez mais dependentes Estados Unidos. Sempre apontando os processos descolonizadores da França e da Inglaterra como exemplo, a gente da 3ª República esqueceu-se do importante detalhe da permanência da influência política e económica - e até militar -, das antigas potências coloniais, nos Estados que ascenderam à independência. Os dirigentes do PS e do PSD, fizeram precisamente o oposto e decidiram-se pela exclusividade da aposta europeia, esgravatando à procura do ouro que lhes permitiu fazer a efémera e questionável figura de "primos ricos". O resultado está à vista.
Pouco interessará se é Sócrates, Passos Coelho ou outro, a retomar uma política multifacetada de relações exteriores de Portugal, sejam elas económicas ou culturais. O importante consiste no estabelecimento daquele "faça-se!" que tem estado sempre ausente nas últimas décadas.
A mirífica Europa Unida encontra-se num período de clara indefinição e esta poderá ser uma oportunidade que devemos aproveitar. O ponto de referência de todos os governos de Lisboa, deverá ser sempre o da manutenção do maior grau possível de independência do Estado, num mundo bem diferente daquele que o século XX viveu, aplicando-se para a nossa sobrevivência, aquilo que outros bem melhor executam nos seus países. Quanto a este aspecto fundamental que caracteriza o bom governo, Portugal tem sido submetido a uma duríssima e escusada prova, dada a evidente inépcia de quem faz a política como um simples exercício de vaidade ou de mealheiro de proventos pessoais. A hipoteca das nossas relações externas ao restrito e semi-falido conjunto europeu - onde o vizinho cobra a parte de leão -, esgota as nossas possibilidades, diminui-nos no concerto da chamada "nova ordem mundial" e poucos ou nenhuns benefícios materiais nos trará. Como sempre, ficamos perante um visível esquema de desigualdade, descrédito externo e numa desesperante exiguidade de recursos económicos e políticos que nos condenam a uma inglória saída de cena. Um triste epílogo para uma história que ainda está a tempo de ser bem diferente.