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A recondução de Durão Barroso e o interesse nacional

por Nuno Castelo-Branco, em 09.06.09

 

Já nos habituámos a que no nosso país, sempre surjam indivíduos dispostos a contrariar aquilo que é de  óbvio interesse nacional. Por razões "ideológicas", espírito faccioso ou mera arrogante estupidez, julgam-se membros dessa inclassificável, perigosa e vazia de conteúdo categoria de "cidadãos do mundo". Por quase infalível regra, isto  traduz-se na passagem do testemunho a outrem, procurando agradar e neste campo, exemplos não faltam. É uma característica muito lusa, a de querer manifestar o apoio a alguém que não seja nosso compatriota, pois tal susceptibiliza em algumas toscas mentes, a ideia de que o afastamento da "condição de português" - logo tacanho, ignorante e atrasado - o aproxima daqueles que a imaginação lhe aponta como os modernos, avançados, arejados: em suma, "os outros", de preferência provenientes da Europa central ou do norte.

 

País irresponsavelmente reduzido à sua mais ínfima expressão geográfica, Portugal  tem uma premente necessidade de afirmação no contexto internacional, especialmente numa Europa que de nós tudo desconhece, muito despreza e pouco ou nada valoriza. 

 

Após décadas de condução de uma política de afirmação europeísta que escassos resultados obteve, o regresso ao natural espaço atlântico, consistiu na adequação da ainda incógnita UE a um caminho que sobretudo interessa a Portugal. Assim sendo, a presença de Barroso à frente da Comissão, serve não só os objectivos de afirmação nacional - relegando países política e economicamente mais importantes para um segundo plano de visibilidade em termos de presença institucional -, como também a necessidade defesa de um Ocidente açulado por múltiplas ameaças, onde o terrorismo, as migrações e o despontar de novas hegemonias, concitam a uma união de esforços.

 

Ao contrário daquilo que muitos pensam como um episódio continentalista de favorecimento de "um fraco", Barroso chegou ao topo da hierarquia comunitária, devido exactamente ao seu posicionamento pró-atlantista, ou por outras palavras, pela justeza de uma política de manutenção dos apertados laços que nos unem aos EUA. Para o bem e para o mal, os americanos continuarão a beneficiar por largas décadas da sua condição de superpotência e a impossibilidade de emulação federalista europeia, dita então a política a seguir em conformidade com os factos.

 

Conhecedor da tradicional política externa que durante séculos garantiu a independência de Portugal nas mais difíceis circunstâncias, a participação de Durão Barroso na Cimeira dos Açores marcou definitivamente a manifestação de uma  continuidade histórica, no momento em que a intrusão espanhola indiciava um render de guarda peninsular,  procurando atrair britânicos e americanos a um diálogo com apenas uma das componentes independentes da Ibéria. 

 

É fácil depararmos com as mais inacreditáveis interpretações acerca da política prosseguida por Durão Barroso, desde as ridículas chufas relativas à condição de porteiro, moço de recados, títere ou simplesmente, vaidoso útil, até às patéticas conexões tecidas à volta de grupos secretos de imaginários governos mundiais ocultos nas trevas de sociedades secretas, etc.

 

No que se refere à reeleição de Barroso para a presidência da Comissão Europeia, o residente de Belém e o primeiro-ministro têm toda a razão: o interesse nacional implica a unanimidade dos portugueses em torno do apoio à sua candidatura. No Parlamento Europeu, em todas as instâncias comunitárias, na comunicação social portuguesa que pretende formar a opinião pública. O contrário diminui a respeitabilidade de quem não consegue cumprir o seu dever, inalienável daquele sentido de permanente serviço público, neste caso, a Portugal.

 

Com o tempo, todos perceberão porquê.

publicado às 17:35


2 comentários

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De Samuel de Paiva Pires a 09.06.2009 às 19:13

É isto mesmo!
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De João Pedro a 09.06.2009 às 23:52

Permite-me que discorde, Nuno. Em 2004, Durão era realmente uma 2ª e 3ª escolha depois de outras falharem. As circunstâncias ajudaram à sua eleição. era preciso um consenso entre europeísmo e atlantismo, cujo fosso era simbolizado precisamente pela Cimeira dos Açores. Um dos nomes que esteve na calha era o de António Vitorino, que era comissário para a justiça (e com um trabalho de mérito sobretudo na área do terrorismo), mas a vitória do PPE não o permitiu. E uma dos episódios que demonstra a desconfiança face a Durão foram exactamente as desculpas que ele apresentou sobre o apoio à invasão do Iraque, quando precisou dos votos do PE para ser eleito para a comissão (sobretudo do Grupo Liberal).

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