Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Um das originalidades deste Estado que não se dá ao respeito, consiste no pagamento dos uniformes por parte de quem os usa. Sendo a indumentária uma parte distintiva que indica a pertença do senhor fulano de tal a uma força da autoridade que impõe a Lei, porque razão deve ser este a pagar os têxteis, cabedais e outros elementos da parafernália?
Uniformes pagos por quem os usa no cumprimento da sua missão, é o cabal reconhecimento do abuso e ostensiva displicência na preservação da dignidade do edifício Estado.
Já repararam no seguinte? Pouco a pouco, mas garantidamente, the boys are back in town. Hosé Duran Barroso que em breve terminará os seus dias bruxelenses, e que esteve ausente todos estes anos ao serviço de grandalhões da política mundial (Bush e Merkel, entre outros), começa a ser mais ousado e a assomar a cabeça para mandar umas bocas sobre a governação nacional. Como quem não quer a coisa, dirige-se a Passos para moralizar sobre os limites das medidas de austeridade, mas essencialmente pisca o olho ao coração mole de eleitores portugueses (as presidenciais ainda não foram descartadas dos seus planos, não senhor). Mas não é o único "retornado". António Vitorino fez uma pausa para almoço na sociedade de advogados para se apresentar como mandatário da candidatura do PS às Europeias. E não são os únicos que regressam triunfantes para mais mandatos ou cargos de ocasião. Um pouco por toda a paisagem política, refundidos da governação, que nos conduziram à actual estação de descarrilamento, tornam às lides com o beneplácito dos seus pares, perseguindo os objectivos da sua agenda pessoal e contando com a passividade e memória curta dos cidadãos nacionais. A grande pergunta que deve ser colocada aos portugueses (em forma de petição ou não), é: será que querem os mesmos de sempre e mais uma vez? Em tantos anos de falsas procrastinações e engodos, Portugal parece não ter sido capaz de se reinventar, de apresentar novos actores políticos com folha limpa, sem passados questionáveis e uma ideia boa para o futuro de Portugal. Nem vale a pena mencionar António José Seguro - o homem errado na hora auspiciosa de Portugal -, ou considerar a única Esquerda que merece o respeito pela sua coerência intransigente: o eterno PCP. A cena política deste país faz lembrar aqueles velhos teatros que apresentam o mesmo elenco ano após ano, os mesmos actores que estamos fartos de ver e que não são como o vinho do Porto - não melhoram (nem arredam pé). E é esse o problema. Os anos passam e os cães que mordem a caravana são velhos conhecidos. Quase que nem merece usarmos a expressão "alternância democrática" ou "rotatividade política". O conceito académico indicado ainda não foi definido para explicar a consanguinidade política que minou este país. Estes políticos, entranhados na derme, podem até ser de cores políticas distintas, mas são todos amigalhaços nos negócios que ocorrem nos bastidores, na boca de cena onde o português pequeno não tem papel de relevo. Não sei o que nos reserva o futuro, mas o passado já o conhecemos de ginjeira.
São estas contradições que me lixam o juízo: Interjovem/CGTP-IN marcha em direcção à Assembleia da República sob o mote "Queremos Abril e Maio de novo" com o objectivo de assinalar o Dia Nacional da Juventude e para demonstrar o seu descontentamento com as políticas do governo. Logo a seguir, e na mesma peça de jornal, segue o depoimento de um jovem de 60 anos de idade: "Tenho 60 anos e nunca vi o País assim. Tenho vergonha do que se está a fazer a esta juventude", conta José Costa. Aproveito a propaganda que saiu do armário do Arménio Carlos para perguntar qual a definição de jovem? Que idade pode ter um jovem? 23, 50 ou 69 anos? E já agora qual o âmbito ideológico do Dia Nacional da Juventude? Por acaso pertence à CGTP? Podemos ler, preto no branco, a resposta em relação a essa e outras perguntas. O grupo, composto por jovens ligados ao sindicato liderado por Arménio Carlos, considera que é “crucial tomar nas mãos o destino do País” e, por isso, vêm de todo o país exigir uma mudança de rumo nas políticas do governo. Lutam pelo fim do desemprego, da precariedade, da “imigração forçada” e do encerramento de serviços públicos". Mas vamos lá por partes. Eu não discordo com a luta. Discordo, e muito, com a apropriação de um conceito muito mais alargado, como o Dia Nacional da Juventude, para fins políticos. A quem pertence o Dia Nacional da Juventude? São este tipo de nuance de doutrinação que devem merecer a nossa atenção independentemente do campo ideológico em que nos encontramos. Pelos vistos a CGTP não olha a meios para atingir os fins. A sociedade portuguesa começa a perceber que a solução para a catástrofe nacional já não passa pelos partidos políticos e sindicatos no seu sentido clássico, comprovadamente falidos pelas evidências que sobejam. A Ana Avó(ila) bem que pode aparecer para dar apoio psicológico aos jovens, mas em última instância, há duas notas a reter. Primeiro, os jovens deste país parecem não ser capazes de se organizar sem a ajudinha de uns padrinhos ideológicos e, em segundo lugar, os "velhos" sindicalistas ainda não perceberam que têm de se reinventar para acompanhar os tempos que correm, os códigos e a nova linguagem que declaradamente não entendem.
Entendamo-nos: a segurança social dos mais idosos não é matéria com que se deva brincar, instilando na cidadania uma incerteza mais consentânea com a práxis apolítica dos estados totalitários. O cidadão comum necessita de alguma segurança nos seus teres e haveres, e não de brincadeiras infantis que só levam à exasperação colectiva. A própria reacção do primeiro-ministro, na sua candura dolosa, demonstra que este Governo, exceptuando a mestria política de Paulo Portas, que manifestamente não dá para tudo, não tem rei nem roque. 3 anos volvidos de austerismo merkeliano, com muito imposto pago para alimentar credores rapaces, o país ainda não conseguiu interiorizar a gravidade da situação, e, ao que tudo indica, jamais o conseguirá. É este o retrato de um situacionismo que não ata nem desata.
Publicado aqui.
Há outros que lá vão pensando no futuro da União Europeia. Trata-se de um artigo que não traz nada de particularmente novo ao debate, mas cujo valor simbólico é inegável, dado ser assinado por George Osborne e Wolfgang Schäuble.
Mas um representante diplomático que pede explicações ao Expresso por um artigo de opinião do Henrique Raposo em moldes que roçam o patético e revelam uma mente toldada pelo politicamente correcto só pode estar a pedir que se riam dele. E é isso que o Expresso deve fazer.
Gosto muito de mulheres. Gosto do género feminino em geral. Da complexidade, da sensibilidade, por oposição à bárbara condição masculina. As mulheres fazem falta em todo o lado - mesmo num estádio de futebol ou na plateia de um combate de boxe, por exemplo. Ou no Parlamento, se quisermos pegar num exemplo mais primário. A vida é feita destes pequenos equilíbrios. Do convívio natural entre seres humanos de ambos os sexos. Mas não é a condição feminina ou masculina que faz, por si só, a diferença.
Não há quem não entenda que a participação das mulheres na política é fundamental. Que é preciso forçá-la. Pressionar, arranjar mecanismos, dar um empurrãozinho para que a coisa aconteça. É imperativo que pelo menos um terço dos deputados sejam mulheres. Porquê? Ninguém sabe. Há quem diga que se fossem as mulheres a liderar o mundo, ainda hoje estávamos para descobrir o que era uma guerra. Tudo certo. Como se sabe, Thatcher, por exemplo, era um homem. Robusto, felpudinho e barbeado. Com brincos de pérola.
A lei da paridade é um atentado à condição feminina. E, pior, uma ofensa à decência das instituições. De que nos serve, afinal, ter deputadas que o são apenas por possuírem, entre as pernas, um majestoso e perfumado pipi? Eu não quero deputados dependentes da sua condição. Quero bons deputados. Inteligentes, cultos, competentes, trabalhadores. Independentemente da sua condição. Não quero que o deputado Sicrano tenha sido eleito graças ao seu potente falo, mas porque tem capacidades para exercer a função com dignidade e sabedoria.
Na ânsia de forçar a participação das mulheres na política, estamos a encher as instituições de incompetentes (mais do que o habitual) graças a vulvas e pénis. A substituir o mérito pelas maminhas. E, consequentemente, a destruir a condição feminina. A tentar eliminar um facto: que elas, não raras vezes, são melhores que nós. E nós sabemos disso. Com excepção dos que mantêm a condição de primata, os homens sabem disso.
Conheci algumas mulheres na política melhores que a maioria dos homens que por lá andam. Conheço muitas mulheres medíocres que treparam por esse elevador político graças à lei da paridade. E que, ainda hoje, não conseguem perceber que o mal delas não é serem mulheres. É serem medíocres. Como tantos homens.
O bom senso diz-nos que é com base no mérito e na competência que as pessoas se distinguem. As pessoas. Não se distinguem, na política, por serem homens ou mulheres. A paridade está a destruir esse bom senso.
Uma saída em grande.
Insurgindo-se contra uma parte de um artigo de Pacheco Pereira, há quem ande há dias sem conseguir ultrapassar o que aquele assinalou a respeito de uma observação que Cavaco Silva faz no seu mais recente prefácio. A dada altura, afirma Pacheco Pereira:
O Presidente fez isso e, apontando números de crescimento que todos sabem não ser realistas, chegou a mais de 20 anos do mesmo.
Vejamos, agora, a que passagem do Presidente da República se referia Pacheco Pereira:
Pressupondo um crescimento anual do produto nominal de 4 por cento e uma taxa de juro implícita da dívida pública de 4 por cento, para atingir, em 2035, o valor de referência de 60 por cento para o rácio da dívida, seria necessário que o Orçamento registasse, em média, um excedente primário anual de cerca de 3 por cento do PIB. Em 2014, prevê-se que o excedente primário atinja 0,3 por cento do PIB.
Da leitura da insurgência que se vem verificando, chega-se, portanto, à conclusão de que o seu autor acredita que os números supra são realistas. Trata-se de um proeminente conhecedor da ciência económica que gosta de apodar outros de arrogantes para sustentar as suas crenças.
...faça o favor. Ficamos todos à espera.
Sabem o que deitou Portugal abaixo? Não foi a grande teoria política, a doutrina ideológica revanchista. Não, senhor. Foi o chico-esperto que estaciona em segunda fila porque se julga o primeiro. Foi o malandro que procura um jeitinho na repartição. Foi o primo que arranjou o emprego para o afilhado lá na empresa. Foi a comadre que abarbatou os lápis e os afiadores da despensa escolar. Foi o artista que viu a sua obra publicada pela ex que manda lá na editora. Foi o construtor que subtraiu o valor do SISA na assinatura do contrato de compra e venda. Foi o realizador que orçamentou muito acima do valor necessário e que me meteu muita fita no bolso. Agora multipliquem isto tudo por 100 e terão os políticos que governaram Portugal nas últimas décadas. É mais ou menos isto, não é?
As novas autoridades ucranianas não perderam tempo e serviram-se dos bem conhecidos expedientes de outras eras, eliminando um elemento incómodo. O Sector Direito, uma espécie de S.A. local, tinha sido a tropa de choque que muito contribuíra para o render da guarda em Kiev, instalando no poder os novos parceiros de Washington, Bruxelas e NATO. Serviço feito, o embaraço ocidental saltava à vista, tal como notório era o franzir de sobrolho em Moscovo. Fosse de que maneira fosse, urgia um sinal de boa vontade. O caso Sector Direito incomodava os ocidentais, mas já desponta outro que poderá ser muito mais relevante.
Não usaram um drone, a envenenada ponta de um "guarda-chuva búlgaro", ou uma toxina num hambúrguer. Escolhendo a bala, o governo optou por um eficaz e espectacular "método à antiga", já experimentado em Ernest Röhm, Iezhov e Béria.
A Ucrânia teve ontem a sua tarde das Facas Longas.
Antes de mais quero agradecer ao Samuel pelo simpático convite para me juntar à equipa do Estado Sentido. Espero que enquanto aqui estiver possa trazer contributos interessantes, vocês saber-me-ão dizer se o consegui.
Não é a minha primeira experiência na blogosfera, mas para já fiquemos por aqui. Como o Samuel disse trabalho na área de comunicação, embora, neste momento, não esteja ligado à comunicação política, mas sim, empresarial. Nos próximos tempos irei andar aos encontrões e apalpadelas, à procura do meu estilo, espaço e tempo.
Espero que tenham paciência e que caso queiram rebater algo, façam-no na certeza de que só vale a pena partir para uma discussão se estivermos dispostos a mudar de opinião. Prometo fazer o mesmo. Não responderei a comentários anónimos.
Para começar queria chamar a atenção para um pormenor interessante que li no outro dia, sobre a crise na Ucrânia. Não é de todo o mais relevante aqui, nem procura ser um ponto de partida para qualquer teoria que explique os acontecimentos que dominam a agenda mediática, mas interessou-me...
Falo de comunicação num lugar aparentemente improvável, a Praça Maidan. Segundo um trabalho bem interessante do Público, uma das prioridades de quem lutou contra o anterior governo ucraniano é a criação de um gabinete de relações públicas.
«Michailo reconhece: “A nossa prioridade agora é criar um departamento de Relações Públicas, para controlarmos o que se diz nos media. Isto é uma guerra da informação. E nós perdemos a guerra da informação com Putin”.»
Os acontecimentos na Crimeia foram rápidos a desviar atenções da Maidan, impondo-se na ordem do dia por si próprios, mas também pelo facto daquela ter conseguido o que se tornou no seu objectivo primeiro- a destituição do Presidente Viktor Ianukovitch.
Um “departamento” de Relações Públicas pode ser sem dúvida uma boa ideia embora duvide da sua utilidade dado o timming. Porém como se pode ler na mesma peça do Público «a Maidan não está satisfeita com o Governo. E uma segunda vaga da revolução pode começar a qualquer momento.»
Se assim for, fará certamente sentido (e julgo que abrirá um precedente), embora duvide que se consiga “controlar” os media. Se nem na “ordem” se consegue, muito menos na “subversão”. Para além de que, dificilmente uma hipotética “segunda vaga" da revolução” seja mais moderada que a primeira o que só iria prejudicar as almas bem-intencionadas. Nesse caso a percepção (não partilhada por mim) de que, a mudança de poder, e tudo o que esta desencadeou se deveu à acção da extrema-direita, será demasiado forte para ser contrariada por qualquer gabinete de relações públicas. Mas boa sorte!