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Subvenções vitalícias para políticos profissionais

por Samuel de Paiva Pires, em 29.10.07
Marques Mendes decidiu pedir uma subvenção vitalícia pelos serviços prestados ao Estado.

Não vou fazer as habituais critícas associadas às esquerdalhadas de que o povo é que paga o que uns poucos ganham, que "Isto é uma bergonha!", que é só "tachos" e por aí adiante.

O que me chama a atenção nesta notícia é o facto óbvio que ser político profissional acaba por vezes por não ser uma das melhores escolhas de carreira. É uma profissão altamente remunerada e obivamente que as pensões também têm que ser elevadas. O problema é que quando acontecem certos desaires, se não se tiver um outro qualquer tipo de ocupação remunerada, seja no sector privado ou público (académico por exemplo), do que é que se espera que uma pessoa viva se não sabe fazer mais nada?

publicado às 19:45

Você é um fanfarrão!

por Samuel de Paiva Pires, em 29.10.07


Porque todo o mundo (pelo menos no Brasil) fala nisso, não podia deixar passar em branco o privilégio de que usufruí na passada sexta-feira ao assistir ao filme Tropa de Elite, diga-se de passagem, em muito boa companhia.

Devo dizer que prefiro a Cidade de Deus, bem mais conseguido (e também muito mais violento).

Enquanto os chavões do Capitão Nascimento (aquele sujeito com cara de poucos amigos que vêm na foto em cima) vão sendo ouvidos aqui e ali, não posso imiscuir-me dessa mesma moda, especialmente ao pensar em certas pessoas, (como Francisco Louçã, ver post abaixo), tendo já perdido a conta a quantas vezes por dia exclamo: "Você é um fanfarrão!"

Já estou a ver a moda a pegar em certos debates à portuguesa, a lembrar uns sketches do Gato Fedorento...

publicado às 14:47

Periferias ao centrão em convulsões

por Samuel de Paiva Pires, em 29.10.07
Enquanto Louçã se perde em acusações de carácter demagogo com laivos que vão demonstrando a desorientação vivida por uma organização que só desde há algum tempo a esta parte se tornou realmente um partido na actual conjuntura, perdendo portanto grande parte do seu fulgor ideológico, assisto com curiosidade à formação do Movimento Mérito e Sociedade.

Eduardo Correia, professor de marketing do ISCTE, parece-me colocar-se naquilo a que se pode chamar a ideologia da governance. O rejeitar dos rótulos esquerda e direita em prol de um bem e interesse comum embora seja de assinalar, sendo uma tentativa de se colocar acima de ideologias e rótulos padronizados, carece de uma análise politológica à luz das definições de partidos de Duverger e Kircheimer.

É que para todos os efeitos, em termos práticos, PS e PSD também não se enquadram nessas mesmas noções, daí que a conotação de centristas em centro-esquerda ou centro-direita, que passa tão despercebida, seja por demais importante. No essencial, em pouco ou nada divergem. No acessório, é simples demagogia para entreter multidões. O centro é a governance. E a governance faz-se pelo marketing político. E o centro é demasiado forte para permitir a ascensão de periferias (a lembrar um pouco a teoria dependentista).

Resta aguardar para verificar se têm razão alguns politólogos que vão dizendo que não há espaço no espectro político português para mais partidos.
E por falar em movimentos, o que é feito do movimento de Manuel Alegre? Aos mais curiosos, cliquem no link Movimento Já que se encontra no site de Manuel Alegre. Será que o Movimento Já se tornou uma dating service agency?

publicado às 13:19

A não perder

por Samuel de Paiva Pires, em 29.10.07

Parabéns pah! Que bela maneira de começar o dia! E que belo dia este aqui por Brasília!

publicado às 13:16

Barão de Rio Branco

por Samuel de Paiva Pires, em 29.10.07
Recuperando um pouco a índole inicial deste blog, decidi “homenagear” um dos maiores estadistas de todos os tempos, neste caso, especialmente afoito ao Brasil.

José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão de Rio Branco, foi um daqueles raros homens de uma nobreza de espírito e intelectual invejável, político e diplomata exemplar que através do pragmatismo político soube servir da melhor forma possível o seu país numa conjuntura doméstica e internacional pouco amistosa.

Em 1892 com o advento da revolução que derrubou a única monarquia da América Latina, os republicanos imbuídos de um visão romântica e idealista, que acabaria por ser prejudicial ao Brasil – onde é que eu já ouvi isto? – tomaram as rédeas da diplomacia brasileira, transferindo o eixo fundamental dessa de Londres para Washington.

Acreditavam numa aproximação às repúblicas americanas, através da retórica pan-americana, dessa forma iniciando-se o movimento que viria a ser considerado um dos paradigmas da Política Exterior Brasileira, a Aliança Especial com os Estados Unidos.

Esta visão romântica que se aproximava aos ideais Bolivariano e Monroista, após diversos falhanços, entre os quais, concessões exageradas à Argentina em matéria de definição de limites territoriais, acabaria por ser substituída por uma visão mais próxima da realidade, ironicamente, fruto do trabalho de um homem ligado ao Império.

De 1902 a 1912, o Barão reorientou a diplomacia brasileira sob a índole do realismo e pragmatismo, constituindo o eixo das relações especiais com os Estados Unidos (durante a sua estada à frente do Itamaraty essas pautaram-se pelo alinhamento pragmático, ou seja, com recompensas, por oposição ao alinhamento automático, sem qualquer tipo de recompensa), restaurando o prestígio da diplomacia espelhada na época do Império, concluindo todas as negociações sobre limites territoriais à epóca, salvaguardando a soberania do Estado Brasileiro e esboçando ainda a primeira tentativa de integração em bloco na América Latina, embora não concretizada, o Pacto ABC (Argentina, Brasil, Chile).

Enquanto assistia à turbulência que perpassava o país sob o governo de Hermes da Fonseca, também a sua saúde se tornava cada vez mais débil, pelo que acabaria por se demitir em Janeiro de 1912, falecendo um mês depois, diz-se, pelo desgosto de ver o seu país em tal estado.

Para o Barão, filho do Visconde de Rio Branco, a sua descendência portuguesa e nobiliárquica eram motivo de orgulho, porém o seu sentido de Estado predominou sobre qualquer tipo de idealismo, ideologia ou artifício social. É notável e admirável como um monárquico convicto serviu o Estado Brasileiro republicano de forma exemplar.

Homem dotado de uma inteligência invulgar, deixaria para o futuro o que ficaria conhecido como o “Legado de Rio Branco”, que ainda hoje enforma a base da escola diplomática brasileira, que em sua honra instituiu o Instituto Rio Branco. Era de tal forma importante para os brasileiros, que sempre o viram como o indivíduo mais capaz para conduzir a chancelaria, que a notícia da sua morte abalou toda a sociedade, pelo que nesse ano se adiou a comemoração do Carnaval.

Rio Branco provou que acima de ideologias ou maniqueísmos está um sentido de Estado que todos os verdadeiros estadistas deviam possuir. Infelizmente isso vai sendo cada vez mais raro...

publicado às 12:51

Blogosfera incomoda Prodi

por Samuel de Paiva Pires, em 26.10.07

Parece que o governo italiano não vai muito de modas com esta coisa da blogosfera. Leiam aqui.

Enquanto o Hoje há conquilhas diz sentir-se incomodado por ser a esquerda democrática no poder a sentir-se incomodada pela blogosfera, já eu delicio-me com este tipo de manifestações, pela sua contribuição para um certo desmistificar dos fantasmas de direita.

Afinal, o autoritarismo, ditadura, censura e outros conceitos que tais, sempre associados a uma direita "malévola", são tanto dessa direita como da esquerda. Mais do que isso, independentemente de ideologias, são conceitos e tendências que se podem revelar em qualquer ser humano.

Incomoda-me sim aquela esquerda que faz passar a mensagem de que Salazar ou Franco foram uns "papões", mas já Mao, Estaline ou Che Guevara foram uns heróis.

Embora seja tarefa árdua, a História deve ser ensinada e interpretada sem vieses ideológicos, nem de esquerda nem de direita.

publicado às 14:51

LFM e PSL animam a arena

por Samuel de Paiva Pires, em 26.10.07
Parece que a arena política se vai animando com as intervenções de Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, ou pelo menos assim indica a última sondagem do barómetro DN/TSF.

O há muito anunciado segundo mandato do governo socialista vai agora parecendo uma realidade mais distante do que há um ano atrás.

E agora que segundo o ministro Campos e Cunha "Com Santana Lopes, Sócrates vai ter um interlocutor no Parlamento do seu nível político e intelectual", resta aguardar para ver se o PSD vai voltar a ser um partido de oposição crítica e fundamentada, e não o decadente demagogo desfasado da realidade que vinha sendo com Marques Mendes.

Aguardam-se futuras degladiações...

publicado às 14:35

A decadência do ensino

por Samuel de Paiva Pires, em 26.10.07
Tendo lido isto e isto fico com a impressão de que o ensino português vai cambaleando pelos corredores da decadência anunciada.

Segundo o JN "Paulo Portas considera que uma medida que não distingue entre um aluno impedido de ir às aulas (por doença por exemplo), e outro que se 'balda' "é um erro histórico" que "faz lembrar as passagens administrativas de 1975" e que promoverá só "a mediocridade" do sistema."

Não poderia estar mais de acordo.

No ensino superior, pelo menos na maioria das faculdades, ainda se vai partindo do princípio que um estudante maior de idade já tem capacidade para decidir se quer ir às aulas ou não. Mas deixando de haver sanções por absentismo até ao ensino secundário, como se pode deixar nas mãos de uma criança/adolescente essa decisão? Como é que essa pode ser responsabilizada? E nos casos em que os próprios pais já se desresponsabilizam da educação dos filhos?

Não admira portanto que as escolas e colégios privados obtenham consistentemente melhores classificações do que as públicas.

E ainda que segundo o JN "O estatuto também prevê "medidas correctivas". Caso da realização de tarefas, prolongamento da permanência do aluno na escola, mudança de turma ou interdição no acesso a determinados espaços, como os pátios", quero ver como vão implementar isto. Não tendo sido assim há tanto tempo a minha passagem pelo ensino básico, recordo-me de que esse tipo de medidas também vigoravam na altura. Mas com colegas que ameaçavam e batiam em professores e auxiliares, para além das constantes cenas de deliquência e conflitos com outros colegas, e que passavam o tempo a faltar às aulas, como é que se pode esperar que a instituição escolar assegure essas medidas correctivas?

É uma desilusão assistir a este crescente nivelar por baixo que vai perpassando todos os sectores do ensino português, desde o básico ao superior, que já vem desde o 25 de Abril, em que não se premeia a meritocracia mas sim a típica "chico-espertice" dos que pouco estudam e dos que ainda contribuem para o aumento da violência ou deliquência nas escolas.

A ideia de "menos Estado" não se pode repercutir por sectores como a educação, ainda por cima incrementando o facilitismo por oposição ao elitismo do sistema de ensino vigente até 1974, esse que se pautava pela exigência e ainda sob o qual foi educada a maior parte da população portuguesa.

Como diria um certo Professor "Antigamente estudávamos para ser sábios. Hoje em dia vocês estudam para ser técnicos".

publicado às 13:58

Agradecimentos blogosféricos

por Samuel de Paiva Pires, em 26.10.07
Pese o pouco tempo disponível nesta temporada brasiliense é com prazer que tenho vindo a constatar a pouco e pouco o que se vai passando na blogosfera portuguesa, pelo que agradeço o reconhecimento e a primeira referência por parte dessa, n'O Insurgente. Obrigado Insurgentes!

publicado às 13:47

A dois é melhor...

por Samuel de Paiva Pires, em 25.10.07
Pese o óbvio teor tendencioso do título deste post, pretendo assinalar a aceitação do convite que fiz ao meu grande amigo Nero para colaborar neste recém-criado blog.

Certamente, a pouca qualidade do blog demonstrada até agora pela minha acção a solo, só poderá e tenderá a melhorar com a contribuição de tão esclarecida persona.

Bem-vindo caríssimo!

publicado às 15:20

Nem os santos ajudam

por Samuel de Paiva Pires, em 24.10.07

Como se já não bastasse ter perdido para Fátima, agora foi a vez de Roma levar a melhor sobre o Sporting. Teorias da conspiração à parte, parece-me que há alguma espécie de complot no Reino dos Céus entre os Pastorinhos, Nossa Senhora, o Papa e Deus contra o Sporting. Engraçado ter sido Cícero o primeiro a marcar para Fátima, prenunciando talvez o que aconteceria em Roma.

publicado às 19:21

A pobreza de que Cavaco se envergonha

por Samuel de Paiva Pires, em 24.10.07

No seguimento das afirmações do Presidente da República e do Prós e Contras, recomendo a leitura de mais um texto de Pedro Picoito.

publicado às 14:36

Ah pois é avózinha....

por Samuel de Paiva Pires, em 22.10.07
O que me levou a iniciar este blog foi o ter lido um post da Fernanda Câncio e consequente resposta de Pedro Picoito, tal como indiquei num dos primeiros posts.

Ora hoje tive o privilégio de ler mais um magnífico texto da Fernanda Câncio.

Depois da entrevista do Procurador-Geral da República, foram mais umas belas gargalhadas, principalmente depois de ficar a saber que o avô da Fernanda Câncio “... foi sempre contra a monarquia, era republicano. Era pela igualdade entre as pessoas”.

Para além de que historicamente a primeira república não veio promover a igualdade, pelo contrário, até por ter reduzido o número de votantes, o conceito teórico de república tem tanto a ver com o conceito de igualdade como o conceito de monarquia.

Enfim, se os supostos opinion-makers jornaleiros deste país se dedicassem mais a ler e menos a escrever futilidades como de resto é o referido post...

É o que dizia há 2 ou 3 posts atrás...a liberdade de imprensa acabou por descambar...

publicado às 20:11

Corrupção? Só do cafézinho...

por Samuel de Paiva Pires, em 22.10.07
O Procurador-Geral da República acha que Portugal não é um país de corruptos, mas afirma "É claro que há tráfico de influências, há a corrupção do `cafezinho` e o `tome lá uns euros para fazer andar`, num país com a burocracia que nós temos".

Deduzo então que se o Estado fosse mais eficaz em termos de competência (e já agora, menos "gordo" em número de funcionários) deixaríamos de ter corrupção. Sou só eu que acho que estou enganado?

Em países supostamente menos desenvolvidos, como o Brasil, casos de "corrupção do cafézinho" dão azo a impeachments e julgamentos como o mensalão. Claro está que muitos casos não são sequer denunciados. Mas então e Portugal não quer ser visto como país do "primeiro mundo"?

Saint-Exupéry ensinava que sobre escravos nada se constrói, mas parece-me que a demasiada liberdade que impera em Portugal também não tem frutificado para que todos saibamos viver em democracia, porque segundo o mesmo "Ser homem é precisamente ser responsável. É sentir, ao colocar sua pedra, que está contribuindo para construir o mundo."

Falta responsabilidade e maturidade a esta democracia para prosseguir a ideal res publica...

publicado às 13:06

Oposição renovada?

por Samuel de Paiva Pires, em 19.10.07
Até agora ainda não tinha decidido escrever nada sobre o assunto, principalmente porque estando do outro lado do Atlântico, mesmo com a útil ferramenta que é a Internet, é difícil percepcionar as sensibilidades que pairam na sociedade portuguesa.

Menezes conseguiu finalmente ser líder do PSD. Santana volta às hostes parlamentares. A imprensa e a blogosfera perdem-se em avaliações de renovação das elites e em discursos sobre a moda que pegou, o"populismo".

Recordo-me das intervenções de Marques Mendes na Assembleia da República, terrível orador, que em determinadas alturas parecia até combinado com o governo, a lembrar certas teorias da conspiração acerca de pactos combinados entre os partidos do centrão para se alternarem pacificamente no poder.

Confesso que é com alguma curiosidade que aguardo para ver como se vai desenvolver a estratégia laranja a partir de agora. É uma espécie de lufada de ar fresco que talvez possa vir a animar o panorama político português. Ou então será apenas mais do mesmo. Esperamos para ver.

Recomendo a leitura do que o Professor Jaime Nogueira Pinto publicou n'O Futuro Presente.

publicado às 22:45

Portugal 10.º em liberdade de imprensa

por Samuel de Paiva Pires, em 19.10.07
A organização dos Repórteres Sem Fronteiras publicou a tabela anual daquele que pode e deve ser considerado um dos indicadores de consolidação democrática dos regimes políticos.

É com alguma satisfação que vejo o país onde nasci, Islândia, obter o 1.º lugar. Quanto a Portugal manteve-se no 10.º lugar, ficando à frente de países como Canadá (18.º), Alemanha (20.º), Reino Unido (24.º), Austrália (28.º) e Estados Unidos (48.º).

É interessante verificar esta classificação apesar dos casos recentes de alegadas violações da liberdade de imprensa (despoletados pelo caso do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, chegando até ao mais recente caso de Rodrigues dos Santos).

No entanto, de forma positiva, verifica-se sempre alguma inquietação por parte da sociedade contra este tipo de alegadas violações.

Apesar das críticas que ecoam nos mais diversos meios à sociedade e ao Estado, não há como negar que de facto em Portugal a liberdade de imprensa é uma prerrogativa constante.

Mas, talvez fruto de décadas de repressão, essa liberdade de imprensa acabou por descambar, de certa forma, chegando-se ao ponto em que qualquer jornalista emite opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, muitas vezes realizando análises duvidosas, sem esquecer ainda as imensas falhas na oralidade e escrita que todos os dias se verificam nos diversos meios de comunicação social.

De qualquer das formas Portugal está de parabéns pela excelente classificação neste índice.

publicado às 14:40

Brincando com o fogo

por Samuel de Paiva Pires, em 17.10.07
Não é sem alguma apreensão que assisto às acções e tomadas de posição de uma administração norte-americana em declínio.

Bush preocupa-se com a ameaça de Ahmadinejad de destruição de Israel e com o desenvolvimento de armas nucleares por parte do regime de Teerão, enquanto Putin afirma que a Rússia não tolerará qualquer tipo de acção militar contra o Irão, declarando que acredita que o programa nuclear do Irão tem apenas fins pacíficos como a utilização de energia nuclear.

É interessante analisar as declarações de Bush: "So I've told people that, if you're interested in avoiding World War III, it seems like you ought to be interested in preventing them from having the knowledge necessary to make a nuclear weapon."

Vêm-me à memória as tomadas de posição que precederam a I Guerra Mundial, quando governos e líderes de cada país interiorizaram cognitivamente que não iam entrar em Guerra porque assim o desejavam, mas sim porque o "outro" não lhe deixava qualquer outra alternativa, desta forma legitimando a sua acção, da qual não teria culpa.

Simultaneamente Bush adverte que a Coreia do Norte poderá enfrentar consequências se não cumprir os compromissos de desmantelamento do seu programa nuclear, e afirma que não é do melhor interesse da Turquia prosseguir com o recém aprovado envio de tropas para o norte do Iraque, com vista a desmantelar a guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Como se não bastasse, Bush ainda desafia Pequim recebendo o Dalai Lama e concedendo-lhe a mais alta condecoração civil dos Estados Unidos, a Medalha de Ouro do Congresso.

Pergunto-me se pairará um sentimento de invulnerabilidade pela Casa Branca ou se serão estes espasmos de uma administração a caminho do fim.

De qualquer das formas, é cada vez mais frequente a referência a um futuro conflito de grandes proporções, não restando muitas dúvidas que a região do Médio-oriente e Ásia Central será inicialmente o teatro de operações que concentrará mais atenções.

À medida que avançamos no tempo, com gerações de decisores que se vão esquecendo dos efeitos de uma guerra, mais facilmente se recorrerá a essa instituição geralmente utilizada para corrigir o equilíbrio do sistema internacional.

E ainda vêm idealistas e construtivistas dizer que com a ONU se caminha cada vez mais para um sistema-mundo com um Estado ou entidade supranacional que condiciona a acção de todos os actores.

Ainda que desde a queda do muro de Berlim a agenda internacional se tenha multiplicado em diversas issue areas que se colocam ao mesmo nível de questões de segurança e defesa, serão necessárias mais evidências de que a balança de poderes e a power politics continuam a ser os elementos mais determinantes da política externa dos Estados?

publicado às 20:25

Dois projectos políticos para Portugal

por Samuel de Paiva Pires, em 16.10.07
Posto que já desenvolvi em dois posts anteriores as minhas perspectivas do que poderiam ser dois projectos passíveis de melhorar o estado da polis portuguesa e desenvolvê-la no sentido da prossecução de um ideal sentido de Nação e de Estado, desta forma os resumo neste post.

Na minha opinião, através do recuperar da instituição monárquica ou da implementação de um sistema federal poder-se-ia permitir a Portugal desenvolver todo o seu potencial em termos económicos, sociais e educacionais.

Um ponto é comum a ambos os projectos, sendo até bastante mais fácil de implementar no actual estado da arte do Estado português: uma segunda câmara no parlamento.

No caso de uma federação essa segunda câmara seria composta por Senadores eleitos, representantes de cada estado federado e teria uma natureza legislativa e vinculativa com competências bem definidas e diferenciadas da Câmara dos Deputados.

Por outro lado, numa monarquia constitucional, de forma semelhante ao sistema britânico, a segunda câmara teria um carácter consultivo, constituída em comissões especializadas que emitiriam pareceres sobre as leis que emanam da câmara baixa. Não tendo um poder executivo e vinculativo, já que é o Rei/Rainha que tem o poder de vetar e/ou promulgar as leis, a Câmara dos Lordes não deixa de ter um poder influencial, até porque no Reino Unido os pareceres são divulgados pela comunicação social, com as devidas reacções por parte da opinião pública, pelo que os pareceres são geralmente tidos em consideração pela Câmara dos Comuns. Obviamente, os Lordes seriam personalidades de reconhecido mérito, cuja contribuição para a sociedade e dedicação à causa pública sejam passíveis de constituir a sua nomeação pelo Rei/Rainha.

Poder-se-á ainda arguir pelo cruzamento entre os dois, algo como uma monarquia constitucional e federada, em que a natureza da segunda câmara seria algo a discutir, e sobre o qual não me quero debruçar agora, até porque ao longo da última semana, enquanto pensava nisto, não consegui encontrar uma saída para o dilema de ter que representar equitativamente os estados federados, mas ter também que instituir uma câmara dos Lordes que garanta a prática do poder fiscalizador da instituição monárquica.

Tal como referi, seria mais fácil implementar uma segunda câmara no actual parlamento, cuja natureza deveria ser discutida pela sociedade. Seria pelo menos uma tentativa de minorar o estado da democracia portuguesa extremamente polarizada em torno de interesses partidários, e não dos interesses da Nação e de um verdadeiro sentido de Estado.

publicado às 22:27

Uma Federação e segunda câmara para Portugal?

por Samuel de Paiva Pires, em 15.10.07
Após ter reclamado a recuperação da instituição monárquica decidi reflectir sobre um outro tipo de projecto político, confesso, não sem alguma inquietação perpassando a minha mente, como poderão perceber.

Erroneamente, de uma forma um pouco subconsciente, costumava pensar que um sistema federal apenas seria viável em países constituídos por um imenso território, como é o caso dos Estados Unidos da América ou do Brasil. Isto porque nunca antes debrucei o meu pensamento sobre o sistema federal, talvez devido a uma habitual centralização sobre o redutor sistema político português.

O critério do território certamente não é passível de sustentação de um projecto político de federação, de que é exemplo a Confederação Helvética que, politologicamente é uma federação.

Através de um projecto de federação para Portugal seria necessário criar estados autónomos com um governo e parlamento com esferas de poder e competência específicas, efectivamente descentralizando o Estado, algo de que alguns vão timidamente falando, apesar do silêncio que permanece sobre o assunto da descentralização desde que se mandou a Secretaria de Estado da Agricultura para a Golegã, o que constituiu apenas um movimento de deslocalização, fracassado por razões óbvias.

A nível do governo central, seria necessário criar uma segunda câmara no parlamento, voltando a utilizar-se a Sala do Senado (onde figura uma bonita tela de D. Luís), o que implicaria uma revisão constitucional que especificasse as atribuições e competências da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Senadores (representantes dos estados federados, em número igual por estado), tornando o sistema bastante semelhante ao sistema norte-americano.


Assim se criaria um contra-poder que, se não acabaria, pelo menos atenuaria a ditadura da maioria vigente nas legislaturas mais recentes, decorrente das maiorias absolutas que os líderes partidários têm o displante de pedir em período de campanha eleitoral, o que faz com que os cidadãos se conformem com a realidade de a democracia portuguesa ser de facto uma oligarquia de interesses egoístas e personalidades que não se preocupam com os verdadeiros desígnios da Nação e do Estado.

Desta forma se alcançaria um Estado descentralizado através do que Tocqueville ensina, conferindo "uma vida política a cada porção de território, a fim de multiplicar até ao infinito as oportunidades de os cidadãos agirem em conjunto e lhes fazer sentir diariamente que dependem uns dos outros", o que diminuiria a típica assimetria entre o Portugal rural e urbano.

Com este projecto se recuperaria o conceito dos corpos intermédios que diminuem a perigosidade do Estado para a liberdade do homem e do cidadão, acautelando e aconselhando o poder vigente.

Acabar-se-ia finalmente com os Governos Civis, que têm apenas atribuições como emitir Passaportes (pelo menos o de Lisboa) e perdoar multas de trânsito, entre outras que não representam uma considerável regulação da vida social, e através deste sistema talvez o desenvolvimento económico e social do país pudesse levar-nos a um lugar mais elevado nos índices da União Europeia e da OCDE, em vez de continuarmos a disputar um “honroso” último lugar com a Grécia (na UE a 15).

Pergunto-me no entanto qual a viabilidade deste projecto e o que poderá representar, já que poderá assustar os interesses vigentes, porque os ameaça, porque é uma revolução do Estado feita pelo Estado dentro do Estado, em que não se muda de regime, mas de forma mais importante, se muda de sistema.

publicado às 13:13

Não sei se ria, não sei se chore

por Samuel de Paiva Pires, em 11.10.07
Não é porque Menezes ganhe as eleições do PSD, porque Santana Lopes eventualmente assuma a liderança da bancada parlamentar do PSD, ou porque o PS não queira discutir o assunto da corrupção que sabemos que a política em Portugal está a chegar a um estado ridículo. É sobejamente reconhecido por todos que a democracia portuguesa se expressa numa alternância entre os partidos siameses do centrão, protagonizada pelas pseudo-elites desta república à beira-mar plantada.

Com este sistema já todos estamos conformados, até porque decorre da estabilização de uma linha de pensamento caracterizada como ocidental, ou de forma mais restrita, europeísta, que marca a estabilidade política que vai permitindo um certo crescimento e desenvolvimento económico-social, não só do país, mas da União Europeia.

Mas quando, depois da badalada questão da DREN, agentes da PSP se portam como a orwelliana polícia do pensamento, Rodrigues dos Santos se vê envolvido numa guerra com a RTP pelas suas acusações de interferência da administração da empresa pública em matéria editorial (obviamente que há uma evidente conotação e influência político-ideológica, que decorre da tempóraria representatividade partidária na liderança do aparelho estatal, de forma mais directa ou indirecta, por vezes até imperceptível), e na mesma semana vemos supostos comunistas a protestarem contra a acção da PSP e contra o governo, e o PNR colocar um cartaz onde clama pela liberdade dos nacionalistas, não sei se ria, não sei se chore.

É irónico e hilariante ver comunistas e nacionalistas de extrema-direita a protestar contra um suposto centro-esquerda, que eventualmente até poderia ser o centro-direita, reclamando por liberdade.

Pergunto-me se o obscurantismo que se tem feito em torno do regime do Estado-novo não servirá para legitimar um regime que tem evidentes falhas democráticas que apenas pontualmente se manifestam e imediatamente são reprimidas.

Autoritarismo, totalitarismo ou nacionalismo não são conceitos de direita. São tanto de direita quanto de esquerda, como ensina Hannah Arendt.

Parece que afinal há um Salazar dentro de cada um de nós, que se manifesta quando os outros se opõem à corrente de pensamento maioritária e supostamente única.

Já não sei que diga...só sei que nada sei...não sei se ria, não sei se chore...

(em cima, "O Grito", famoso quadro do pintor norueguês Edvard Munch)

publicado às 23:01

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