O início desta curta-metragem é particularmente sugestivo: a cena é assenhoreada pelo corte de um globo ocular. O simbolismo desta imagem, na sua violência chocante, esmaga-nos. Interpela-nos sub-repticiamente. Essa foi, em grande medida, a maior qualidade do surrealismo: o apelo ao inconsciente. Ao inconsciente aprisionado. Buñuel, numa sucessão de representações oníricas, captou, com a sua verve surrealista, única e torrencial, a psique do homem moderno. Com humor e fantasia. Para quem gosta da estética surrealista, e para quem quer, também, fugir ao horror do quotidiano nacional, tolo e estupidificante, vale a pena ver esta pequena película, um dos testamentos artísticos mais brilhantes de Luis Buñuel - devidamente secundado por Dalí.
No meu caso não foi aos 17 anos, mas sim, depois. Foi, também, uma experiência extraordinária. Desde então fiquei um devoto do cinema de Buñuel. La Belle de Jour, por exemplo.
Nota: Incluir Wagner na banda sonora, designadamente o Liebestod, é de mestre.