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Nem sempre se pode fiar no que diz Cavaco (o que diz Cavaco?), mas desta vez o Presidente da República fala a verdade. Os efeitos (e as medidas) do programa de ajustamento far-se-ão sentir até 2035. E o chefe de Estado partilha este aviso porque em breve estará disponível para estar do outro lado da barricada, precisamente no mesmo campo onde a FMI ou o Banco Mundial têm as suas sedes - os mesmos que condicionam a vida portuguesa. Estará Cavaco Silva a piscar o olho a futuros patrões? Mas, mesmo assim, atingida essa data do calendário, apenas 75% dos dinheiros emprestados serão honrados. Alguém terá de responder pelos restantes 25%. No entanto, este discurso aterrador pode ter tido um efeito positivo - se não vai a bem, vai a medo. O PS já se mostra disponível para debater algumas questões com o Governo, ou, para todos os efeitos legislativos, o PSD. Será que o tal consenso nacional pode emergir a partir de um efeito pavloviano desta natureza? Será que lentamente começam a perceber que o salvamento do país é uma questão que tem de envolver todas as partes sem excepção? Em 2035, Cavaco Silva terá mais ou menos 100 anos de idade. Será, para todos os efeitos mais velho que a soma do Antigo Regime e dos 40 anos de Democracia em Portugal. Mas existirá melhor figura para ser o portador destas péssimas notícias? Penso que não. A haver alguém com o perfil certo para entregar este telegrama, essa pessoa é Cavaco Silva. Os outros, a caminho de Belém ou não, como Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa ou Guterres, decerto que prescindirão das verdades que comprometem seriamente as suas candidaturas. E é com isso que teremos de contar. A política que subalterniza o interesse nacional e o sentido de emergência que deve permear todas as instituições e figuras de Estado. Não será o caso, certamente.