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Comparou Manuela Moura Guedes a um travesti. Constava que fazia persuasivos telefonemas às redacções dos jornais. No seu primeiro tempo de antena televisivo, desta vez sob a capciosa fórmula de "entrevista", disse que o Correio da Manhã é lixo. Ou muito nos enganamos, ou o sempre excitado político arranjou sarna para se coçar. Assim, não nos admiraremos muito se esta coceira se for propagando de forma doseada e progressiva. Com direito a primeira página e em destaque, claro.
Em terra de pescadores, à conversa com dois veteranos:
«E como é que faziam para trazer a baleia para terra?» - pergunto eu.
Quando a morte acomete alguém próximo ou querido, a primeira tentação é desestimar Deus. O sofrimento não discrimina ninguém. É amplo, democrático, mortífero. No entanto, a morte não é o fim. Não é o terminus de nada. A morte é, sempre foi e sempre será o indomável passamento para a verdadeira vida: a vida eterna. No fundo, como dizia Victor Hugo, a vida é isto:
"Morrer não é acabar, é a suprema manhã."
Victor Hugo
" ... satisfação e orgulho de participar nesta manifestação de fé que, garantem, é “única no mundo” e realizada “como os portugueses faziam há 400 anos”. "
E orgulho nosso de vermos que os portugueses deixaram vestígios da sua cultura em lugares tão remotos, acarinhados ainda hoje
Passa-se isto. O mundo está a entrar numa espiral de loucura que não é nada auspiciosa.
Francis Bacon, After the life mask of William Blake III
Sócrates conseguiu o que queria: ser falado ad nauseam pela "Lesboa" das intrigas palacianas e pela chusma de opinaristas que vivem do comentário fácil e desinformado. De facto, o seu regresso meticulosamente preparado com a ajuda prestimosa de Relvas e Alberto da Ponte, revelou-se uma aposta ganha. Zurziu em todos, sobretudo em Cavaco, e mostrou, se dúvidas existissem, que não mudou nada. E o essencial da entrevista é justamente essa não mudança. Sócrates continua igual a si próprio, apostando, novamente, na mentira desbragada e na falsificação ardente dos números da sua péssima governação. Há coisas que não mudam, e Sócrates é um bom exemplo. Por mais que alguns queiram afivelar-lhe uma pretensa "star quality" (Sousa Tavares no seu avatar mais ridículo), Sócrates, não obstante os seus inegáveis dotes de comunicador, não tem nada de bom para oferecer ao país. A entrevista, uma espécie de monumento à frivolidade da política contemporânea -aquele número do spot inicial, com um Sócrates "poseur", a desfilar como se fosse um Brad Pitt grisalho foi algo de surreal -, resumiu-se basicamente a isto: uma narrativa feita do mesmo material falacioso a que Sócrates desde sempre nos habituou. Com um upgrade fundamental: o líder sombra do inseguro Seguro não tem culpa de nada. A culpa é das conspirações à la "Brutus" de Cavaco, da crise, da imprensa, da oposição. A culpa é de todos, menos de Sócrates. Por último, last but not the least, a austeridade deve terminar o quanto antes. Com um material destes não é difícil imaginar o que sairá do espaço de comentário caninamente servido pela RTP ao ex-exilado: mentira, loucura e demagogia a rodos. A hollywoodização da política portuguesa começou ontem. E seguirá infrene nos próximos tempos. O certo é que a liderança da oposição passou definitivamente para Sócrates. Seguro, politicamente, deixou de existir, se é que alguma vez existiu. Por fim, eu, humilde escriba que tem dedicado o seu tempo livre a perorar sobre o nada, aconselharia aos não-socialistas pátrios algum cuidado. Por uma razão bem singela: Sócrates não voltou para ficar confortavelmente sentado numa cadeira televisiva a discretear sobre a habilidade política de Seguro ou a truculência de Relvas. Sócrates quer o poder, deseja-o desesperadamente, vive para ele, consome-se por ele. E tudo fará para ludibriar os portugueses, com o apoio de todos os que sempre viveram da mesmice que nos trouxe a esta desgraça. Há narrativas e narrativas, como diria o ex-exilado, porém, há narrativas fáceis que, em alturas de crise, tendem a ser escolhidas pelo populacho. As coisas são o que são. E, como recordou o Miguel Castelo Branco, as pessoas perante a demagogia "escolhem o pior, aplaudem e sentem-se livres".
seria um possível título de um possível romance de Agatha Christie, no qual o imbatível faro de Miss Marple, inspirada num qualquer aparentemente corriqueiro caso passado, há muitos anos, na pacata vila de St. Mary Mead, descobriria o ladrão, perante a usual fúria do inspector chamado para resolver tão folhetinesco episódio.
* ... e não gosto de quem rouba livros.
Começo seriamente a pensar que Portugal deseja sofrer. Quase não tenho dúvidas que Portugal tem o que merece. No rescaldo de um programa de televisão que ontem não vi, e das palavras discorridas por um senhor que não escutei, mas baseando-me na vox populi das redes sociais, posso concluir que este país está condenado. Está arrumado por não ter meios intelectuais para realizar a destrinça entre a arte de ludubriar e o valor substantivo das acções e palavras. O país parece cair que nem um patinho na sedução gasta de um vendedor de banha da cobra. Uma pessoa desprovido de nojo, das sensações que equipam os homens sensatos, uma condição simultaneamente profunda e cutânea a que chamamos consciência e que torna, os convictos caídos em si, caídos em desgraça - humildes e arrependidos. Chamemos-lhe "ser cristão", se quiserem. Nem a matriz católica do país parece servir para actos de constrição. Em vez disso temos erva daninha que cresce em redor do templo, da reserva. Apenas os indivíduos dotados de um super-ego podem atropelar sem hesitações os direitos dos outros, e julgarem-se os primeiros mesmo que já estejam derrotados. Parece que Portugal sofre de uma doença regressiva, uma especie de Alzheimer político e selectivo que oblitera o percurso negativo de um homem e que elogia a capacidade para arranhar quem quer que se lhe atravesse pelo caminho. O regresso às cavernas parece um dado adquirido - quando a população aplaude o espernear de um bicho ferido. O desempenho instantâneo e brutal tomou conta do país político. Os ganchos e os socos dados por cima e por baixo. Assistimos à potência hiper-ventilada de faladores desprovidos de ética, que demonstram os seus talentos em duelos absurdos, em concursos para ver quem consegue botar-abaixo mais vómitos, e ainda maiores indisposições. Os assistentes são como claques de mentecaptos que anulam a grande obra humana. O país requer urgentemente um movimento sem face, sem aparência, sem hábitos ou vestimentas. Os intelectuais que invocam a liberdade de expressão e a Democracia, podem também invocar outras emendas que não a quinta, para salvar o país. A esquerda caviar ou a direita esclarecida, culpadas por esta transmissão televisiva e igual número de eleições, pode sair do seu falso exílio, o paradigma de cocktails e cultura onde discutem justiça social en passant, em redor de uma mesa de politicamente correctos. E essa corja que diz que nada tem a ver com o estado em que se encontra o país, também tem um pouco do DNA do mesmo embuste. O desejo de uma vida glamour, de privilégio, de sobranceria intelectual, de Paris. O que se nos apresenta é um caso de psicose colectiva, um comportamento desviante praticado por uma larga maioria televisiva pouco interessada em política, mas muito dada a novelas. Estou raivoso, sim senhor.
Se alguém, inspirando-se nos clássicos Portugal Contemporâneo de Oliveira Martins ou As Farpas de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, pretendesse discorrer em livro acerca da nossa ditosa pátria sob este regime, faria bem em dar-lhe um título que resumisse desde logo o conteúdo: No country for serious men, por exemplo.
Não há muito a dizer sobre a entrevista de José Sócrates. O "animal feroz" continua mal educado, sem vergonha e a utilizar as mesmas tácticas de manipulação e distorção da verdade e de vitimização. Nunca foi, nunca será um estadista. É um politiqueirozinho, uma das piores criações do sistema das jotas, alguém que rebaixou o debate político a níveis que afectam negativa e indelevelmente um regime democrático, que esmagou moralmente Portugal com a sua arrogância, falta de educação, incompetência e nepotismo, e que depois de ter arruinado financeiramente o país é capaz de dizer que não apresentará nenhum pedido de desculpas aos portugueses por ter deixado o país nas mãos da troika porque não aceita esta responsabilidade.
Impõe-se, contudo, fazer duas notas a respeito da RTP. A primeira, para dizer que Paulo Ferreira e Vítor Gonçalves, tal como Judite de Sousa, são jornalistas fracos e mal preparados para enfrentar Sócrates. Não sei se haverá alguém no jornalismo nacional capaz de o enfrentar, mas não creio que custe muito ser combativo, falar mais alto que ele, falar por cima dele - uma das tácticas que o próprio usa amiúde para calar os jornalistas - e interromper os seus monólogos e distorções confrontando-o com factos objectivos, com as suas mentiras e com atitudes deploráveis que tomou e toma mas que tem por costume acusar os seus adversários de tomar, aproveitando logo para se vitimizar. Não é difícil enfrentá-lo, só é preciso ter algo que, infelizmente, parece desaparecido do jornalismo português: coragem.
A segunda, ainda a respeito do programa de comentário político que Sócrates terá na RTP e da contestação ao mesmo. Ao contrário do que algumas viúvas socráticas e o próprio querido líder querem fazer parecer, não está em causa a liberdade de expressão de José Sócrates. Sócrates tem todo o direito de responder aos seus adversários políticos. Pode fazê-lo noutras televisões, nos jornais, ou, por que não, em blog. Com certeza que seria sempre lido e ouvido por muita gente. Mas fazê-lo na televisão pública, paga compulsoriamente por todos nós, é uma afronta difícil de ajectivar. Por isso mesmo, este parágrafo de Esther Mucznik é certeiro. Também e especialmente por se prestar a ser um joguete nas mãos de políticos, a RTP há muito que já deveria ter sido privatizada.
Por último, relembremos estas sábias palavras de José Sócrates:
Chata, tecnocrática, distante de tudo e de todos. Em suma perigosa. O discurso do comissário Oli Rehn no Parlamento Europeu no passado dia 12 (um doce a quem o conseguir ouvir até ao fim...) personifica de forma magistral estas "virtudes". De meter medo ao susto.
Ontem Portugal assistiu ao regresso do "animal feroz". Igual a si próprio, Pinto de Sousa abriu a boca e, em meia dúzia de minutos, transformou-se no líder da Oposição. Se as coisas estavam complicadas para Seguro, agora mais complicadas ficam. O velho Largo do Rato viu dar lugar à arejada Marechal Gomes da Costa. É lá que a partir de hoje reside o "não candidato a Belém".
Eis o homem que melhor põe o nome aos bois. Serviço público televisivo, neste momento de desespero para tantos e tantos portugueses? É ele que o presta. Penso mesmo que estará a incomodar muitos interesses, que, pudessem eles, sem escândalo na opinião pública, o teriam abafado já.
Que os seus muitos alertas servissem para um maior comedimento desses manda-chuvas, habituados, porque a isso os habituámos, a toda e qualquer impunidade. E sempre reeleitos os políticos que abonam esses mesmos interesses pouco confessáveis.
Lembram-se do embuste dos Magalhães e camas que decoravam as reportagens dos tempos de Sócrates e que eram de imediato retiradas após o fim da fita? Afinal, o mundo de narrativas não mudou. O nosso megalómano coitadinho televisivo trouxe uma cartada qualquer com Dante. Pelos vistos, Paris bem valeu esta missa.
De todo aquele arrazoado de desculpas sem nexo, apenas retemos um voluntário, excepcional e violento ataque aos fundamentos da República, confirmando em Cavaco Silva - e com toda a razão -, aquilo que todos sabemos ter sido a normal e vergonhosamente ocultada praxis política de Soares e de Sampaio. Todos os monárquicos terão rejubilado.
Desta entrevista, apenas ficamos com a sensação de publicidade vinda de um vendedor de automóveis por estrear.*
* Em quarta mão.
O nobelizado Krugman chama a atenção dos cipriotas para uma evidência que infelizmente não pode ser reposta via máquina do tempo. O "Chipre que regresse á sua moeda, vendo de imediato chegarem hostes de turistas e fazendo subir as suas exportações". Por cá este deveria ser desde há dez anos o Plano B e até sugerimos o não regresso do Escudo de outros tempos. Além das evidentes vantagens - e algumas aflições de monta - quanto às finanças, há que atender ao claro sinal político, fundamental aspecto hoje em dia bastante negligenciado. Existe uma moeda que durante séculos foi nossa e que agora identifica o maior país de expressão portuguesa: o Real.
Antes de sair de cena, a 3ª República deveria prestar um serviço ao país.
Pensem bem no assunto antes do saque que nos preparam. As tranquilizadoras palavras e juras das autoridades nacionais e comunitárias, tem o exactíssimo valor daquele "pedaço de papel" que garantia a inviolabilidade da Bélgica. Há quase cem anos, em 1914, foi o que se viu. Os actores são os mesmos e nada aprenderam ou esqueceram. Aquém e além Flandres, como é evidente.