De Lionheart a 11.07.2012 às 15:07
Como é que se está a resolver o desequilíbrio externo? Pelo lado da pobreza, tal como no tempo do Salazar. Podia ser diferente? Podia, se a "Europa" estivesse disposta a meter cá o "carcanhol". Como não está, e ainda quer receber o que lhe devemos e depressa, o que temos é uma enorme falta de liquidez na economia, que faz com não haja dinheiro para consumir. O resultado é o anunciado excedente comercial, embora pela via de uma enorme contracção no consumo e não tanto por um grande aumento das exportações (embora estas tenham aumentado também) porque para isso teria de haver um aumento na capacidade de produção e consequente aumento do "output". Como não tem havido investimento (pelo contrário), não foi isso que aconteceu. E o sector produtivo tem de crescer bastante para absorver os quase 900 mil desempregados (que seriam bem mais se não fosse a emigração, como reconhece Santos Pereira). Com um mercado interno tão deprimido e uma situação internacional em que não se sabe se a própria moeda que circula em Portugal sobreviverá, não há confiança para investir.
As consequências disto a nível de microeconomia, por exemplo, são que hoje em dia a maioria das empresas já não tem "stocks". Como muitas se abastecem no exterior, onde lhes é exigido pagamento a pronto (por causa do "rating" que Portugal tem) estas ou já não concedem crédito aos seus clientes, ou só fazem encomendas mediante encomendas. Poucas compram para ficar em armazém à espera de encomenda, pois a procura diminuiu bastante e assim arriscavam-se a não vender. Mais. Há empresas de países emergentes que desistiram de vender ferro e aço para Portugal, pois o nível das nossas encomendas baixou tanto, que o pouco que venderiam para cá não chegava para compensar os custos com o transporte marítimo.
Devemos pedir mais tempo à "troika"? Depende das condições que nos vai exigir em "tro(ik)a", porque se o Governo está reticente em aproveitar a "boleia" espanhola, não é só por querer fazer boa figura. Além disso, não deve haver ninguém mais farto da "troika" do que o Governo, que tem de levar com eles a toda a hora. Pedir mais dinheiro ou mais tempo (o que implica mais dinheiro) seria uma humilhação. Dinheiro que se esvairia depressa, e ainda tinhamos de levar com a má cara dos outros, como se nos estivessem a dar o "euromilhões". Queremos, ou não queremos, vê-los daqui para fora? Pode não haver alternativa, mas não se pode pedir mais tempo de ânimo leve, como se isso não trouxesse também consequências negativas para Portugal.
De acordo em toda a linha.
Muito bom comentário, Lionheart. O mais grave é justamente a questão da confiança: um ano depois e sem reformas de fundo e sem cortes decisivos na despesa corrente (nomeadamente nas PPPs), ninguém confia no país o suficiente para aqui investir. Podem vender a TAP, a NAV e os outros anéis que, a continuar assim, daqui a um ano estaremos exactamente na mesma.
De Lionheart a 11.07.2012 às 17:07
As PPP's são um enorme berbicacho para o país, não só para o Estado. Alguém tem de pagar porque Portugal endividou-se lá fora e agora tem os credores à perna. Imagine-se que o Estado se recusa a pagar. Pagam as construtoras e os bancos. Nesse caso ficariam em causa o nosso sistema financeiro (por mais detestáveis que sejam alguns banqueiros) e as maiores construtoras. Mais uns valentes milhares para o desemprego. Não vejo como o Estado pode escapar. Ou paga de uma maneira, ou de outra, porque o mal está feito. Mal esse que foi lançar obras para dar negócio a bancos e construtoras sem que as mesmas se justificassem, porque se fossem investimentos rentáveis o problema não se punha.
Uma coisa é certa, a economia não aguenta. As construtoras já estão a rebentar por si, pela queda do mercado. Penso que no caso das PPPs alguém terá que rebentar, e não será o Estado.
De Lionheart a 11.07.2012 às 21:21
Então será a banca a rebentar. De uma forma ou outra, vamos todos pagar esta brincadeira, porque as PPP's são a nossa "bolha".
Infelizmente, não é a única: há a bolha imobiliária, de que ninguém fala para fingir que não existe. Mas continua lá.