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O conhecido milionário e ex-colonial-africanista Almeida Santos, insurgiu-se contra a aquisição dos submarinos da Armada, recentemente construídos na Alemanha.
Presidentes, ex-presidentes, conselheiros de Estado e afins, são parte daquele selecto grupo de personalidades com capacidade para conformar os destinos do país e em lógica contrapartida, deverão ser exactamente aqueles melhor preparados e aconselhados para a tomada de posições políticas. A questão dos submarinos que tem vindo a envenenar há anos a vida política portuguesa, obedece a toda uma série de equívocos, processos de reserva mental ou simples arma de arremesso a utilizar numa situação azada.
Almeida Santos é para o contribuinte, uma personagem dispendiosa e tem a obrigação de se informar antes de propor a venda das mais recentes e tecnologicamente avançadas unidades da Marinha. A falta de informação de que o cidadão comum padece - especialmente no que se refere a todos os assuntos de índole militar -, leva a tomadas de posição geralmente consentâneas com o imediatismo da notícia fácil, onde o desfiar de milhões serve sempre como chamariz à demagogia.
Os submarinos são caros e ninguém nega a evidência, especialmente neste momento de crise que não pode, nem deve ser apenas imputada a factores externos. Nem sequer mencionando as capacidades de acção destas unidades (ver especificações gerais AQUI), os submarinos vêem afinal ao encontro daquilo que a política externa portuguesa sempre foi, ou seja, tradicionalmente atlantista por imposição da nossa situação geográfica, da preservação da integridade e independência nacional e não menos importante, significando a garantia da soberania sobre uma vasta superfície oceânica que é fruto da directa cobiça de certa potência vizinha. De facto, desde que o nosso mais directo adversário político e económico ingressou na NATO, tudo tem feito para mitigar a presença portuguesa no Atlântico Norte, ao mesmo tempo que de forma mais ou menos velada contesta a posse portuguesa sobre territórios estratégicos como as Selvagens. O controlo dos recursos a explorar num futuro não muito distante, o reaproveitamento do valor dos Açores e a afirmação nacional no concerto das nações, impõe uma Marinha Nacional moderna e eficiente.
Há décadas bombardeados incessantemente por uma propaganda desmoralizadora, os portugueses aprenderam a olhar as Forças Armadas como uma fonte de despesa, enquanto os próprios titulares da soberania delas se servem para as mais variadas missões de índole claramente política, sob a prazenteira capa da ONU. Mal equipadas e exíguas, exige-se muito e oferece-se pouco. É quase um milagre o facto de até hoje nenhuma catástrofe ter sucedido a qualquer uma das missões no estrangeiro, dada a conhecida parcimónia na disponibilização de recursos mínimos para o cumprimento das tarefas.
A Armada não só precisa destes submarinos - apenas dois - como também tem imperiosa necessidade de ver crescer os efectivos e o número de unidades de patrulha e de intervenção rápida. Navios modernos e com equipagens bem treinadas, capazes de garantir aquele que é há séculos o destino de Portugal: o mar, vital para a manutenção da nossa influência na CPLP, na estrutura da NATO e também, para a obtenção das vantagens económicas presentes neste grande filão que o futuro próximo garante.
Além da arrogante ignorância do sr. Almeida Santos, o mais preocupante consiste na verificação da existência de uma corrente que no seu partido advoga a tomada de posições concludentemente lesivas do interesse colectivo. Se a apontada ignorância consistir apenas num impulso populista que ciclicamente afecta quase todos os agentes políticos, nada temos que temer. Mas, se pelo contrário, se erigir em pura estupidez na condução dos negócios públicos, o caso torna-se muito mais sério e prenhe de consequências.
Aliás, o sr. Almeida Santos há muito se devia ter retirado da vida política, gozando a sua reforma e preocupando-se em exclusividade, com os seus afazeres empresarias. Ele e muitos outros que por aí ainda deambulam não se sabe bem com que fim.