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Vejo que vai por aí uma enorme indignação com o discursozinho da eminência parda do regime. Reparem, Cavaco não disse nada de especial. O conteúdo do seu discurso foi, em grande medida, um desfiar incessante de platitudes. De mais a mais outra coisa não seria de esperar de um presidente inábil. Como sublinhou, e bem, Paulo Rangel, o estilo discursivo do Presidente não se caracteriza propriamente pela clareza textual. Não é defeito, é mesmo feitio. Dito isto, Cavaco fez bem em apelar ao consenso. Não gosto de palavrões mágicos, que tendem a reduzir a dinâmica da vida a um denominador comum pouco consentâneo com a realidade, mas, de facto, o compromisso entre as principais forças do regime é e será uma inevitabilidade. Cavaco fez o que lhe competia. E fez bem. As virgens ofendidas que têm criticado o discurso de Cavaco esquecem-se de um pequeno pormenor: o passado dos "seus" presidentes foi intrinsecamente feito de gestos facciosos. Se Cavaco encostou-se ao Governo, que dizer então de Soares ou Sampaio? A essência do regime é esta. O papel de um presidente no organigrama constitucional presente tende e tenderá sempre a conduzir a lógicas de facção. Aconteceu com os presidentes do passado e sucederá, certamente, com o actual presidente. Querem evitar isto? Muito bem, mudem a constituição, ou, então, mudem o regime.