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De volta a Portugal

por Samuel de Paiva Pires, em 12.10.09

 

Depois de uma semana por Kiev, cidade que, confesso, não deixa muitas saudades, principalmente tendo em consideração a responsabilidade dos soviéticos na destruição do património histórico que a Kiev de tónica mais imperial tinha, volto a Portugal e continuo com o mesmo sentimento que já me vem assolando há algumas semanas, no que diz respeito a comentários e análises à actualidade: estou sem paciência.

 

Estando a trabalhar durante o dia, tendo aulas de mestrado à noite (que para mim só começam amanhã), e com muito trabalho pela frente ao longo do próximo ano, confesso que a boçalidade que caracteriza a vida pública do país se tem tornado demasiado atroz para que me digne sequer a desperdiçar o pouco tempo que me resta a comentar seja o que for. Ainda bem que o período eleitoral está terminado. Já estava a ser demais tanto espectáculo de uma pobreza franciscana, que em pouco ou nada ajuda o país.

 

Acrescente-se a isto as leituras de cabeceira dos últimos tempos, que, de facto, só alimentam este sentimento. Um, Pulido Valente, dá-nos um excelente retrato que permite perceber como tem vindo a funcionar o país desde 1820 (Portugal - Ensaios de História e Política). Outro, Medina Carreira, proporciona-nos uma ilustração fiel do abismo para onde nos vamos paulatinamente dirigindo (Portugal Que Futuro?).

 

Qualquer sentido de desinteressado serviço público, ao país e à nação, está condenado ao fracasso no contexto de degenerescência acentuada em que nos encontramos. Em grande parte fruto de uma questão cultural e educacional, como aponta Medina Carreira. Já Popper, quando se começou a aperceber da forma como o relativismo estava a afectar negativamente as democracias e os seus sistemas educacionais, tentou relembrar que a maior aspiração da democracia sempre foi a de elevar o nível educacional. Infelizmente, como tantas vezes por aqui tenho escrito, não é o que se verifica em Portugal, o que só acresce aos mais ridículos debates político-partidários a que podemos assistir quase todos os dias.

 

Sou um democrata e um liberal por definição, no que diz respeito a ideais, mas não posso deixar de reconhecer que a democracia portuguesa é cada vez mais, apenas e só, a demagogia de uma série de indivíduos que vão (des)governando a nação, justificando-se com a ditadura da maioria. Nada que não se pudesse antecipar, dada a democracia  de inspiração jacobina que temos em Portugal.  E isto exaspera-me.

 

Junte-se a isto o facto de sentir que muitas vezes me estou a repetir, e que preciso de usar o pouco tempo disponível para ler muito, para estudar, para reflectir, e cada vez tenho menos disposição para comentar seja o que for. Às tantas já nem sei bem o que ando aqui a fazer. Espero que as aulas do mestrado em Ciência Política me dêem novo alento para voltar a sentir aquele gosto pela escrita blogosférica que até há uns meses me animava. Até lá, peço desculpa aos amigos e leitores mas não ocuparei muito tempo a comentar a actualidade política portuguesa. Remeter-me-ei, no essencial, à política internacional e à teoria política, quando me parecer pertinente. Talvez esteja mesmo é a precisar de férias.

publicado às 00:34


1 comentário

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De Augusto Canedo a 13.10.2009 às 02:24

Caro Samuel de Paiva:
Passei por aqui, como quem não quer a coisa, e deparei-me com a consternação dos circunstantes pela sensaboria da vida pública portugesa.
Deixe-me que o felicite pela elevação do seu blog, neste marasmo que é a cultura blogosférica nacional.
Vou-lhe contar uma história: era uma vez um cavalheiro que caiu à água, não sabendo nadar. Já no fundo do mar, enquanto fenecia, ainda teve tempo de reparar que a água estava demasiado fria, tendo desejado ter caído antes no fundo duma piscia aquecida.
Aquele desgreaçado, no seu estertor, não se apercebeu que o que o estava a matar não era a temperatura da água, mas a própria água em si.
Também à nossa volta pululam críticas como a sua, no sentido de que é necessário melhorar a qualidade da nossa democracia, sem se aperceberem de que é a própria democracia que nos está a matar.
Democrata e liberal por definição, quando a Pátria está a arder?l
Que Deus lhe perdoe, Senhor Samuel de Paiva!
Cumprimentos.
Augusto Canedo, escritor de Ciência Política, contra-revolucionário e tudo.

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