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Fala-se muito de independência nacional mas até que ponto a consolidação dos processos autonómicos em Espanha não é na realidade um perigo para nós? O mesmo modelo tem tentado ser imposto em Portugal continental com pouco sucesso. Este tem sido sempre um projecto querido da esquerda ibérica. No passado, em 1936, uma das bandeiras por que se batiam os republicanos espanhóis, foi a da criação de uma federação de republicas socialistas ibéricas com patrocínio de Moscovo.
Sempre a mesma solução política de 1580 no sentido de um grande Estado Ibérico.
O partido socialista espanhol foi desde o inicio, o principal arquitecto da criação das regiões autónomas. Igualmente vários importantes dirigentes portugueses (Mário Soares entre muitos outros)da esquerda tem discretamente desde o 25 de Abril, defendido uma solução política confederativa a nível peninsular. Tudo leva a considerar que o alargamento das autonomias em Espanha não se trata de um processo de dissolução, mas sim de reestruturação do Estado espanhol. Processo esse no sentido da criação de uma espécie de federação Ibérica tutelada por Castela, onde Portugal passando de républica a monarquia, se poderia calmamente integrar, mantendo ainda uma ilusória independência política e económica.
Madrid desta forma resolveria de uma assentada os problemas políticos no país Basco, abrindo simultaneamente a porta à integração de um Portugal empobrecido e dividido em termos políticos (pode-se até certo ponto estabelecer alguns paralelismos com o país em 1580). Nesta minha perspectiva existe provavelmente um acordo político entre os socialistas espanhóis e portugueses em torno deste objectivo comum. Isso poderia explicar o cavalo de batalha que tem sido para os socialistas portugueses a questão da regionalização. Esse projecto ajudará a cimentar novos sentimentos de identidade que se pretende que incluam as regiões espanholas fronteiriças, como a Galiza e o Norte de Portugal.
Esta poderá ser uma explicação plausível para a política dos governos socialistas espanhóis que tem sempre optado por seguir uma via oposta à dos sectores conservadores, que sempre foram contra as autonomias reginais por consideraram como valores sagrados, a defesa da coesão e unicidade de Espanha (por todos os meios necessários).
Na realidade no que concerne às nossas elites políticas, por detrás destes projectos grandiosos, escondem-se interesses económicos vários, entre eles a miragem do acesso a novos fundos de coesão devido ao subdesenvolvimento das regiões portuguesas. Portanto novas oportunidades de enriquecimento fácil para mais políticos pobres e ambiciosos. O que me suscita dúvidas é a ideia de que Madrid irá injectar dinheiro sem impor grandes reformas que viriam, como no passado, tornar aprejudicar os privilégios e interesses dos poderosos (como em 1640). Nessa altura voltaremos provavelmente a falar de independência nacional. Acho impensável e muito ingénuo acreditar que os Espanhóis iriam despejar dinheiro neste "saco roto" sem tentar combater a corrupção, desperdício e anarquia que imperam por cá. O sistema judicial teria de funcionar e as leis teriam de ser modificadas no sentido da maior severidade. Não se pode pensar que eles não sabem como as coisas funcionam por cá e do sentimento de impunidade que reina no seio de alguns grupos. Tenho ouvido por mais que uma vez, a pouca fé que se faz em Espanha na honestidade portuguesa. Uma nova união Ibérica poderá portanto muito bem ser uma ilusão e uma porta aberta a novos conflitos.
No entanto existe um aspecto interessante resultante da integração económica crescente entre os dois países, que é o de tornar ainda menos realistas e mais anacrónicos os projectos da extrema esquerda. Em que medida será actualmente e no futuro possível nacionalizar a banca e empresas portuguesas dominadas por capital estrangeiro? No caso duvidoso de vencerem as resistencias interna e externa, só restaria a possibilidade de criar um bloco económica com Cuba e com a Venezuela.
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