Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Depois de uma semana por Kiev, cidade que, confesso, não deixa muitas saudades, principalmente tendo em consideração a responsabilidade dos soviéticos na destruição do património histórico que a Kiev de tónica mais imperial tinha, volto a Portugal e continuo com o mesmo sentimento que já me vem assolando há algumas semanas, no que diz respeito a comentários e análises à actualidade: estou sem paciência.
Estando a trabalhar durante o dia, tendo aulas de mestrado à noite (que para mim só começam amanhã), e com muito trabalho pela frente ao longo do próximo ano, confesso que a boçalidade que caracteriza a vida pública do país se tem tornado demasiado atroz para que me digne sequer a desperdiçar o pouco tempo que me resta a comentar seja o que for. Ainda bem que o período eleitoral está terminado. Já estava a ser demais tanto espectáculo de uma pobreza franciscana, que em pouco ou nada ajuda o país.
Acrescente-se a isto as leituras de cabeceira dos últimos tempos, que, de facto, só alimentam este sentimento. Um, Pulido Valente, dá-nos um excelente retrato que permite perceber como tem vindo a funcionar o país desde 1820 (Portugal - Ensaios de História e Política). Outro, Medina Carreira, proporciona-nos uma ilustração fiel do abismo para onde nos vamos paulatinamente dirigindo (Portugal Que Futuro?).
Qualquer sentido de desinteressado serviço público, ao país e à nação, está condenado ao fracasso no contexto de degenerescência acentuada em que nos encontramos. Em grande parte fruto de uma questão cultural e educacional, como aponta Medina Carreira. Já Popper, quando se começou a aperceber da forma como o relativismo estava a afectar negativamente as democracias e os seus sistemas educacionais, tentou relembrar que a maior aspiração da democracia sempre foi a de elevar o nível educacional. Infelizmente, como tantas vezes por aqui tenho escrito, não é o que se verifica em Portugal, o que só acresce aos mais ridículos debates político-partidários a que podemos assistir quase todos os dias.
Sou um democrata e um liberal por definição, no que diz respeito a ideais, mas não posso deixar de reconhecer que a democracia portuguesa é cada vez mais, apenas e só, a demagogia de uma série de indivíduos que vão (des)governando a nação, justificando-se com a ditadura da maioria. Nada que não se pudesse antecipar, dada a democracia de inspiração jacobina que temos em Portugal. E isto exaspera-me.
Junte-se a isto o facto de sentir que muitas vezes me estou a repetir, e que preciso de usar o pouco tempo disponível para ler muito, para estudar, para reflectir, e cada vez tenho menos disposição para comentar seja o que for. Às tantas já nem sei bem o que ando aqui a fazer. Espero que as aulas do mestrado em Ciência Política me dêem novo alento para voltar a sentir aquele gosto pela escrita blogosférica que até há uns meses me animava. Até lá, peço desculpa aos amigos e leitores mas não ocuparei muito tempo a comentar a actualidade política portuguesa. Remeter-me-ei, no essencial, à política internacional e à teoria política, quando me parecer pertinente. Talvez esteja mesmo é a precisar de férias.