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Paganismo

por Manuel Pinto de Rezende, em 31.12.09

Depois do Feriado Cristão, o Feriado Pagão.

 

Objectivos para a festa orgíaca de logo à noite:

1- Queimar todos os livros de Direito e legislação (CP, CRP, CPA, CC, TL, CPP, CT, LGT, etc.) numa enorme fogueira ao ar livre. 40 virgens, raparigas e rapazes, a dançar à volta da mesma fogueira.

 

2- Sacrificar uma plebeia aos deuses da floresta - Toutatis, Belenos, Endovélico, Baco, Hulk, Ernesto Farias e Pablo Aimar.

 

3- Ler Sade em voz alta, beber hidromel, fumar tabaco caro no meu cachimbo. Lembrar de comprar um cachimbo.

 

4- Reconquistar Lisboa, ou a Tailândia.

 

5- Criar um país novo, chamado Manuelolândia. Ou Tailândia.

 

6- Comer sushi e beber sake até vomitar azul. Ler em voz alta todos os posts do Pasquim da Reacção até ao êxtase orgásmico.

 

7- Evelyn Waughn. Também não sei porquê..

 

8- Deitar cedinho, que amanhã há mais.

 

Feliz Ano Novo!

publicado às 14:22

Museu dos Coches: diga lá quando ?

por Nuno Castelo-Branco, em 31.12.09

 

 

Quem passe pela zona da fábrica da electricidade em Belém, depara com um grande estaleiro de demolições. No sítio, erguer-se-á o novo Museu dos Coches, projecto tão controverso quanto necessário, por várias razões.

 

Pode ser bastante discutível a construção de um imenso bloco de betão naquela zona. Isto, em detrimento do espaço já existente e susceptível de ser prolongado através de um túnel que ligaria o Picadeiro à nova zona hipoteticamente situada na Calçada da Ajuda, em instalações desactivadas e que têm pertencido às Forças Armadas. Esta era entre outras, uma das propostas aventadas. Contudo, há que fazer algo que corrija a actual situação de desleixo e pouco interesse estético do conjunto de carruagens  que se encontram amontoadas sem qualquer critério.

 

A colecção deve ter uma apresentação condigna, com espaço, luz, qualidade ambiental e oferecendo a possibilidade de visitas mais longas às exposições a realizar. Decerto contaremos com mais viaturas provenientes de Vila Viçosa e se existir algum bom senso, o Museu poderá alargar em muito, o âmbito das suas actividades.

 

O que parece inacreditável, é a pressa no anúncio da conclusão da obra a ser inaugurada dentro de dez meses. Será possível tal milagre? Num país onde a construção de um pequeno colector de rua demora anos a fio, como podem ousar prometer a abertura de portas do Museu dos Coches no próximo 5 de Outubro de 2010 ? É um autêntico jogo do risco a que a tutela se sujeita e veremos se esse afã construtor não implicará como é habitual, uma colossal derrapagem de custos que claro está, jamais serão adjudicados às comemorações da famigerada república. Se a isto acrescentarmos a homenagem da Câmara Municipal de Lisboa ao Buíça - as tais pretensas "cartas de marear" no Terreiro do Paço-, aí temos a mais reles provocação em todo o seu duvidoso esplendor.

 

Sabemos como as coisas funcionam. Engenheiros que se atrasam nos projectos, modificações de última hora na arquitectura, faltas na entrega de materiais, etc. Desta vez, será salutarmente desejável o catastrófico adiamento da conclusão das ditas obras, eximindo o próprio regime à vergonha do enaltecer da usurpação, subversão, assassínio e toda uma longa série de deboches aviltantes que o regime de 1910 significou. Para nem sequer falarmos da apropriação de símbolos que significam precisamente o oposto daquilo que querem comemorar, isto é, a consagração dos futuramente anónimos senhores deste preciso momento.

 

Estas fortes chuvadas com as consequentes enxurradas, são um excelente sinal dado pelo braço forte de uma Natureza que é mais sábia que uns tantos milhões de neurónios alojados aqui e ali nos cérebros dos decisores dos nossos destinos e carteiras.

 

Existem sérias dúvidas acerca da viabilidade da dita inauguração na data anunciada. Esta gente gosta de anunciar e principalmente, de inaugurar para telejornal ver. Talvez - e com muita sorte - lá consigam realizar uma cerimónia onde cheguem nos nossos Mercedes pretos a 150.000 Euros/unidade, com batedores da policia e banda da GNR. Um grande discurso acerca das novas iniciativas do progresso, uma fita verde e vermelha a ser cortada por um desconhecido de ocasião e aí, a oficial inauguração do futuro colector de esgotos do futuro edifício do remotamente futuro Museu dos Coches. Tal e qual como as famosas auto-estradas inauguradas a metro. Logo a seguir, um grandioso repasto a ser debitado nas despesas de representação do Estado.

 

O povo paga para no final da obra concluída e ao ler as brochuras referentes ao Museu dos Coches, ter a perfeita consciência do valor da colecção e principalmente, a quem ela se deve.

 

Logo à entrada, inevitavelmente estará o retrato da fundadora, benevolamente sorridente e grandiosa no seu majestático porte. Quem se lembrará então dos presidentezinhos disto e daquilo, de ministrozecos de caspenta barbicha, das pançonas de secretários de Estado ou dos opinionistas regimentais? 

 

A realizar-se pela multiplicação de esbulhos, derrapagens e todo o tipo de subsidiarismos do costume, a inauguração do Museu dos Coches "em 5 de outubro de 2010", será um violento e masoquista estaladão que a república desfere na própria fuça. Ficamos a rir.

publicado às 09:52

publicado às 02:56

Estava tudo pronto para os receber.

por Cristina Ribeiro, em 31.12.09

 

Não era a primeira vez que o genro vinha de Lisboa, com a sua filha, com quem casara havia já cinco anos, passar aquele dia e noite de 31 de Dezembro à aldeia trasmontana. Mas este ano a excitação era maior, porque com eles vinha o seu neto de três anos; decerto que nunca vira neve, e tudo estava tão lindo! Estava frio, mas toda a tarde do dia anterior o seu homem estivera a rachar canhotas para alimentar a lareira durante todo o dia e toda a noite. E já verificara um sem número de vezes se nada faltava para fazer daquela passagem de ano uma noite inesquecível, que não os fizesse arrepender de terem aceitado o convite.

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publicado às 01:57

Sobre a Nação e o Nacionalismo

por P.F., em 30.12.09

De modo genérico, revejo-me nas permissas do Nacionalismo, enquanto este compreende a Nação como uma entidade moral e intemporal. No seio desta entidade é suposto haver um colectivo com uma identidade própria, a qual é reconhecida e assumida pela maioria dos Portugueses. Revejo-me no Nacionalismo enquanto defesa dessa mesma identidade e dos valores e das instituições que lhes estão subjacentes.

 

Neste sentido, penso que o nacionalista deve repudiar a ingerência e a adopção de modelos e valores estranhos e estrangeiros – em especial quando estes nada de bom acrescentam e se revelam inadaptáveis à nossa cultura e tradição –, assim como outros que, tidos como valores e premissas nacionalistas vindos de outras paragens, na sua essência e na sua intenção representam a antítese daquilo que podemos definir como Portugalidade - isto é, conjunto de valores, tradições e características étnicas e culturais de Portugal. Neste conjunto de valores, tem sempre de se assumir, independentemente da crença ou descrença de cada um, a matriz cristã, católica que de modo indelével marcou e marca a entidade e a  identidade de que aqui se fala.

 

Existem princípios e objectivos de alguns nacionalismos cujos ecos cá chegam e acriticamente são, muitas vezes, adoptados. Alguns deles representam a mais pura antiportugalidade. É o caso do zelo pela supremacia e pela pureza rácica de uma suposta etnia nacional, que no nosso caso – pelo menos do ponto de vista biológico, genético e antropológico – definitivamente não existe. Já Herculano, seguido de Oliveira Martins e de Orlando Ribeiro desmistificaram fundamentadamente o mito da Lusitânia e dos Lusitanos. 

 

A abordagem dos problemas relacionados com a imigração merecem também uma análise crítica, tendo como ponto de reflexão aquilo de deve ser entendido como espaços e povos lusófonos e os próprios antecedentes históricos da diáspora portuguesa.

 

Por outro lado, a abordagem das questões relacionadas com a Globalização, seja ela cultural ou económica, estão longe de ser lineares para quem tem preocupações nacionalistas e identitárias. Pois a tradição deve ser estudada de modo a identificar aquilo que de externo ela própria contém. E daí concluir-se que a rejeição liminar e definitiva de tudo quanto vem de fora não apenas é contraproducente como vai contra a tradição nacional em si mesma.

 

No ponto de vista económico, creio que não é de todo em todo antinacionalista ter a noção dos inconvenientes e dos falhanços dos modelos proteccionistas, em especial os do tipo colbertista, não apenas em Portugal como por esse mundo fora. Contudo, rejeição mais veemente me merece um livre-cambismo desregulado e submetido a interesses estranhos à Nação.

 

Não creio o que escrevi atrás seja alguma forma de subjectivismo ou de relativismo. Também não é nenhum apelo à moderação e muito menos ao politicamente correcto, conceitos que a mim pouco dizem. Estou convicto de que para se defender Portugal, há que pensá-lo primeiro e conhecer aquilo que ele foi, é e poderá ser. Aquilo que é mito e aquilo que pura e simplesmente permanece. No entanto, estou consciente de que outros nacionalistas e não-nacionalistas podem fazê-lo muito melhor do que eu.

publicado às 18:23

Cavaco, Soares, Sampaio, Sócrates e etc

por Nuno Castelo-Branco, em 29.12.09

 

 O Partido Socialista declara estar o presidente Cavaco ao serviço da oposição.

 

Diz-se que em política ou história, a memória é curta. Durante anos a fio, o país soube e gozou com as quase públicas desavenças entre o 1º ministro Cavaco Silva e o presidente Soares. No seu segundo mandato, Mário Soares tornou-se no promotor da alternativa ao desgastado governo do PSD e as "presidências abertas" nada mais foram, senão uma clara demarcação de Belém em relação ao governo de maioria absoluta. Inventaram-se direitos à indignação, Soares falou "privadamente em público" - até alto e em bom som diante de quem o quis ouvir, em pleno restaurante Bel Canto (1992, eu próprio escutei as suas palavras) - e todos conheciam a profunda aversão mútua que se foi criando entre os dois homens. Mais tarde, quando Cavaco quis tornar-se presidente - a velha historieta do grão-vizir que se quer tornar califa no lugar do califa - e alijou o PSD como ..." esse partido"..., Sampaio surgiu na corrida a Belém e proporcionou-se ainda a alegria a Mário Soares, de "acabar o mandato dando posse a um governo socialista". Assim, sem qualquer tipo de equívocos. É esta a alegada presidência de todos os portugueses.

 

O sr. Sampaio desautorizou as forças de segurança e os militares, publicamente humilhando-as quando não devia nem podia. Durante anos foi uma espécie de Marechal Carmona do governo Guterres, sem que as más políticas, o despesismo e a incúria nos mais diversos sectores, o tivessem alguma vez distraído dos seus afazeres num qualquer campo de golfe. Quando o governo passou a ser de maioria absoluta PSD-CDS, a deslealdade foi nítida, total e nem sequer valerá a pena referir o triste episódio do governo Santana Lopes, onde a reserva mental e o serviço prestado a terceiros vieram a produzir efeitos devastadores para a credibilidade do próprio sistema constitucional.

 

Cavaco faz agora a vontade à oposição, como durante alguns anos estrategicamente aquiesceu a tudo aquilo a que o governo do PS quis implementar. Nesta fase de maioria relativa, o governo teria forçosamente de negociar e fazer aquilo que os seus congéneres europeus normalmente praticam. Encontrar o rumo que lhe permita a obtenção de aliados no Parlamento, mesmo que pontuais.

 

É cada vez mais disparatada, esta tendência para os intervenientes da política se distanciarem do seu próprio passado como agentes responsáveis. Mudando de posto, julgam poder eximir-se a qualquer tipo de escrutínio.

 

Existem dois interesses em colisão. Um, consiste na almejada reeleição presidencial - para quê? Com que fim? -, embora o cargo surja aos olhos de todos desprovido de importância substancial e como mera trincheira de resistência de sector e mesa de banquete de vaidades. O outro, conduz ao sonho da reedição da maioria absoluta, também não se compreendendo qual o propósito da mesma. Numa situação gravíssima, pareceria normal que o governo e o PS se interessassem na obtenção de uma ampla frente de consenso que permitisse as reformas necessárias e que o país aguarda com resignação. Uma vez mais, o interesse nacional não parece sobrepor-se às ambições de facção e o passado já nos ensinou sobejamente, qual o final reservado à cegueira perante evidências.

 

Belém e S. Bento, duas faces da mesma moeda cujo valor facial é hoje tanto, como a do desaparecido Escudo.

publicado às 13:40

O que há pouco ouvi na televisão, e o que agora leio neste artigo faz-me pensar que num certo país do Médio Oriente o rastilho já se acendeu: pedir o fim da república Islâmica, em manifestações cada vez mais corajosas e frontais. Isto só revela que as pessoas que vivem lá não são os teóricos politicamente correctos que enxameiam esta Europa que anda pelas ruas da amargura.

publicado às 00:34

Entrevista de Paulo Teixeira Pinto

por Nuno Castelo-Branco, em 28.12.09

 

 Preocupa-o este constante vazar de informações que estão em segredo de justiça?

Preocupa-me, como cidadão, a devassa da vida individual e que as instituições a tolerem.
Refere-se às instituições judiciárias?
As instituições públicas em geral.
É por essa razão que acredita na proclamação da monarquia?
Acredito que temos de fazer o melhor para que volte a acontecer a restauração da monarquia. Se me pergunta se vai acontecer ou para quando a prevejo, a isso não sei responder. A única coisa de que estou certo é que, quando for, será por via democrática e não revolucionária.
Ainda recentemente deu uma aula sobre o tema "Monarquia e república"...
Defendo sempre que a monarquia não é uma forma de governo, que o rei já é um governo porque a monarquia é uma forma de regime.
Isso leva-nos à situação política do início do mandato de Cavaco Silva, em que se achava que o Presidente só iria reinar…
Não se pode pôr isso dessa forma... Não quero comentar a actualidade e prefiro guardar a posição política para mim, sem misturar os planos.
... A situação política actual mostra que não é isso que se está a passar?
Portugal vive de acordo com um sistema semi-presidencial, o que significa que o Presidente não é uma figura meramente tutelar, mas que tem poder efectivo. Não sendo apenas o símbolo de representação da chefia do Estado - é mais que um símbolo titular do poder -, tem de o exercer. E, genericamente, devo dizer - sendo impossível concordar com todos - que, desde 1976, Portugal teve presidentes da República eleitos e que no geral todos representaram bem e dignificaram o Estado português.
Mas não estávamos acostumados a ver na praça pública conflitos como hoje em dia. Isso não… Mas não quero fazer comentários.
Façamo-lo de forma mais "real". Durante a monarquia, não existia um conflito tão grande entre o rei e o primeiro-ministro. Os reis, não é suposto terem juízos ou avaliações políticas. Os reis não são parte do sistema político porque estão por cima dos agentes políticos, daí não é suposto serem motivo de disputa ou protagonistas da dialéctica política.
(...) 
A sua actuação pública dos últimos meses tem sido muito vigorosa no campo monárquico. Ainda se justifica lutar para que o rei regresse ao poder em Portugal?
Eu faço-o, e todos aqueles que o fazem certamente têm a mesma posição. Não por uma questão de tradição ou de interesse - porque não há aqui conveniência alguma -, mas por uma questão de convicção. Nem por um juízo de probabilidade, por acharmos que é possível a curto prazo ou que vai ser provável, mas por nos mantermos fiéis ao princípio de convicção, que é aquilo que nos une. E não há que ter vergonha no facto de nos orgulharmos de defender uma instituição que foi representação do Estado português durante quase 800 anos.
Mesmo na véspera do ano em que se comemora o centenário da república?
Este próximo ano é especial para nós porque representa um estímulo adicional de firmação do legado português consubstanciado na instituição régia. Não estou a falar de nobreza, de aristocracia ou de outras figuras, mas apenas do rei e da sua vinculação ao povo. E cem anos de república, mesmo quando se oblitera uma II República, que retira a razão para falar em centenário, não creio que possam orgulhar especialmente Portugal. Não tenho uma visão dico- tómica, ou seja, que o período da república é mau e o da monarquia, positivo. Também houve muitas manchas negras na monarquia e muitas positivas na república. A afirmação da instituição real tem a ver com uma questão histórica e de Portugal ser uma construção real.
 
Leia mais  A Q U I 

publicado às 23:05

mas tenho andado a adiar o que agora já não posso protelar mais.

 

 

Refazendo o post: por manifesta falta de tempo, vou  deixar de postar com tanta assiduidade. Apenas ao fim-de-semana, em  que todos estamos mais livres.

publicado às 13:59

Dúvidas? Claro que sim, Manuel.

por Cristina Ribeiro, em 26.12.09

Antes do mais, desculpe-me por só agora comentar o seu post, mas estes dias têm sido a modos que loucos. Tenho vindo cá a correr deixar umas coisitas, e saio logo; por isso o não vi.

 

Dúvidas sobre  todo o ruído feito à volta do aquecimento global, porque para cada chamada de atenção para o dito, oiço outra a falar em dramatismo; parece que ninguém está apto para associar as diferenças climáticas, fenómeno natural ao longo dos tempos, à acção do homem - só depois, se se conseguir provar essa relação causa-efeito, poderemos falar de certezas.

 

Mas o Manuel toca noutro ponto, onde as dúvidas não existem: a do resultado do referendo na Suíça - aí continuo a fazer minha aquela máxima, de que falara já, de que "  na prática a teoria é outra ". Enquanto a ameaça, e sabemos que ela existe - ainda que não esteja presente em muitos dos muçulmanos-, estiver longe de nós, bem podemos cantar de galo ; não, não mudei de ideias nessa questão.

publicado às 19:14

Lei e Aristocracia

por Manuel Pinto de Rezende, em 26.12.09

Os Constitucionalistas discutiam, em tempos, sobre a legitimidade democrática do Tribunal Constitucional, visto que cada vez mais era óbvia a influência deste no quadro legal do País, através do chamado processo legislativo negativo (o TC, ao negar as propostas e os projectos-lei da Assembleia e dos Governos, legislava pela negativa, o que tem tanto impacto na sociedade como a feitura das leis).

 

Discutiam, calma. Discutem. Mas tudo como se fosse um grande problema, como se se devesse justificar que não existe tal coisa como legislar pela negativa, ou que é necessário um órgão jurídico-político que estivesse acima dos órgãos de soberania (democraticamente leitos, as ditas Câmaras Baixas) e sem poder de iniciativa.

 

Na minha opinião, sinceramente, não há razão para tanta celeuma.

As raízes históricas do Tribunal Constitucional não são democráticas - são Aristocráticas. Daí ser um órgão respeitável, em vez das Câmaras Baixas, onde se bate a populaça.

 

O Senado Romano era o Tribunal Constitucional de Roma. Os nobres patrícios romanos, detentores da auctoritas (não a autoridade política sobre outro ser humano, mas sim a autoridade do Costume, do respeito pela opinião dos mais velhos e dos mais sábios tendo em vista a paz social da Nação) eram a última autoridade a ser consultada no processo legal da Velha República Romana. E a sua opinião era vinculativa - por meios da mesma auctoritas.

 

Também o Areópago ateniense foi criado a partir das antigas elites locais para proteger as leis fundamentais, até que esse Deus Demos - esse modelo do Político - chamado Péricles lhe tomou o poder, denegriu a imagem e as capacidades, a ponto de Atenas não ter conseguido pôr-se de pé após a morte deste primeiro Médici.

 

A Câmara dos Lordes do Reino Unido, outra câmara aristocrática, é também, essencialmente, um órgão jurídico-político, mais um em Inglaterra além do Supreme Court, visando domar a diarreia legislativa da câmara democrática (missão esta que era partilhada pela Câmara dos Pares da Carta Constitucional, que foi desaparecendo, para mal do País, após as reformas que os Progressistas - democratas radicais- impuseram na dita Lei Fundamental).

 

Outra câmara de funções aristocráticas, elitistas e controladoras é o Senado americano. No entanto, há muito que o jogo partidário deformou as qualidades da Câmara dos Senadores Americanos.

 

Em Portugal, a nobreza controlava os devaneios centralizadores reais, pelo menos antes de este os profissionalizar no seu seio, e os Doutores eram comummente chamados a pronunciar-se sobre determinada questão, dando a sua opinião de acordo com as Leis do Reino e protegidos pela imunidade que era dada aos lentes.

 

Assim sendo, não é mau que um órgão meritocrático, aristocrático, elitista e culto presida a um Tribunal Supremo, de forma a tomar para si o encargo de proteger as Leis do país.

O problema é, somente, o Tribunal Constitucional não ser um órgão de mérito. É um clube de magistrados formados no CEJ (uuii, arrepios) com conexões políticas aos principais partidos (uuuiii, arrepios) que só estão ligados a uma cultura académica ligada aos interesses partidários deles e a uma cultura política em que já ninguém se revê , liderados por intelectuais que, ao que parece, não têm nem terão sucessor digno do seu nome de grandes constitucionalistas (J. Miranda e G. Canotilho). A juntar a este rol, as decisões cobardes - ver a famosa decisão Pôncio Pilatos, que não é a primeira - ou contraditórias.

 

A própria comunidade jurídica não se revê no TC. Porquê?

Porque a Lei Fundamental do País, e o seu corpo de guardiões, estão nas mãos da Democracia Representativa - os Partidos.

publicado às 17:01

 

Havia muito já que Luís se levantara. Casados há poucos meses, era a primeira vez que  passava o Natal na aldeia, lá no alto da serra.

Gostara de tudo.  Tão diferente do que estava habituada: a grande lareira acesa todo o dia, os preparativos para a ceia, a alegria à mesa tão grande...; mas mais do que tudo, aquela tradição de os aldeões irem, alumiado o caminho escuro por uma lanterna, de casa em casa chamar os vizinhos para a missa do galo.

Que fosse bem agasalhada : lá fora o vento cortava. Que bebesse um cálice de vinho do Porto, para aquecer...

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publicado às 21:28

 

 A gente da AEP - Associação Empresarial Portuguesa -, insurge-se contra o excessivo número de feriados e correspondentes pontes, propondo a simplificação do calendário. Como inadiável sugestão, aí está a abolição do feriado do 1º de Dezembro. 

 

Nada disto é por acaso ou por conveniência empresarial. Uma das interpretações a fazer, consiste numa tentativa de contornar o recentemente anunciado aumento do salário mínimo, compensando-se assim com a entrada de horas de trabalho extra. Pior, a AEP menciona claramente o factor político, tipificando como "caricata" a situação de empresas face à questão da integração económica ibérica. É a perfeita coordenação política e económica inter-fronteiriça que neste post mencionámos. Não nos admiraremos se surgir gente do poder, pronta para "estudar a questão".

publicado às 18:27

Quem é que disse isto ?

por Nuno Castelo-Branco, em 25.12.09

 

"A minha intuição dizia-me que uma atitude defensiva face aos obstáculos criados pela Assembleia da República não compensava. Procurava então contra-atacar e tornear as dificuldades criadas. Alertava o País e acusava a oposição de obstrução sistemática e de querer impedir o Governo de governar. A oposição, por seu lado, acusava o Governo de arrogância, de seguir a táctica de guerrilha com a Assembleia e de manipular a opinião pública contra ela. [...]


Face à acção dos partidos visando descaracterizar o orçamento [...], o Governo procurou dramatizar a situação, convicto de que isso jogava a seu favor. A seguir ao “Telejornal” do dia 8 de Abril fiz uma comunicação ao País através da televisão. Denunciei as alterações introduzidas na proposta do orçamento apresentado pelo Governo, as quais se traduziam em despesas públicas desnecessárias, aumento do consumo e benefícios para grupos que não eram os mais desfavorecidos da sociedade portuguesa. Procurei mostrar aos Portugueses como era errado e socialmente injusto forçar o Governo a decretar do preço da gasolina, uma clara interferência da Assembleia na área da competência do Executivo, que ainda nunca antes tinha sido feita. Para tornear as dificuldades criadas e para os que objectivos de progresso propostos pelo Governo pudessem ser ainda alcançados, anunciei na televisão um conjunto de medidas compensatórias visando, principalmente, contrariar o excesso de despesa e de consumo induzido pelas alterações feitas pela oposição. O meu objectivo, ao falar ao País sobre o orçamento, era também o de passar a mensagem de que o Governo atribuía grande importância ao rigor na gestão dos dinheiros públicos.

A mensagem de que a Assembleia obstruía sistematicamente a acção do Governo passou para a opinião pública. O Governo, sendo minoritário, surgia como a vítima e acumulava capital de queixa: queria resolver os problemas do País e a oposição não deixava. A oposição não percebeu que, tendo o Governo conseguido evidenciar uma forte dinâmica e eficácia na sua acção, a obstrução ao seu trabalho não a beneficiava. O PS revelava dificuldade em ultrapassar os ressentimentos pelo desaire sofrido nas eleições de Outubro de 1985 e o seu comportamento surgia-me como algo irracional. O Governo e o PSD procuravam tirar partido da situação e alertavam a opinião pública para as estranhas convergências entre o PS e o PCP na Assembleia da República.’
Aníbal Cavaco Silva, "Autobiografia Política. Vol. I" (Temas e Debates, 2002, pp.144-145)

 

 

publicado às 10:00

Feliz Natal

por Samuel de Paiva Pires, em 24.12.09

A toda a equipa do blog, aos leitores, comentadores, colegas e amigos, que tenham um Feliz Natal, e que o postal elaborado pelo Nuno sirva para vos animar nesta quadra!

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publicado às 18:14

O Bolo Cavaco Silva?

por Nuno Castelo-Branco, em 24.12.09

 

 Uma das curiosidades consequentes de qualquer golpe de Estado, consiste sempre na apressada mudança dos nomes, sejam estes os das ruas, avenidas, praças e até cidades, ou noutros casos, a alarvice chega mesmo à pastelaria.

Pois bem, em Portugal somos peritos neste tipo de actividade e aqui deixo alguns exemplos:

 

1. A Av. Rainha Dª Amélia passou a chamar-se Av. Almirante Reis, o tal senhor que apenas se notabilizou por desfechar um tiro na própria cabeça. Fez bem, coitado. Como teria passado os anos a seguir à vitória da Rotunda? Aliás, esteja onde estiver, a rainha agradece. A Almirante Reis é frequentada por uma certa calibragem que não é passível de se coadunar com o vestido de cauda de uma rainha. É a ironia da justiça deste mundo.

 

2. Uma localidade. Lembram-se de Poço de Boliqueime? Pois… Quando Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva ascendeu a 1º ministro – já foi, já foi e não vale a pena “fazer de conta” que não -, o autarca lá do sítio logo mudou o nome à terra, promovendo-a a Fonte de Boliqueime. Mas, o problema é que o cavalheiro agora é o Supremo Magistrado, o Venerando  Presidente da República! Então como é? Para o segundo mandato, há que adequar a vila à sua nova categoria, saltando de Fonte, para Termas de Boliqueime. No mínimo! Aqui fica a sugestão.

3. Agora vem um dos meus favoritos.
Quando o Afonso Costa concluiu que a coisa já estava feita e que o Directório do PRP não corria riscos de ir parar à fronteira, lá saiu, mais os amigos,  dos Banhos de S. Paulo, onde “faziam de conta”, despreocupadamente nuzinhos e de toalha enrolada à cintura. Não fosse a Guarda Municipal pensar que estavam envolvidos na tramóia. Enfim, começaram logo a mudar o nome às coisas, a começar pelas ruas, avenidas, praças e navios da Armada. Logo depois, pegaram na Portuguesa – o tal Hino que o Keil e o Mendonça dedicaram em 1891 a D. Carlos e a D. Miguel! – e impuseram-no como símbolo nacional. Tudo bem, é grandioso e bonito. Chegou a vez da Bandeira. Pronto, é difícil, medonha, mas podemos tentar compreender.
Mas…
Que coisa, chegarem ao ponto de decretar sobre o novo nome do Bolo de Natal?! Incrível? Não, é verdade.
Daquelas cabecinhas pensadoras, aventaram-se algumas hipóteses, entre as quais o nome Bolo da Família. Mas não, a coisa cheirava muito a clerical. Estão a ver, família, logo eflúvios a incenso papista. Não dava.
Tiveram então a brilhante ideia de honrar o dito Bolo com o nome do primeiro presidente – aliás, pouco tempo depois forçado a demitir-se, acusado de cesarismo – Manuel de Arriaga. O Bolo era oficialmente conhecido por Bolo Arriaga!
Pelos vistos não pegou, até porque nestas coisas do merchandising, uma coroa sempre é uma coroa. Comprariam alguma coisa cujo rótulo ostentasse o "ovo estrelado" com os dizeres Fornecedores da Casa Presidencial? Duvido muito. Por exemplo, imaginem vocências abrirem um negócio com o nome o Presidente das Meias, o Presidente dos Cachorros Quentes, ou o Presidente dos Frangos. Falência tão certinha, como a reconhecida perícia de Sua Excelência a Senhora Doutora Dona Maria Cavaco Silva em fritar sonhos para a Consoada.
Já sabem como é. A cada um, o seu bolo, seja ele Arriaga, Bernardino, Carmona, Craveiro, Tomás, Soares, Sampaio ou Cavaco & Esposa. Cá por mim, obscurantista de tintes medievalescos à inglesa, abarbato-me com o velho e prestigiado Bolo Rei. Sem fava e com muitas frutas cristalizadas*

Feliz Natal a todos os estadosentidenses e anexos!

* Lá “saquei” o molar e assim, estou limitado aos gelados

 

 

publicado às 14:23

Momento de poesia de Natal

por P.F., em 24.12.09

NATAL...

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

FERNANDO PESSOA
Notícias Ilustrado, 30 de Dezembro de 1928
 

publicado às 02:36

doubt

por Manuel Pinto de Rezende, em 24.12.09

A Cristina Mendes Ribeiro corresponde àquilo que o Erik von Kuenhelt-Leddihn (sim, estou sempre a dar-lhe com o mesmo autor, são fases) classifica como o Bom Cristão, quando faz distinções entre os vários tipos de "opinadores".

 

É cautelosa na tomada de posições, ponderada, e parece estar bem ciente do facto que respostas satisfatórias não podem ser dadas do pé para a mão sem devida pesquisa e estudo, e que "despachar" um tema pela via demagógica/democrática (pelo facto de todos quererem uma resposta, mesmo não sendo ela a Verdade) é, do ponto de vista expresso pela religião do Católico, errado.

 

Com isto, Cristina, não suspeite que estou a dar-lhe graxa. Já tivemos as nossas dissensões saudáveis sobre temas como o referendo da Suíça (em que eu acho, sinceramente, que abandonou esta perspectiva de ver as coisas - mas tomo isso como um possível erro meu) e a União Europeia.

 

No entanto, na última tomada de posição sobre o Alarme Global, devo dizer que estou consigo a 100%.

 

O primeiro sentimento que se deve ter para com a conferência de Copenhaga não pode ser senão desconfiança. Se possível, pura desconfiança esquizofrénica.

A criação de um governo mundial, acima dos órgãos da ONU, acima dos modelos de limitação de poder pelos órgãos representativos democráticos, pelos órgãos judiciais nacionais e comunitários - pelo Direito nacional e comunitário - e pelas demais instituições das nações do mundo esteve por um triz de acontecer.

 

O plano megalómano da criação do mercado das emissões, algo ainda mal estudado, mal preparado e que vai beneficiar os principais interessados no projecto, alia-se ao conjunto de coisas más que advirão da intolerante e anti-científica pesquisa do IPCC e de outros crooks nesta área.

 

A existência das centenas de emails a pedir que se eliminem e deturpem dados é um ataque à Ciência. Os dados falsificados e negados a outros investigadores são factores que devem despoletar a dúvida a qualquer ser inteligente.

 

Copenhaga não se tratou de criar ruas mais limpas e de controlar os desperdícios tóxicos nos grandes rios do mundo.

Copenhaga previu a criação de entidades supra-estaduais que regulassem o comércio e as emissões de CO2 de acordo com dados refutados por boa fatia da comunidade científica mundial.

 

Previu-se a criação de órgãos que coagissem o mercado a obedecer a alguns teóricos de algo que não está comprovado satisfatoriamente.

 

Assim, só é saudável, de facto, estar de pé atrás, e apreciar o facto de tudo ter acabado em águas de bacalhau.

publicado às 02:22

pela falta de fotos minhas

por Manuel Pinto de Rezende, em 24.12.09

disponibilizo uma para partilha entre os colegas do ES.

 

Feliz Natal!

 

publicado às 02:02

Feliz Natal!

por Nuno Castelo-Branco, em 24.12.09

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A Cristina, a Sílvia, o João Brecht, o Samuel e o Nuno (não tenho fotos dos outros colegas) wish you a Merry Christmas!

publicado às 00:27

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