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«Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal». Não façamos desta frase mais do que o que ela é: um soundbite. Um de vários que fazem parte de uma tentativa, por via do marketing político, de conter os danos causados pela notícia da diminuição da receita fiscal apesar do aumento dos impostos. A solução seguida pelo Governo para equilibrar as contas públicas não está a resultar (por muitos elogios que venham do exterior), os sacrifícios exigidos para arrecadar mais receita estão a ser contraproducentes e arriscam-se a precipitar a economia nacional numa espiral recessiva. Esta é que é a questão. Isto e a crise do Euro é que são os factos importantes da política portuguesa no momento presente; tudo o resto é secundário. Por isso esta ofensiva de charme: «Não estamos a exigir demais ao País»,«as pessoas simples percebem», «eu estou mais magro porque tenho feito dieta». Soundbites.
O problema dos soundbites é que, se forem mal escolhidos, pode sair o tiro pela culatra. O português comum, que acha que os políticos são todos iguais e andam todos ao mesmo, simplesmente não "compra" este «que se lixem as eleições». Naturalmente que nem Passos Coelho, nem ninguém no PSD, nem nenhum político se está lixando para eleições, e até às de 2015 (se o Governo durar até lá), o «que se lixem as eleições» concerteza será lembrado e arremessado impiedosamente a quem o proferiu. Admira-me como é que políticos experientes e tão ciosos do mediatismo cometem erros tão crassos.
Eu não tenho má impressão de Pedro Passos Coelho (o facto de Cavaco não morrer de amores por ele por si só já é prestigiante) e compreendo que seja o alvo de fortíssimas pressões de todas as direcções. Mas, a avaliar por este primeiro ano de governo, penso que está muito longe de ser o PM que a situação do país exige neste momento, ainda que não se conheça alternativa e que - escusado será dizer - seja muitíssimo melhor que patife que o precedeu. O que não é muito difícil.