Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Carnaval a sério

por Samuel de Paiva Pires, em 06.02.08
Mas a quem é que lhe apetece celebrar o Carnaval com frio e chuva? Só neste país de doidos onde fomos copiar os nossos modelos de desfiles carnavalescos ao Brasil...muito mal copiados, diga-se de passagem.

Para terem um cheirinho daquilo que vi no que os brasileiros chamam Carnaval fora de horas ou de época, aqui ficam uns vídeos de Monobloco, um dos grupos de samba mais famosos do Brasil, que fazem medleys de originais de Tim Maia, Beth Carvalho, Jorge Ben-jor, Jorge Aragão, Martinho da Vila, entre outros clássicos da Música Popular Brasileira (MPB).



Coisinha do Pai e Vou Festejar



Do Leme ao Pontal e Descobridor dos Sete Mares



Taj Mahal, Filho Maravilha e País Tropical

publicado às 00:24

Que pena que eu tenho...

por Samuel de Paiva Pires, em 05.02.08
...de não estar agora no Brasil...Para compensar o facto de já não estar lá tenho passado os dias a ouvir um grupo que vi ao vivo em Brasília, Monobloco. Mas o que queria mesmo era estar em pleno sambódromo do Rio de Janeiro...

publicado às 23:48

Último reduto contra a vergonha nacional

por Samuel de Paiva Pires, em 05.02.08
Procurei o artigo do General Garcia Leandro no Expresso, porém encontrei-o apenas num post do Professor Maltez, que aqui reproduzo na íntegra. Neste fica demonstrado como as Forças Armadas continuam a ser o último reduto contra a vergonha nacional, precisamente de acordo com o que o Miguel Castello-Branco dizia há dias.

Três exemplos: o golpe de 28 de Maio de 1926, o 25 de Abril e, no Brasil, o golpe de 1964 que elevou Castello Branco ao poder, com a vontade de livrar o país da corrupção e vergonha internacional pela elevadíssima dívida externa decorrente da governação de Kubitschek, agravada com Jânio Quadros e João Goulart. No último caso, seria Geisel a preparar a transição democrática de forma "lenta, gradual e segura", que se processaria ao longo dos anos 80.

Sem mais demoras, aqui fica:

"O modo como se tem desenvolvido a vida das grandes empresas, nomeadamente da banca e dos seguros, envolvendo BCP e Banco de Portugal, incluindo as remunerações dos seus administradores e respectivas mordomias, transformou-se num escândalo nacional, criando a repulsa generalizada.

É consensual que o país precisa de grandes reformas e tal esforço deve ser reconhecido a este Governo (mesmo com os erros e exageros que têm acontecido).

Alguém tinha de o fazer e este Governo arregaçou as mangas para algo que já deveria ter ocorrido há muito tempo. Mas não tocou nestes grandes beneficiários que envergonham a democracia, com a agravante de se pedirem sacrifícios à generalidade da população que já vive com muitas dificuldades.

O excesso de benefícios daqueles administradores já levou a que o próprio Presidente da República tivesse sentido a obrigação de intervir publicamente.

Mas tudo continua na mesma; a promiscuidade entre o poder político e o económico é um facto e feito com total despudor.

Uma recente sondagem Gallup a nível mundial, e também em Portugal, mostra a falta de confiança que existe nos responsáveis políticos deste regime.

Tenho 47 anos de serviço ao Estado, nas mais diferentes funções de grande responsabilidade, sei como se pode governar com sentido de serviço público, sem qualquer vantagem pessoal, e sei qual é a minha pensão de aposentação publicada em D.R.

Se sinto a revolta crescente daqueles que comigo contactam, eu próprio começo a sentir que a minha capacidade de resistência psicológica a tanta desvergonha, mantendo sempre uma posição institucional e de confiança no sistema que a III República instaurou, vai enfraquecendo todos os dias.

Já fui convidado para encabeçar um movimento de indignação contra este estado de coisas e tenho resistido.

Mas a explosão social está a chegar. Vão ocorrer movimentos de cidadãos que já não podem aguentar mais o que se passa.

É óbvio que não será pela acção militar que tal acontecerá, não só porque não resolveria o problema mas também porque o enquadramento da UE não o aceitaria; não haverá mais cardeais e generais para resolver este tipo de questões. Isso é um passado enterrado. Tem de ser o próprio sistema político e social a tomar as medidas correctivas para diminuir os crescentes focos de indignação e revolta.

Os sintomas são iguais aos que aconteceram no final da Monarquia e da I República, sendo bom que os responsáveis não olhem para o lado, já que, quando as grandes explosões sociais acontecem, ninguém sabe como acabam. E as más experiências de Portugal devem ser uma vacina para evitar erros semelhantes na actualidade.

É espantosa a reacção ofendida dos responsáveis políticos quando alguém denuncia a corrupção, sendo evidente que a falta de vergonha deve ser provada; e se olhassem para dentro dos partidos e começassem a fazer a separação entre o trigo e o joio? Seria um bom princípio!

Corrija-se o que está errado, as mordomias e as injustiças, e a tranquilidade voltará, porque o povo compreende os sacrifícios se forem distribuídos por todos.

(Artigo do semanário "Expresso", há pouco traduzido para televisão, numa entrevista dada à SIC; é evidente que o meu general não só está bem informado como também não costuma sofrer da solidão da revolta... )"

publicado às 14:51

Mamma mia

por Samuel de Paiva Pires, em 05.02.08
Nem todos se podem orgulhar de ter a mãe na blogosfera. E isto não são efeitos do choque tecnológico socratiano. Apenas do choque tecnológico que eu próprio tenho feito lá por casa. Assim continue a minha mãe a evoluir a par com as novas tecnologias.

Por enquanto lá vai desabafando o que vai na alma de alguém que viveu alguns anos naquele que é considerado neste momento o melhor país do mundo para se viver, a Islândia, e infelizmente acabou por regressar a este país, aquele por que todos nós temos esse amor-ódio tão característico da alma lusitana.

publicado às 04:29

A ler

por Samuel de Paiva Pires, em 04.02.08
Eis a república, de Jacinto Bettencourt, que nos revela esta passagem do Relatório da Comissão de Projectos para as Comemorações do Centenário da República:

«Reivindicando-se da trilogia revolucionária francesa da "Liberdade-Igualdade- Fraternidade" – que o constitucionalismo liberal monárquico tinha reduzido ao primeiro termo, numa versão puramente individualista, esquecendo a igualdade e a fraternidade –, o republicanismo histórico manteve desde o início uma clara pulsão democrática e social, num duplo sentido, a saber, na promoção do associativismo e na defesa de direitos sociais básicos dos trabalhadores. Por isso, o republicanismo só se alcança na base das suas relações com o liberalismo, com a democracia e com o socialismo.»

É este tipo de confusões entre conceitos que não estão relacionados que levam a maioria dos portugueses a acreditar nas mentiras desta gente deste regime. E depois na Assembleia da República vêm PS, PCP e BE dizer que não se pode fazer juízos históricos nem ter versões oficiais sobre a História. Incongruências de quem não tem coerência...

publicado às 14:53

Projectos Sócrates e Ataques do Público

por Samuel de Paiva Pires, em 04.02.08
Sobre este assunto não me apetece dizer nada muito extenso, notando apenas a falta de gosto de Sócrates ou dos donos das casas projectadas, e a vitimização de Sócrates perante o suposto ataque do Público, ridícula para alguém que está tão habituado a responder a perguntas na AR com ataques pessoais, questão entretanto já "devidamente esclarecida" por um daqueles pareceres jurídicos doutrinários encomendados, ou segundo dizem, parece que este não foi encomendado, resultando apenas da livre e espontânea vontade do Professor Catedrático Paulo Otero.

Não posso no entanto deixar de sugerir os excelentes posts do Francisco José Viegas: Informação & Conspiração 1 e 2, que acertam sem dúvida na mouche.

publicado às 04:40

Centenário do Regicídio

por Samuel de Paiva Pires, em 03.02.08
Desta feita a cooperação estratégica entre a Presidência da República e o governo não se fez sentir como em diversas outras ocasiões, em que Cavaco Silva tem sido o melhor amigo de Sócrates.

Outra situação semelhante de que me recordo diz respeito à visita de Chávez ao Primeiro-ministro, aquando da qual Cavaco Silva se excusou a alterar a sua agenda para receber o Presidente venezuelano.

Cavaco esteve na inauguração de uma estátua de D. Carlos em Cascais, proferindo um discurso digno do mais elevado sentido de Estado.

Por outro lado, o Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, não autorizou a presença do Exército nas comemorações do centenário do regicídio, reafirmando "a necessidade de as Forças Armadas manterem um "critério rigoroso", distinguindo actividades a que se podem associar (de natureza histórica, científica e cultural) das que lhes estão constitucionalmente vedadas, nomeadamente as que possam revestir natureza política."

Sendo de uma hipocrisia que o Ministro nem se prestou a tentar disfarçar, o General Garcia Leandro criticou esta decisão pela sua incoerência afirmando que "É uma tomada de decisão sem sentido de Estado", continuou Garcia Leandro, observando que o próprio Chefe do Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas participou ontem - com o Chefe do Estado-Maior da Armada - na inauguração de uma estátua a D. Carlos (ver texto ao lado). "Sou republicano mas tenho uma história e uma pátria", frisou o general."

Com a habitual desfaçatez, Fernando Rosas, dirigente do BE que esteve na origem do despacho de "esclarecimento" de Nuno Severiano Teixeira, disse ao DN que "o Presidente da República não deveria ter participado" na cerimónia de Cascais, desde logo por integrar uma comemoração "marcada por uma agenda política e ideológica" da comissão organizadora das cerimónias do regicídio que é contrária ao republicanismo.

Portanto por esta lógica, as Forças Armadas não poderão participar em qualquer evento marcado por uma agenda política e ideológica, como o seja a comemoração do 25 de Abril, ou ainda, a comemoração do centenário da implantação da República não é? Cá estaremos para ver, em 2010, esta lógica a ser contrariada pelos mesmos que agora se opõem à presença do Exército nas comemorações do regicídio.

Simultaneamente, a Assembleia da República rejeitou com os votos de PS, PCP e BE, um voto de pesar pela morte de D. Carlos, destacando-se as afirmações seguintes:

No período concedido aos grupos parlamentares para debater o voto de pesar, o líder da bancada socialista, Alberto Martins justificou o voto contra do PS, sublinhando que aprovar o documento seria dar «um voto contra a República».

«Não nos cabe a nós julgar as pessoas na história, fazer qualquer juízo moral sobre a história ou reescrever a história», disse Alberto Martins.

Pelo BE, o deputado Fernando Rosas recusou a possibilidade da Assembleia da ter uma «posição oficial sobre o Rei D. Carlos ou sobre o Regicídio».

«Aprovar este voto seria vincular a Assembleia da República, fazer com que os órgãos do Estado tenham uma visão oficial sobre a história», declarou o deputado do BE.

António Filipe, pelo PCP, rejeitou igualmente a hipótese dos comunistas se associarem ao voto de pesar apresentado pelo deputado do PPM Pignatelli Queiroz, que integra o grupo parlamentar do PSD, recusando qualquer «tentativa de reescrever a história» ou de «ajustar contas com o passado».

«Os factos históricos não podem ser objecto de julgamento político, que um século depois não faz qualquer sentido», acrescentou.

Tal como referi acima, tudo isto só conta para o regicídio, pois quanto à implantação da república estes arautos e falsos moralistas já mudam completamente de opinião. A História enquanto disciplina académica não é neutra, tal como a maioria das ciências sociais, tem sempre um pendor de subjectividade decorrente dos pontos de vista dos investigadores e historiadores. Para partidos que têm tentado reescrever a História até chegando a dizer que não houve Invasão do Afeganistão por parte da URSS (PCP), ou que se têm esforçado nos últimos 30 anos por mascarar e enevoar o Estado-novo através de uma deliberada propaganda (PS,PCP), de facto têm uma moralidade do...para vir dizer isto.

Esta gente sabe isto. Eles sabem bem o que fazem. Infelizmente conseguem tapar os olhos a muito gente, para gaúdio das suas inteligências menores e pequenezas mentais.

Parece-me que se Rousseau vivesse hoje neste país, mudaria de opinião quando diz (e atenção que Rousseau referia-se a monarquias absolutistas, não às monarquias liberais que se tornaram a regra), no Contrato Social que:

Há um defeito essencial e inevitável, que fará que o governo monárquico seja sempre inferior ao republicano - é que neste, quase sempre a voz pública eleva aos primeiros lugares homens esclarecidos e capazes, que os ocupam com honra, ao passo que aqueles que os ocupam nas monarquias não passam a maior parte das vezes de insignificantes perturbadores, ratoneiros e intriguistas, cujas habilidadezinhas que lhes permitem nas cortes chegar a ocupar grandes lugares servem apenas para mostrar ao povo a sua inépcia logo que conseguem ocupar esses lugares. O povo engana-se bastante menos na sua escolha do que o príncipe, e um homem de verdadeiro mérito é quase tão raro num ministério quanto um parvo o é à cabeça de um governo republicano.

Basta trocar onde diz monarquia por república, ou monárquico por republicano, e eis que temos um excelente diagnóstico do que se passa hoje em Portugal.

publicado às 17:47

Da igualdade que os republicanos advogam contra a Monarquia

por Samuel de Paiva Pires, em 03.02.08
Após o luto, algumas considerações sobre o centenário do regicídio.

Na blogosfera, noto 3 posts de dois dos melhores bloggers portugueses, Pedro Picoito e Miguel Castelo-Branco. Quanto ao primeiro, Os vermelho-amélias, sobre os esquerdalhóides piolhosos que tentaram impedir as comemorações dos monárquicos. Do segundo, A máquina do esquecimento em si e O reviralho que não desprega.

Quanto ao que se passou na Assembleia da República enquanto o Presidente da República inaugurava uma estátua de D. Carlos em Cascais, falarei num outro post.

De resto, depois de no blog do Daniel Oliveira ter colocado um breve comentário, desisti de tentar explicar certas e determinadas coisas. Ser republicano hoje em dia é ser anti-monárquico, recorrendo aos mais pérfidos argumentos como o afirmar que a monarquia promove a desigualdade entre as pessoas, enquanto apenas a república pode promover a igualdade. Mais do que intelectualmente desonesto, é uma incorrecção do ponto de vista filosófico à luz do liberalismo que preside ao actual conceito de monarquia, para além de incoerente quanto ao que se nos apresenta sob o conceito de sociedade.

Para além do mais, será que quem se proclama como republicano hoje em dia acredita realmente nesse argumento? E já agora, do que estamos a falar quando falamos de igualdade? De igualdade perante a lei? De igualdade perante Deus? De igualdade perante a sociedade? De igualdade entre os membros de uma determinada comunidade ou sociedade? De igualdade de riqueza? De igualdade perante o Estado?

Pois é, as pessoas gostam muito de debitar uns argumentos clichés mas esquecem-se que esses não vêm do ar. Esquecem-se que em nome do rigor académico, os conceitos têm que ser operacionalizados e discutidos.

O conceito de igualdade de que os ditos republicanos hoje em dia se socorrem está intrinsecamente ligado à base teórica da Revolução Francesa, ou seja, a Jean-Jacques Rousseau. Para os que não me conhecem, desde já adverto que Rousseau é dos autores da teoria e filosofia política que, dito de uma forma simpática, menos me atrai, não sendo no entanto por isso que deixo de o ler e utilizar conceitos por si formulados. Isto é algo que os ditos republicanos raramente se mostram capazes de fazer, i.e., reconhecer mérito naquilo de que discordam. Eu, sendo convictamente monárquico, não deixo de me sentir republicano, reconhecendo o que este tipo de regime trás de positivo, embora continue com o ideal de juntar o melhor dos dois tipos de regime, na acepção de Políbio e Cícero de que os melhores regimes são os regimes mistos.

Bom, para começo de conversa, Rousseau na sua obra mais conhecida, o Contrato Social, formulou uma ideal tendência com vista a uma progressiva igualdade entre os homens que saem do estado de natureza e se associam através de um pacto, formando uma sociedade. No entanto ele próprio começou por estatuir nessa obra o seguinte:

A família é portanto se o quisermos, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o povo é a imagem dos filhos, e, porque todos nasceram iguais e livres, só alienam a sua liberdade para benefício próprio. A diferença está em que , na família, o amor do pai pelos filhos recompensa-o dos cuidados que lhes presta e, no Estado, o prazer de mandar toma o lugar desse amor que o chefe não tem pelo seu povo.

Assim como os pastores são de natureza superior à dos seus rebanhos, assim também os pastores dos homens, ou sejam, os seus chefes, são de natureza superior à dos seus rebanhos. Raciocinava assim, no testemunho de Fílon, o imperador Calígula; concluindo com justeza desta analogia que os reis eram deuses, ou então que os povos eram animais.
O pensamento deste Calígula reconduz-nos ao de Hobbes e de Grócio. Já Aristóteles, muito antes deles, havia dito também que os homens não são naturalmente iguais, nascendo uns para a escravatura e uns para a dominação.

Relembro ainda que mesmo Platão desconfiava da ideia de igualdade como presidindo ao funcionamento de uma sociedade, de que é exemplificativa a ideia da distinção entre almas de bronze (artesãos), prata (guerreiros), e ouro (magistrados), sendo os magistrados recrutados de entre os melhores guerreiros, bem de acordo com o ideal de vida Espartano.

Prosseguindo, na sua obra, discorrendo sobre a democracia, revela que:

A tomar o termo no rigor da acepção, nunca existiu verdadeira democracia, e nunca existirá. É contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado.

Além disso, quantas coisas difíceis de reunir não supõe este governo? Em primeiro lugar, um Estado muito pequeno em que o povo seja fácil de reunir e em que cada cidadão possa facilmente conhecer todos os outros; em segundo lugar, uma grande simplicidade de costumes que previna a multiplicidade de assuntos e as discussões espinhosas; em seguida, muita igualdade nas categorias e nas fortunas, sem o que a igualdade não poderia subsistir muito tempo nos direitos e autoridade; finalmente, pouco ou nenhum luxo, pois o luxo é o efeito das riquezas ou torna-as necessárias; corrompe ao mesmo tempo o rico e o pobre, um pela posse, outro pela cobiça, vende a pátria à inércia, à vaidade; tira ao Estado todos os seus cidadãos para os sujeitar uns aos outros e todos à opinião.

Ora daqui temos portanto que sem igualdade nas categorias e fortunas, a igualdade nos direitos e autoridade não poderia consagrar-se intemporalmente, que é precisamente o que se passa na nossa sociedade, em que, consequentemente, o luxo enquanto efeito das riquezas corrompe-nos a todos, e portanto, não será difícil para o mais obtuso retirar daqui as devidas ilações: a nossa sociedade não é uma sociedade de iguais, sendo que governantes e governados não são iguais perante a lei e o Estado, há uma série de caminhos em curvas e contracurvas que uns mais espertos do que outros, ou seja, mais ou menos próximos do poder, conseguem percorrer para realizar os seus intentos, desprezando os outros que não lhe são nada, estando muitas vezes o conceito de corrupção associado a esses caminhos, nesse constante verificar da inconformidade do dever ser perante o ser, em que a Constituição da República Portuguesa estatui no Art.º 13 que todos somos iguais e não podemos ser diferenciados, para o bem ou para o mal, mas em que na realidade a uma dada altura sem nos apercebermos, um qualquer porco Napoleão substituiu esse Art.º por um Mandamento na sua quinta dos animais, passando a vigorar que "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros".

Assim poderíamos observar como sociedades realmente baseadas na igualdade apenas dois tipos: a sociedade comunista, que todos sabemos no que deu, e as sociedades primitivas. Porém, na sociedade comunista nem todos são verdadeiramente iguais, governantes e governados são claramente distintos, e mais do que a economia centralmente dirigida, do ponto de vista da teoria política, é precisamente essa uma das principais causas da sua queda, o acomodar e ilusão de detenção do poder por parte dos governantes, o tal amor que um chefe não tem pelo seu povo. E, feliz ou infelizmente, nem mesmo nas sociedade primitivas há verdadeira igualdade, pois sendo sociedades, implicam uma diferenciação entre os homens. Desta forma, em última instância, a verdadeira igualdade entre os homens só se verifica num estado de natureza, em que reina a lei do mais forte. O conceito de sociedade é portanto incompatível com o conceito de igualdade, na medida em que a sociedade implica competição e essa competição fomenta o desenvolvimento da desigualdade.

E agora poderão os ditos republicanos arguir que estou completamente enganado quanto ao que afirmo no parágrafo anterior. Porém, também Rousseau elaborou um pequeno discurso bastante interessante, que muitos desconhecem, precisamente intitulado "Discurso sobre a origem e fundamentos da desigualdade entre os Homens".

Nesta pequena obra, escrita 8 anos antes do Contrato Social, a propósito de um concurso lançado pela Academia de Dijon, Rousseau já afirmava que:

Depois de ter provado que a desigualdade é pouco sensível no estado de natureza e que aí a sua influência é quase nula, resta-me mostrar a sua origem e os seus progressos nos desenvolvimentos sucessivos do espírito humano.

Prosseguindo com um discurso sobre a evolução das sociedades baseado no argumento da divisão do trabalho:

Estando as coisas desta maneira, teriam podido permanecer iguais, se os talentos fossem iguais e o emprego, por exemplo, do ferro e o consumo dos géneros tivessem constituído sempre uma balança equilibrada; mas o equilíbrio, que nada obrigava a manter, bem cedo se perdeu; o mais forte fazia mais trabalho; o mais habilidoso tirava melhor partido do seu; o mais engenhoso encontrava meios de tornar o seu mais fácil; o trabalhador tinha mais necessidade de ferro ou o ferreiro mais necessidade de trigo e, trabalhando os dois igualmente, um ganhava muito, enquanto o outro tinha dificuldades em viver. É deste modo que a desigualdade natural se desenvolve insensivelmente em ligação com o que acabamos de expor e que as diferenças dos homens, desenvolvidas pelas diferenças de circunstâncias, se tornam mais sensíveis, mais permanentes nos seus efeitos, começando a influir na mesma proporção sobre a sorte dos indíviduos.

E conclui que:

Procurei expor a origem e o progresso da desigualdade, o estabelecimento e o abuso das sociedades políticas, tanto quanto estas coisas se conseguem deduzir da natureza do homem somente pelas luzes da razão e independentemente dos dogmas sagrados que dão à autoridade soberana a sanção do direito divino. Segue-se desta exposição que a desigualdade sendo quase nula no estado de natureza, vai buscar a sua força e o seu aumento ao desenvolvimento das nossas faculdades e ao progresso do espírito humano e torna-se por fim estável e legítima através do estabelecimento da propriedade e das leis.

Bom, como este post já vai longo, e as horas já vão altas, só para concluir, a igualdade apenas existe em anarquia, num regime de estado de natureza em que vigora a lei do mais forte. Tal como costumo dizer, a monarquia tem tanto a ver com o conceito de igualdade quanto a república.

Portanto, esquerdalhada, quo vadis igualdade?

publicado às 02:09

Como lidar com os lobbies (2)

por Samuel de Paiva Pires, em 03.02.08
O Estado Sentido esteve presente neste debate organizado pelo Psicolaranja com o apoio do Corta-Fitas. Eu, o Paulo e o Jorge Girão lá estivemos a assistir a um debate que, tal como refere o João Villalobos, que resumiu o essencial, pouco ou nada teve a ver com a questão de lidar com os lobbies.

Penso que talvez se não fosse aquele sistema de perguntas através de um formulário que era feito chegar à mesa pudesse ter-se redireccionado o debate para algo mais do que uns galhardetes entre Pacheco Pereira e Paixão Martins, que, ainda assim, não deixaram de ter piada e tornaram a noite bastante agradável.

Claro que percebo que não se podem fazer perguntas "incómodas", ainda para mais com tantos jornalistas na sala e com transmissão em directo, o que afecta de sobremaneira Paixão Martins pois nunca se sabe se clientes ou potenciais clientes estarão a ouvir ou até na sala.

Parabéns aos que organizaram este evento e que continuem a realizar debates de tal ou superior gabarito!

publicado às 00:23

De luto

por Samuel de Paiva Pires, em 01.02.08
Este blog está de luto em memória de D. Carlos e do Príncipe Real D. Luís Filipe, brutalmente assassinados há precisamente 100 anos, no Terreiro do Paço.

publicado às 02:40

Pág. 8/8







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas


    subscrever feeds