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Se Mário Soares alerta Cavaco Silva para a perda de pacifismo dos Portugueses, também estaremos no direito de alertar Mário Soares para a falta de memória, a falta de memória política de um dos mestres da democratização portuguesa. Pelo tom do discurso inflamatório de Soares, que pisa o risco de incitação à violência, julgar-se-ia que estamos na presença de um indivíduo que não assinou capítulos inteiros da história contemporânea de Portugal. O estado a que chegou o País é o resultado de uma sociedade repartida por quotas desiguais de responsabilidade. Cotas ou mais recentes, têm todos culpas no cartório, que pesam na carteira dos Portugueses, nas suas vidas e nos seus sonhos. O idealismo socialista assumiu-se como o libertador das amarras do antigo regime, mas a ideologia, elevada ao seu mais alto grau de incompetência, atraiçoa a sua missão original. Os socialistas, quer queiram quer não, encontram-se no início e no fim do comboio que descarrilou; mesmo que queiram atribuir o fim da linha a outras carruagens partidárias, fazem parte da máquina desgovernada que ainda mexe. Quantos anos esteve Mário Soares no poder? E será que nada tem a ver com a desgraça? O que é necessário para fazer reemergir a platina da lembrança? Palha de aço? (não chamei palhaço, não senhor!). Tudo isto me faz lembrar aqueles cães que nunca deixam de urinar sobre o tapete. Por mais que se lhes esfregue os "detrimentos" na cara, nunca assumem, de um modo humilde, que foram eles. Que foram também governos socialistas, recentes ou esquecidos, que lá estiveram. Nunca colocam a cauda entre as pernas para ganir baixinho e de um modo sincero. A haver um genuíno sentido de Estado, o fundador Mário Soares deveria procurar uma ilha de sobriedade para se remeter a reflexões mais profundas condizentes com a condição de ancião da pátria. Ao tentar vender as últimas amostras de Esquerda unida que traz na mala de viajante, o ex-proeminente revela que pouco aprendeu em tantos anos de mester político. A Esquerda e a Direita já não existem nos termos em que o doutrinário está a pensar. De certo modo, há uma triste ironia no seu discurso. Ao dirigir tais palavras aos concidadãos, está a alcançar o país real - pobre e envelhecido. Que ainda se lembra do tempo da outra senhora, mas que se lembra também do tempo desta senhora. E Cavaco, que é a menina que se sabe, deveria tomar uma posição em relação à ameaça velada que Soares faz em nome dos Portugueses - a incitação à violência. Outro aspecto ainda: Soares quer lá saber do que Seguro anda a fazer nos últimos tempos! Anda o Seguro a esforçar-se a abraçar as frentes sindicais e a festejar as virtudes do consenso, e o Soares, em perfeita rebeldia com a ideia de encontro de vontades, promove a fractura de um modo muito básico. E estamos nós comprimidos nesta reserva política que tão rapidamente gostaríamos de esquecer.