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Trump, Conway...not my way

por John Wolf, em 31.01.17

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Donald Trump nunca poderia ser um político português. Não seria agraciado nem tolerado. O conceito de estado de graça que assiste aos recém-chegados ao poder foi pura e simplesmente obliterado. A inversão é plena - entrou logo ao ataque. E começa pelos Estados Unidos da América. Assistimos, quer sejamos norte-americanos ou não, à concretização das piores das nossas expectativas. A censura oficial já é um facto consumado, instalado. Mas nada disto é novo. É pela máquina de propaganda e desinformação que começam. A perseguição vivida em regimes nacional-socialitas parece ser o template em que se baseiam. A senhora Kellyanne Conway representa o pior da América profunda. Mas não está só. Contaram-me há dias que os mais reaccionários dos EUA são os jovens que polvilham os campus das universidades, e não os desempregados. E isto é particularmente preocupante porque é esta falange que irá emprestar a sua energia e os seus "conceitos" ao futuro do país. Quero acreditar, porque é o que nos resta, que seremos testemunhas de uma revolução civil americana. A única virtude que consigo extrair do ambiente instalado, num país com profundas fracturas, é a emergência de diversas frentes de indignados. Existe uma tradição de protesto nos EUA. Pensem nas manifestações contra a guerra do Vietname, contra a segregação racial, contra a globalização e os efeitos nefastos da mesma sobre o ambiente. E existem mártires. Lembrem-se de Kennedy. Pensem em Martin Luther King. O que Trump vai provocar é a reacção desmedida que transcende os orgãos de soberania que pouco valem na sua cabeça e que ele julga que domina totalmente. O despedimento da Procuradora-Geral não vai chegar para demover aqueles que entendem o processo americano, a mescla e a promessa firmada no rompimento em relação aos senhorios coloniais e a esperança que resulta do mesmo. Tenho fé, que por linhas tortas, mas lamentavelmente violentas, a América dos nossos sonhos bons possa vingar o seu nome - a parte boa do seu nome. Por causa de Trump sou mais americano do que nunca, mas não pelas razões que ele invoca. Vim de longe. Ainda não cheguei.

publicado às 12:43

Condenados à esperança

por Nuno Gonçalo Poças, em 30.01.17

Em Salvador, na Bahía, um taxista perguntava-me coisas sobre Portugal, o “País original”. Tinha visto um documentário na televisão brasileira sobre a “terra dos portuga” e apanhou-me ali a jeito, mesmo ao lado dele, de calção, alpercatas e t-shirt, para tirar umas coisas a limpo. Queria saber, porque não tinha percebido, qual era o nosso motor económico. Queria mesmo. Engasguei-me. Tentei mudar o rumo da conversa e fazer com que o ponto da vergonha fosse o Brasil corrupto e não o Portugal para o qual me falta sempre um adjectivo. O baiano não se deixou intimidar. Queixou-se do PT, das trapalhadas de Lula e Dilma, da desilusão que Aécio tinha sido para ele, que o apoiou, do golpe, da corrupção por todo o lado. Assumiu a sua vergonha e voltou à carga. Em que se sustenta afinal a economia portuguesa? Enchi-me de coragem e disse-lhe que o turismo estava em expansão. Que as exportações não sei quê. Que os têxteis isto, o horto-frutícola aquilo, mas que ainda é deficitário. Que a cortiça e o vinho e tal, tudo a andar. Depois apercebi-me do ridículo que estava a ser e fui directo. Sabe o que é Portugal, senhor? É igual ao Brasil, mas mais pequeno e com menos crime. Rimos. “Eles falam que somos irmãos, mas o portuga é que é o pai, viu? O filho não podia dar certo.” Depois perguntou-me se somos mesmo dez milhões. Disse-lhe que sim, mais coisa menos coisa. E o baiano riu alto. Tinha visto na televisão que somos sempre dez milhões e gritou-me, às gargalhadas, se nós não temos filhos. Engasguei-me outra vez. E balbuciei-lhe qualquer coisa como “nós tínhamos mais filhos antes, já fomos menos de dez milhões”. E o baiano retorquiu: todo o europeu fala que ter filho sai caro, mas todos na Europa tinham mais filhos quando eram mais pobres.” Saímos do Pelourinho. Na via rápida apanhamos fila. O taxista, ainda convencido da superioridade civilizacional portuguesa, afirmou, cheio de certezas, que nós não tínhamos trânsito. E eu respondi-lhe como quem anuncia o trânsito na rádio: trânsito demorado no Eixo Norte-Sul, no IC19, na A5, no túnel do Marquês, na saída para as Amoreiras, na curva do Palácio, no IC20, na A2, na Ponte Vasco da Gama, no Nó de Francos, na Ponte da Arrábida, na A4, na Via de Cintura Interna. O taxista ria-se. E, para desanuviar, lembrou-se de um bolinho que tinha visto no tal documentário. Uma coisa assim redondinha, meio amarela, meio queimada. Um pastel de nata. É isso, pastel de nata. Ninguém diria que aquilo é um pastel. Tem nata? Tem nata. Dizem que é uma especialidade. É, é. Há quem coma com canela, mas eu prefiro sem nada. E a massa é folhada, tem que estar bem crocante. Estaladiça, sabe? E o recheio não pode estar demasiado duro, não pode ser muito cozido, tem de escorrer para os dedos. Isso parece delicioso. O baiano estava louco. Mas nós temos mais. Pastéis de Tentúgal, pudim de Abade de Priscos, travesseiros de Sintra, queijadas, tigeladas, jesuítas, setubalenses. E bolos? E pratos? Portugal é rei na cozinha, baiano do Diabo, queres que te cite só os melhores pratos tradicionais? Não sei se tenho tempo para isso. E o taxista, rindo, quis explicar definitivamente por que razão os portugueses vivem melhor que os brasileiros: quando há trânsito, os portugueses não se zangam porque chegam a casa, comem um desses docinhos redondinhos, meio amarelos, e tudo passa. E nessa altura eu senti que o Brasil é o país irmão que nós merecemos. Vem tudo, como sempre, numa frase curtinha do Millôr Fernandes: o Brasil está condenado à esperança. Portugal também.

publicado às 11:23

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Russell Kirk, "Libertarians: the Chirping Sectaries":

The ruinous failing of the ideologues who call themselves libertarians is their fanatic attachment to a simple solitary principle – that is, to the notion of personal freedom as the whole end of the civil social order, and indeed of human existence.


The libertarians are oldfangled folk, in the sense that they live by certain abstractions of the nineteenth century. They carry to absurdity the doctrines of John Stuart Mill (before Mill’s wife converted him to socialism, that is).

 

(...)

 

In every principle premise of his argument, Stephen declared, Mill suffered from an inadequate understanding of human nature and history. All the great movements of humankind, Stephen said, have been achieved by force, not by free discussion; and if we leave force out of our calculations, very soon we will be subject to the intolerant wills of men who know no scruples about employing force against us. (So, one may remark, the twentieth century libertarians would have us stand defenseless before the Soviet Russians.) It is consummate folly to tolerate every variety of opinion, on every topic, out of devotion to an abstract “liberty”; for opinion soon finds its expression in action, and the fanatics whom we tolerated will not tolerate us when they have power.

 

The fierce current of events, in our century, has supplied the proof for Stephen’s case. Was the world improved by free discussion of the Nazis’ thesis that Jews ought to be treated as less than human? Just this subject was presented to the population of one of the most advanced and most thoroughly schooled nations of the modern world; and then the crew of adventurers who had contrived to win the argument proceeded to act after the fashion with which we now are dreadfully familiar. We have come to understand, to our cost, what Burke meant by a “licentious toleration.” An incessant zeal for repression is not the answer to the complex difficulties of liberty and order, either.

 

What Stephen was saying, however, and what we recognize now, is that liberty cannot be maintained or extended by an abstract appeal to free discussion, sweet reasonableness, and solitary simple principle.

publicado às 19:53

Jornal do Incrível

por Nuno Castelo-Branco, em 29.01.17

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1.

Era previsível, sendo o Estado português uma entidade lenta, pesadona, desleixada e de uma larvar inépcia. Deixaram e ainda deixam passar a oportunidade aqui avisada há anos e os portugueses que são vítima de perseguições, roubos, agressões e assassinatos na Venezuela, escolhem Espanha para reconstruir as suas vidas. Não chegam a Madrid com intuitos de auferir fundos, subsídios ou esmolas, mas vêm com vontade de inovar e criar novos postos de trabalho que sobretudo beneficiarão os locais. São aos milhares e chegam de forma discreta, ordeira e com passagens pagas pelo próprio bolso. 

O que falhou então, para que os consulados portugueses naquele país sul-americano continuem tal como dantes, como se nada tivesse acontecido? O que falhou para que a oportuna TAP subitamente tivesse elevado os preços Caracas-Lisboa a alturas estratosféricas? Será inconsciência, incompetência, passa-culpas, desinteresse ou haverá algo mais para além disto? As más-línguas até poderão inventar um dia destes que se trata de temor de alteração do mapa eleitoral. Vendo bem os factos como se apresentam e atendendo ao que até estes dias se tem confirmado, até será uma hipótese a considerar, pois quem de lá vem, à Europa chega devidamente vacinado.

2.
Qual é o primeiro dever de qualquer dirigente? Defender os seus concidadãos, o seu país.
Admiram-se? Se sim, porquê? Não viram os videos - este que aqui fica foi criteriosamente escolhido pela moderação - no youtube, não viram durante meses a fio os telejornais relatando atrocidades que subitamente sumiram devido à censura? Acreditam verdadeiramente que tudo aquilo não passa de obra de uns tantos marginais e que "de nenhum modo corresponde à vontade da maioria"? Maioria silenciosa? Sim, alguém consegue ouvi-los? 
A moratória americana quanto a uns, significa a abertura a outros que até agora tinham a vida dificultada ao máximo pela anterior administração. Mais do que qualquer outro grupo, precisam de urgente protecção. O recentemente empossado disse-o sem rebuços, como é do seu timbre. Todos entenderam. Desagrada-lhes? Possivelmente. Têm uma solução ocidental e muito em voga nas terras do Tio Sam: mudem de religião, desentrapem-se física e mentalmente e aprendam o que significa a resignação cristã.

3.
Mais de cem milhões de assassinados, escravizados, espancados, roubados e violentados depois, eis que em Portugal iniciam a celebração daquilo que para eles foi, é e para sempre será um farol de libertação. 

publicado às 09:01

Síndrome de Padeiro

por John Wolf, em 28.01.17

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Antes que me acusem de sofrer da síndrome de padeiro, fica o aviso. Sou um sociólogo empírico, artesanal. Faço colagens, mas delicio-me com o corte e a costura. Adoro bricolage e fascina-me o betão. Cá vai. O ovo ou a galinha? Qual deles? Vem isto a propósito do efeito de contágio (ou não) das obras de Medina na cabeça dos cidadãos da capital europeia das autárquicas. O enunciado é relativamente simples: será que a malha civilizadora do passeio largo, da via minguada e das ciclo-rotas irá alterar o quadro comportamental do utente? Prevejo, e já assisti a muita inauguração construtora em Portugal, que teremos a insistência crónica do estacionamento sobre a calçada farta ou a ciclovia, a extensão da prática de arremesso de dejecto canino e o graffitar de assinaturas de artista delinquente sobre a pedra que tanto bate que até se apura. E há mais. A obrite aguda, embora vá embelezar a urbe alfacinha, representa, no seu âmago, uma patologia política de difícil cura. A obsessão pelo hardware. Quanto ao software do formato mental dos urbano-residentes a história será outra. A alteração da mentalidade que conduz à estima cívica e ao sentido colectivo parece ficar para depois do aumento do PMN - o passeio mínimo nacional. O problema é que a correlação entre a obra e o comportamento cívico não foi pensada em sede alguma. O que domina e extravasa é outro vector. A alma-matéria parece ser o modo de pagar promessas e comprar eleitores. Em plena época de dúvidas existenciais e rumores de populismo, convém acalmar os ânimos daqueles que usam as ferramentas mais básicas. O apelo da intelectualidade primária, ou da filosofia de lancil, parece ser a nota dominante. Quero ver quem tira o peão do caminho do triciclo, ou enxota a marca global que irá decorar aquela praça neo-típica. Quem levantará os autos? Não há dúvida que fica tudo mais bonito e que valeu a pena o pó e o trânsito, mas o resto será mais do mesmo. Quero ver quem entrega o pão como deve ser.

publicado às 12:00

Os Bannon da Geringonça

por John Wolf, em 27.01.17

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A vitória de Trump subiu à cabeça da Geringonça. Inspirados pelo evangelho de Bannon, o PS, o PCP e  o BE querem matar a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos. O adágio "quem não deve não tem" não serve esta causa, ou talvez sim. Viva a transparência, Viva a Democracia, Vivam os cidadãos de Portugal!

publicado às 14:47

PEC-MAN

por John Wolf, em 26.01.17

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Temos de reconhecer que António Costa é um sobrevivente. O chumbo da redução da Taxa Social Única (TSU) não o demoveu dos seus intentos de aligeirar os encargos dos patrões. O Pagamento Especial por Conta (PEC) foi o modo semântico de alcançar os mesmos objectivos que, verdade seja dita, são do tipo neo-liberal. Embora a escala seja outra, os socialistas portugueses estão alinhados com a doutrina Trump que postula a diminuição da carga contributiva das empresas. Andamos todos muito baralhados. O power to the people do discurso de inauguração do presidente dos EUA, se escutado de olhos vendados, lembrar-nos-ia as promessas ideológicas de outros campos, outros regimes. Estas trocas e baldrocas, de dinheiros que parecem créditos, mas que afinal são débitos, têm pernas curtas. Em 2018, logo verão o IRC obeso, farto. Ou seja, a dieta do presente implica gordura e peso no futuro, ou o inverso, dependendo do ângulo de visão. Um outro modo de atordoar um balancete pela negativa, mas garantindo o beneplácito do papalvo, é propor a extensão do número oficial de dias de férias de 22 para 25, por hipótese. Isto significa que mesmo que não haja aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) até parece que houve, porque o rendimento anual decorrente do trabalho passa a ser dividido por menos dias de labor. Isto é particularmente engenhoso, mas não deixa de ser cínico, perverso. A matemática política tem destas coisas. Permite fingir que a alpista é maior do que o bico do papagaio. Não devemos estranhar - as duas medidas são gémeas do mesmo engodo. Nascem no mesmo dia como se nada fosse. E nada será.

publicado às 18:38

Trump, Pilger and Meet the Press

por John Wolf, em 23.01.17

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As CNN e New York Times deste mundo já não ocupam o palco central das conferências de imprensa organizadas pela presidência Trump. Os últimos da fila com a senha na mão passaram a liderar o processo jornalístico. A Fox News e  o The New York Post são agora as estrelas da companhia. Os lugares cativos de certos opinion makers estão a ser redistribuídos. Hoje o Expresso e o Diário de Notícias, amanhã as Linhas da Beira ou as Notícias da Terra. Temos assitido ao pasmo e ao queixo caído de muito jornalista internacional, ou desta aldeia, que ainda não perceberam a revolução sistémica em curso. O excêntrico Donald, há poucas semanas não fazia parte do clube, mas agora ele é o country club - tem os tacos na mão. Os comentadores, aqui e acolá, ainda acreditam no regresso à convenção, à normalidade. Mas estão enganados. As regras do jogo são outras. No entanto, e em abono do karma jornalístico, foram décadas de preferências e versões coloridas que nos conduziram a este estado de arte, a esta vendetta. Foram muito poucos aqueles que ousaram partir a loiça. Retenho alguns na memória e poucos no presente. Penso no jornalista e investigador John Pilger, e na reedição da sua obra  - The New Rulers of the World -, que pensava eu, por ter Chomsky na badana, ser um hino às virtudes de um campo ideológico em detrimento de outro, mas estava enganado. O homem distribui chapada a torto e a direito, à esquerda, em cima e em baixo. São relatores deste calibre os únicos com argumentos para confrontar Trump, ou seja quem for, em nome do processo democrático. Em vez disso, vemos microfones vendidos a simular entrevistas a presidentes da república, colunistas ao melhor preço de mercado, e a verdade dos factos a escoar por um cano de minudências e chatices. Ainda não entenderam que a tendência da política é hardcore, XXX? Enquanto os jornalistas andam aos papéis para ver se saem bem na fotografia e eternizam os favores, os danos são prolongados. E muito por sua culpa. Trump está a fazer tremer mais do que mera gelatina de cobertura mediática. O epicentro pode ter sido lá, do outro lado do Atlântico, mas aqui, seja qual for a jornada parlamentar, cheira mal e há tempo demais. As conivências políticas e os encostos de ombro de determinados jornalistas são flagrantes - as primeiras páginas parecem ser agora as derradeiras. Vai rolar muita tinta e algo mais.

publicado às 20:19

Make me normal again

por John Wolf, em 21.01.17

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Não é preciso ser cidadão norte-americano para sentir os efeitos de uma presidência nos EUA. Mas é preciso ser cidadão norte-americano (como eu) para sentir os EUA. Por mais que opinem e produzam statements a propósito da eleição de Donald Trump, há vários estereótipos que devem ser rejeitados. A ideia de que eventuais desvios aos princípios que se encontram na fundação da federação americana, e que consubstanciam o genuíno espírito da nação, serão tolerados, sem agravo ou consequência, por largos espectros da população, pela inteligência académica ou pelas grandes corporações de Wall Street. Estamos apreensivos em relação à inauguração de uma nova modalidade, porque nada disto é inédito, mas também não é exclusivo. Se realizarem a sobreposição de slides, verão, sem grandes equívocos, que Theresa May não é uma versão de Donald Trump. May, declama a sua pauta, uma palavra similar embora com variantes de discurso. Em todo o caso, trata-se de um slogan nacionalista e patriota, carregado de sentimento anti-imigração - Make Britain great again. O que está em causa essencialmente é um quadro mental de previsibilidade a que estávamos habituados. Fomos doutrinados durante tantos mandatos políticos que existe uma convenção estável, imutável. Fomos treinados a viver na sombra das consternações que seriam tratadas pelos lideres e representantes partidários. Recebemos em troca amostras de grandes promessas que se esfumaram em metas por alcançar. Aqui e agora, here and now, registamos o inverso. O juramento totalitário à partida, à cabeça. Um conjunto de absolutismos de tudo ou nada, sim ou não, you´re in or get the hell out. Há muito que vinha observando a patologia civil dos EUA - a ideia de autosuficiência intelectual. A ideia de que os outros são dispensáveis. O isolacionismo, implícito na narrativa, é apenas uma extensão natural da genética política, económica e social, construída no país que é a maior amálgama de nações extraviadas do mundo. Agora imaginem o sentimento de indefinição que se atravessa no meu ser. Para todos os efeitos, bons e maus, eu sou um cidadão dos EUA.

publicado às 11:41

Davos, Costa e a doce Lagarde

por John Wolf, em 19.01.17

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O que temos. Temos um primeiro-ministro que acredita nas doces palavras de Christiane Lagarde. Aconchegado em Davos, António Costa parece estar a fazer um roadshow das virtudes económicas de Portugal. Fala do tom de voz alterado e simpático da senhora do FMI que agora só diz maravilhas de Portugal. Faz fé na boa-vontade e no lirismo da directora-geral do FMI, como se isso fosse garantia do que quer que seja. Deveria, em vez disso, apanhar Mario Draghi e agradecer a continuação da operação de compra do BCE, no mercado de títulos do tesouro. Gostava de ver o caderno de encargos do governo da república portuguesa no que toca a atrair investimento estrangeiro. Qual a estratégia a médio/longo prazo? Que plano existe para transformar a economia de um país fortemente dependente do sector dos Serviços e do Turismo em algo mais substantivo. Se alguém tivesse que fazer um desenho de Portugal e da sua economia teria certamente algumas dificuldades. Não se percebe  qual o peso da economia marginal? Não se sabem ao certo as virtudes financeiras do Processo Marquês e como isso contribuiu para o desenvolvimento do país. São pastas com alguma importância que não foram levadas na bagagem para a estância dos bilionários neo-liberais-bilderbergianos de um sistema capitalista roto e perto de uma ruptura dramática. Em todo o caso - nothing really matters. A mudança, desejada ou não, chega amanhã para plantar tumulto no pobre espírito de pequenos ou grandes ladrões. Isto vai abanar. Há muito que estava para abanar. E Costa reza como se fosse um aprendiz de mezinhas. Sonha com o deficit abaixo dos 2,4% como se fosse um sinal de transcendência, de verdade.

publicado às 20:06

17 de Janeiro de 2017

por Samuel de Paiva Pires, em 17.01.17

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17 de Janeiro de 2017 ficará indelevelmente gravado na minha memória como o dia em que concluí o doutoramento. Agradeço aos membros do júri das provas públicas que hoje prestei pelos comentários, críticas e pelo estimulante debate. Aproveito ainda para agradecer novamente a todos os que, de alguma forma, me apoiaram nesta caminhada, em especial à Ana Rodrigues Bidarra, sem a qual esta aventura não teria sido possível.

publicado às 22:06

TSUNAMIGO

por John Wolf, em 17.01.17

 

 

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Jerónimo de Sousa, o místico, saiu da caverna para explicar aos jornalistas e ex-jornalistas que a aparição de coligação que Passos Coelho avistou, de facto não passa de uma miragem. Diz ele, ao bater o pé na trave e a foice no martelo, que os comunistas não são nada tsunamigos dos socialistas e que o maremoto dessa taxa descendente representa uma no cravo dos propósitos da Esquerda unida. Com tanta prosápia, com tamanha logística de quem é quem, e para onde caminhamos, Jerónimo de Sousa fere o orgulho geringoncial. Resta saber se os comunistas são mais social-democratas do que os passistas são marxistas. Devo dizer que aprecio estas saladas místicas temperadas por galheteiros ideológicos de candeias às avessas. Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, o presidencialista-pop, não me restam grandes dúvidas. Tudo fará para salvar o orgulho do Rato. Não sei exactamente qual Senhor serve o presidente da república. Uma coisa é certa, amor de povo é valioso. Afecto das massas não se enjeita. Resta saber quem paga a taluda da bandeira do salário mínimo a qualquer custo. Pessoalmente acho que o BES, a CGD e o Banif deveriam pagar o aumento da tarifa mensal com os fundos de salvamento que receberam a troco de sabe-se lá do quê. Assim vamos nesta assembleia de lideres mítricos, de barretes enfiados e pegas de caras ou coroas. Qualquer dia Catarina Martins será agraciada com a ordem de São Caetano por ser coerente e disciplinada. O acordo da Geringonça existe no papel, mas não passa disso mesmo. Vira o dístico e troca o mesmo pelo seu oposto. A maré está baixa e as calças estão pelos joelhos.

publicado às 14:46

Geringonça is so 2015

por John Wolf, em 16.01.17

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O Partido Socialista (PS) está a ter dificuldades em engolir em seco. Não está a conseguir encaixar o que se está a passar e a Ana Catarina Mendes Pedroso é o exemplo vivo de alguém que ainda não entendeu as transformações em curso no nosso mundo. Sempre existiram bons e maus comunistas, péssimos e excelentes social-democratas ou medianos e magníficos socialistas. A Taxa Social Única simplesmente não serve de bitola do que quer que seja. Em causa está a natureza parcelar da Política. São causas avulso que permitem distinguir uns de outros. Ora assumir de antemão a vontade de outrém roça a sobranceria autoritária. Sempre dei o braço a torcer e aplaudi a iniciativa do homem livre, desprovido de ensinamentos de mestres e ideologias caducas. Não se podem erguer muros em torno de reservas oportunistas. Até parece que a concertação social é uma invenção do Largo do Rato e da Esquerda. Errado. Desde sempre, desde Chicago, se quisermos, as negociações entre trabalhadores e patrões, assalariados e pagadores, decorreram, tratando essencialmente de matérias validadas intrinsecamente e não por ditames ideológicos. O Partido Social Democrata ou o Bloco de Esquerda, para todos os efeitos, podem e devem quebrar a "alegada disciplina ideológica" que o PS reclama como regra de ouro. Isso faz vibrar a democracia. Existem social-democratas comunas, como existem socialistas de extrema-direita, mas não significa que sejam nem peixe nem carne. Se não querem ver com olhos de ver, então estão metidos em grandes sarilhos. A NATO já não é a NATO, a União Europeia já não é a União Europeia, a Presidência dos EUA já não é a Presidência dos EUA, mas o PS continua igual a si. Geringonças há muitas. Depende da perspectiva.

publicado às 09:15

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Mariana Mortágua acerta em metade da sua afirmação: "A dívida é insustentável. A única coisa a fazer é reestruturar". A doutora tem razão em relação à primeira parte. A dívida vai determinar o berro governativo. É curioso que a doutora não discrimine adequadamente os itens. A dívida de que fala é a dívida pública (mas também existe uma privada, e deveras substantiva). E aqui entramos em contradição conceptual no que diz respeito à nacionalização do Novo Banco. Não existe já um banco público de seu nome Caixa Geral de Depósitos (CGD)? Como é que um Estado, que não se aguenta nas canetas, pode pôr às costas mais um banco? E tornamos ao primeiro axioma - a dívida, com um Novo Banco de Depósitos, ainda mais insustentável se torna. Não existe à face da terra nenhum banco público que aja exclusivamente de acordo com o interesse público. Não sei em que mundo vive a doutora. A própria CGD, se fosse o apanágio do interesse nacional, não poria à venda fundos de investimento controlados por gigantes especuladores semelhantes à Lone Star. E há mais nuances absurdas que andam a dar a volta à cabeça da doutora. Não sei de que reestruturação de dívida fala, mas no mundo real de investidores, Estados e governos, são entidades financeiras privadas que arcam com o peso de alargamento de prazos, embora possa parecer uma operação clean em que "entidades públicas" pagam - não é nada disso, nada mesmo. Em última instância é o aforrista privado que paga. Os governos apenas emprestam a sua falsa aura de salvadores da pátria. A reestruturação não é um jogo de soma-zero. Existe um mercado especulativo que vive desses processos. O problema da doutora é ver o mundo de um modo fantasiado, inquinado e pleno de vícios ideológicos, quando o universo já não funciona de acordo com teses que andou a defender na escolinha.

publicado às 13:38

Na hora da despedida de Obama

por Samuel de Paiva Pires, em 12.01.17

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 Na National Review:

The president is leaving the same way he came in: with a great deal of vague and fruity talk about “hope and change,” very little of genuine interest, and an undercurrent of bitterness communicating his unshakeable belief that the American people just simply are not up to the task of fully appreciating History’s unique gift to them in the person of Barack Obama.
 
(...)
 
As commander-in-chief, President Obama effectively lost the peace in Iraq, made a series of missteps that enabled the rise and the flourishing of the Islamic State (the so-called junior varsity of Islamic terrorism), helped turn Syria into a humanitarian disaster with his empty threats and then turned the mess over to the gentle offices of Moscow and Tehran, and failed to take seriously the threat of continued jihadist terror in the United States
 
(...)
 
Barack Obama has spent eight years under the misconception that the job of the president consists mainly in the making of speeches. And for a man who rose to national attention on the basis of his oratory, he has said relatively little that is memorable. That is because he has relatively little to say, being a man who brought no new ideas or insights to the office, only a pointlessly grandiose sense of his own specialness. He is a man who stood astride History muttering “You’re welcome, you ingrates.”

publicado às 12:23

quatro ponto dois dois sete de oxigénio

por John Wolf, em 11.01.17

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Uma emissão de dívida a 10 anos acima dos 4% nunca pode ser considerada um sucesso - "ter corrido bem". Por que razão deveríamos confiar em analistas e corretores de bolsa? Esses profissionais vivem da volatilidade, respiram especulação e irradiam a ideia de atalho económico - dinheiro fácil. Não são estes os médicos que devem ser consultados. Aliás, nem sequer são médicos. Tentam, a todo o custo, com SIVs (special investment vehicles) e outras receitas, alavancar ganhos e ignorar perdas. Os seus clientes são na maior parte dos casos uns borra-botas com ambições de Gordon Gekko, mas que não passam de tristes com carteiras compostas por títulos nacionais que "dizem conhecer melhor" e que por essa razão parva "confiam mais". No entanto, a concorrência do mercado de títulos de dívida é feroz. Não vejo porque razão um investidor no seu perfeito juízo arriscaria emprestar dinheiro à geringonça. Existem destinos de investimento mais sensatos, mais conservadores e mais rentáveis. E falo da Europa. Com tanta coisa boa ao dispor do freguês na mercearia, por que raio iria eu comprar títulos de DÍVIDA portuguesa? Prefiro olhar para titulos de CRESCIMENTO de pequenas, médias ou grandes empresas. Só um louco - como o Banco Central Europeu -, é que compra batatas podres. Mas cada um sabe de si, mesmo que aqueles que vos governam não tenham a mínima ideia do que andam a fazer. Chamem-lhe oxigénio, chamem. Génios.

publicado às 19:03

Hora de reparação moral

por Nuno Castelo-Branco, em 09.01.17

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Findou o período de espera, foram desaparecendo os imaginados obstáculos à urgente e imprescindível reparação moral que o país merece. Merece-o pela sua história secular e merece-o pelo necessário cumprimento de todas as cartas humanitárias a que o Estado internacionalmente se comprometeu.

Existe um muito relevante sector da sociedade que em silêncio tem assistido ao desfiar de décadas e visto morrer os seus entes queridos. Subitamente, em alguns momentos que todos compreenderão, assomam fúrias, faz-se a catarse contra quem, para o bem e para o mal, julgou poder assumir as responsabilidades pela liquidação de um património que não era apenas material, mas sobretudo, de uma certa consciência nacional que não se compraz com passageiras ventanias ditadas pelos apetites vindos de fora e julgados como perfeitamente utilizáveis para o desfasado refazer identitário de um povo visceralmente orgulhoso em toda a sua reconhecida humildade e que se se encontra hoje espalhado por todos os continentes. Essa reparação moral é absolutamente devida a brancos, a negros e mestiços de vários cruzamentos, a indianos e chineses, a índios, a cristãos, muçulmanos, hindus, animistas e outros. 

Muitos há que viram as suas famílias destroçadas e dispersas como folhas secas de outono. Os mais aventurados não conheceram ou assistiram à morte dos seus ceifados por catanas ou balas, por ébrios autos-da-fé avivados pelo combustível que faz mover praticamente todos os motores e interesses planetários. 

Portugal recebeu os frutos de uma colossal limpeza étnica e não consta ter o mundo dado conta disso. Num ruidoso silêncio chegaram e logo permaneceram relativamente expectantes de qualquer coisa que inicialmente até poderia ter sido uma forma de compensação pelo abrupto roubo, confisco ou destruição daquilo que para a imensa maioria eram parcas posses obtidas através do trabalho quotidiano. Poucos eram exploradores e mais escassos ainda eram os nomes ligados a grandes empresas que a passagem de testemunho do regime deposto provisoriamente alijou da preponderância económica e financeira, logo, da política da condução do Estado. 

Um ainda menor número retornou à terra que os viu nascer, a outrora Metrópole. Tal como em África e na Ásia, foram desde sempre leais a uma pátria ingrata e palidamente indiferente aos tormentos provocados de forma deliberada. Deliberada, pois a realização de um golpe de Estado que oportunamente foi baptizado como revolução, pressupunha a aceitação daquele sempre difícil dia seguinte, o da gestão de uma situação na qual todos colaboraram enquanto lhes foi conveniente.

Salvaram-se os que vieram, embora em boa parte reduzidos à mais confrangedora miséria material. Amontoaram-se naquele ..."demos-lhes tudo, até ficaram em hotéis de cinco estrelas, até no Ritz!" ou em roulottes emprestadas, acampados em tendas, patinhando décadas no lodaçal do Jamor, em pensões mais ou menos suspeitas, em casas degradadas. Quando puderam alimentar-se, comeram massa com massa, arroz com arroz, feijão quando havia e de vez em quando peixe, carne de frango e generosas rações de combate oferecidas pelo Real Exército da Suécia. Aturaram em silêncio todo o tipo de despautérios vindos de quem se julgava por cima. Mal vestidos e cabisbaixos, foram alvo da chacota geral, eram os tinhosos, tinhosos porque tinham isto e tinham aquilo e tudo perderam. 

Este país muito beneficiou com estes refugiados nacionais que o coloriram de norte a sul, inventaram profissões até então desconhecidas ou deixadas ao acaso. Não vieram para impor o que fosse, organizar atentados, guerrilha urbana ou exigir o impossível. Foram o sangue novo e vital de um organismo enfraquecido pela secular imobilidade social, pelo preconceito, estreiteza de horizontes, pela sacra má-língua e denúncia quadrilheira. 

Chegou a hora da imprescindível e incontornável reparação.

Exige-se que o Parlamento - à semelhança daquilo que ainda não há muito fez em relação aos judeus e cristãos-novos  que significaram afinal a grande maioria que jamais abandonou o país -, os três ramos das Forças Armadas que abandonaram muitas dezenas de milhar de seus camaradas de armas às mãos dos até há pouco inimigos, o governo e o próprio Chefe do Estado, apresentem em solene sessão um formal acto de reparação moral e a apresentação das devidas desculpas a todos aqueles, mesmo o que há muito se encontram no Além, foram ignominiosamente sacrificados à indiferença do oportunismo dos senhores que têm partilhado como casta, o poder.


É o mínimo. Não se pede a devolução de machambas, de uma imensidão de prédios, quintas, casas, fábricas, entrepostos, bancas de comércio e toda uma infindável quantidade de actividades que conformavam não apenas as vidas dos que tiveram a sorte de escapar para outros pontos do globo, mas também para aqueles que para sempre ficaram abandonados à miséria e prepotência que os noticiários batem com o ruído de tambores de guerra.

Exige-se, isso sim, aquele simples e muito mais difícil desculpem

Sem isso, nada feito, será impossível tapar com uma pesada pedra o imenso buraco de desfaçatez legislativa impossível de esconder, os actos de extorsão quando não de roubo descarado, ainda mais agravados por terem sido perpetrados por quem devia ter antes de tudo defendido os civis. É este o funeral que agora interessa e finalmente libertará as consciências de toda e qualquer reserva mental. Não se trata de vingança sobre a história consumada, mas sim de justiça moral. Será o regime finalmente capaz de tal grandeza?

Testemos então a sinceridade de quem comanda, vejamos então quem é quem. 

publicado às 18:25

Programa para mais logo

por Samuel de Paiva Pires, em 09.01.17

José Adelino Maltez - Liberdade, Pátria e Honra.

publicado às 13:33

Os Possessos

por Fernando Melro dos Santos, em 09.01.17

Hermeticamente isolado do transe colectivo que acometeu, uma vez mais, este país de carcaças ocas ansiosas pelo efémero preenchimento - um troféu desportivo, o maior chouriço do planeta, luzes impagáveis que iluminam obras inenarráveis, ou a morte de relíquias soviéticas - estive para decompor em partes mais simples, frase por demencial frase, o artigo que Fernanda Câncio assina hoje no folheto de associação estudantil que outrora foi o Diário de Notícias, e onde já só pontificam taradinhos em todos os tempos verbais: a assombração Ferreira Fernandes do Abril passado, a já citada escriba causoglífica do Abril presente, e rosadinhas crianças de um Abril que pretendem futuro eternamente cantante como Helena Tecedeiro e o Fialho Gouveia júnior. 

Da peça em apreço, porém, foi-me impossível extrair e comentar um parágrafo sequer. A profundidade onde já se incrusta, na mente de colmeia da população, o anelo pela voz do dono - qualquer voz, dimanada de qualquer dono que se arroube como tal - é num grau tão fora da escala que somente um embate de frente com a bancarrota total ou, Deus querendo, uma catástrofe natural que arrasasse o país poderiam, agora, fazer estacar o frenesim tribal desta gente. Que ainda haja quem pague a Fernanda Câncio para que emita, qual abelhinha histriónica, os ecos da dissonância cognitiva que tomou conta de Portugal é a borbulha precursora da doença autoimune, subjacente e muito mais grave do que os delírios telenovelescos da ex-concubina de Sócrates.

Por fim, preciso de deixar isto escrito em caracteres bem legíveis: Mário Soares, tal como o 25 de Abril, o socialismo, o fisco, as obras públicas, o aborto, o futebol, a praia, e as prebendas advindas de um Estado que extorque a quem produz para bafejar sobre o parasitário eleitorado - tudo isto, a mim, é matéria para o mesmo saco. Anacrónica, aviltante, indesejável, tóxica e repulsiva como os vapores fecais que pairam hoje sobre a Nação. 

Ainda bem que já não falta partirem todos. 

publicado às 11:06

Marcelo, déficit emocional e populismo

por John Wolf, em 09.01.17

 

 

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Em plenos dias de emoções à flor da pele, afectos e vazios, parece-me apropriado pensarmos o caso Marcelo Rebelo de Sousa de um modo mais expressivo. O presidente da República Portuguesa parece padecer de uma espécie de déficit emocional. Apenas deste modo se explica a sua incessante necessidade de ser amado a torto e a direito, de norte a sul pelos ares de gente e as gentes dos mares. O seu estado roça a condição psicótica e acarreta sérias consequências para o serviço político que se espera de um chefe de Estado. Por seu turno, o comportamento obsessivo-compulsivo do sujeito não vive a solo. É uma nação inteira falha de afectos que leva em ombros este estado de transe. São os recepientes dos abraços também responsáveis pelos fundamentos desta premissa psico-emocional registada em forma de beijos e selfies. Embora Marcelo possa parecer neutralizar polaridades, ao integrar a gama completa de sabores ideológicos, em abono da objectividade, a sua acção preenche os requisitos da construção populista. E é esse o perigo da sua toada de normalização - empresta a aura benigna, pacífica. Aos poucos, Marcelo vai-se desprovendo de espinha dorsal, vai perdendo o respeito político de actores de todos os quadrantes. A dada altura do realismo pragmático que o ultrapassará, o presidente terá de tomar a posição incómoda e inequívoca. Numa fase madura e de dor governativa, Marcelo terá de trair o guião de consensos e entendimentos que escreve. E Marcelo terá de virar a casaca se pretende sobreviver e alimentar a ideia de crédito institucional e presidencial. Marcelo procura em vida aquilo que Soares está a receber nesta sua hora. A mais alta homenagem, a tábua rasa de considerações supletivas, positivas. Para se ser amado em política não se pode amar desalmadamente. Lidamos, para todos os efeitos práticos e questionáveis, com um caso maníaco.

publicado às 09:43

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