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O tempo, a má experiência de ter tentado trabalhar com partidos, que, como agora, mostraram mais não ser que meros " empatas ", constituídos por " politiqueiros ávidos sem nenhum conhecimento dos interesses e aspirações nacionais ", obrigaram D. Carlos a repensar o caminho encetado por Portugal havia muito já.
Como antes dele D. Pedro V, considerava " corruptos, ineficientes e imorais" tais partidos, e como o seu antecessor entendia ser seu dever " governar, sem se limitar ao acto de reinar ", pois, como escreve Rui Ramos, " Os reis de hoje são, por vezes apenas, pouco mais do que celebridades, figuras que geram mais noticiários para as colunas de sociedade e revistas cor-de-rosa do que para as páginas de análise política. D. Carlos não foi um rei desses. "
de maravilha, pelas virtudes místicas do Sebastianismo, na sua parte positiva, como interpretação psicológica da nossa História, que nos ensina a crer no amanhã de Portugal ( ... ) ».
Um muito curto excerto de artigo de António Sardinha lido há dias - " Pratiquemos um acto de inteligência! " -, onde refere as " memorandas " palavras proferidas em 1880 por Antero Quental: " A literatura portuguesa está em decomposição. Ainda há quem escreva coisa literárias, mas a literatura nacional acabou. O que não admira: onde a nacionalidade é coisa morta, o que poderá ser a literatura? ".
Felizmente era apenas o exarcebado pessimismo de Antero a falar, e, depois dessa sentença de morte, a nossa literatura revelou-se de um vigor invejável.
Hoje, continuando a ler o livro ontem iniciado, de Júlio Brandão, « Bustos e Medalhas », leio, muito a propósito, umas páginas dedicadas a Afonso Lopes Vieira: " Em meio da desnacionalização que lentamente se vai operando, não só em Portugal, mas em muitos outros países, dá gosto ver a atitude de alguns dos nossos escritores, em manter e defender o carácter da raça e o génio fundamental da nossa Literatura ( ... ) Afonso Lopes Vieira é um dos paladinos da mais fina bravura e de maior talento nessa defesa augusta do que ele chama O Graal - que é não deixar perder-se o sangue de Portugal, a alma lírica e heróica do nosso Portugal; e salvar ainda, naturalmente, da decomposição que a mina, esta língua saudosa em que escrevemos "
Está, outra vez, chegada a altura de Buscar O Graal, defrontados, de novo, com um, mais profundo ainda, fosso de desnacionalização.
SAUDADES TRÁGICO-MARÍTIMAS
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Na praia, de bruços,
fico sonhando, fico-me escutando
o que em mim sonha e lembra e chora alguém;
e oiço nesta alma minha
um longínquo rumor de ladainha,
e soluços,
de além...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
São meus Avós rezando,
que andaram navegando e que se foram,
olhando todos os céus;
são eles que em mim choram
seu fundo e longo adeus,
e rezam na ânsia crua dos naufrágios;
choram de longe em mim, e eu oiço-os bem,
choram ao longe em mim sinas, presságios,
de além, de além...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Naufraguei cem vezes já...
Uma, foi na nau S. Bento,
e vi morrer, no trágico tormento,
Dona Leonor de Sá:
vi-a nua, na praia áspera e feia,
com os olhos implorando
– olhos de esposa e mãe -
e vi-a, seus cabelos desatando,
cavar a sua cova e enterrar-se na areia.
– E sozinho me fui pela praia além...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Escuto em mim, – oiço a grita
da rude gente aflita:
– Senhor Deus, misericórdia!
– Virgem Mãe, misericórdia!
Doidos de fome e de terror varados,
gritamos nossos pecados,
e sai de cada boca rouca e louca
a confissão!
– Senhor Deus, misericórdia!
– Misericórdia, Virgem Mãe!
e o vento geme
no vulcão
sem astros;
anoitecemos sem leme,
amanhecemos sem mastros!
E o mar e o céu, sem fim, além...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Ah! Deus por certo conhece
minha voz que se ergue, branca e sozinha,
– flor de angústia a subir aos céus varados
p'la dor da ladainha!
Transido, o clamor da prece
do mesmo sangue nos veio
Deus conhece os meus olhos alongados;
onde o mar e o céu deixaram
um pouco de vago anseio
nesse mistério longo do seu halo...
Rezam em mim os outros que rezaram,
e choraram também;
há um pranto português, e eu sei chorá-lo
com lágrimas de além...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Ó meu amor, repara
nos meus olhos, na sua mágoa clara!
Ainda é de além
o meu olhar de amor
e o meu beijo também.
Se sou triste, é de outrora a minha pena,
de longe a minha dor
e a minha ansiedade.
Vês como te amo, vês?
Meu sangue é português,
minha pele é morena,
minha graça a Saudade,
meus olhos longos de escutar sem fim
o além, em mim...
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar
Afonso Lopes Vieira, « Ilhas de Bruma »
" E tanta era a sinceridade das suas palavras e dos seus versos, que numas e noutros ninguém poderá descobrir o vulgar brilho que falsamente refulge e com o qual tantas vezes se douram e desdouram reputações. Poeta por alto destino, Troveiro da Tradição, incansável apóstolo do patriotismo verdadeiro, arauto da ternura e nobreza do nosso Povo, saudável preceptor da sensibilidade portuguesa "
Hipólito Raposo, « Modos de Ver »
" A independência do poder judicial é hoje uma das mentiras convencionais em que fingimos acreditar e que tem sido sucessivamente consignada em todas as constituições que em Portugal se têm promulgado.
No entanto, jamais essa independência foi garantida, no período constitucional, pela forma prática que os forais procuravam assegurar-lhe. Aí a independência da Justiça era assegurada por um conjunto de disposições de carácter positivo e eficaz, e não pela simples enunciação do princípio, como se faz modernamente.
A magistratura era exercida em cada concelho por dois juízes ( alcaides e alvazis - juízes ordinários - ) eleitos pelos homens-bons. Estes magistrados distribuíam a Justiça, julgando imparcialmente os pleitos de todos os vizinhos. Nem os nobres orgulhosos, nem os arrogantes infanções podiam eximir-se à acção da Justiça Municipal.
A seguinte disposição disposição do Foral de Lisboa era frequente na maioria dos forais e costumes dos outros concelhos: « Não haja na vossa vila pessoa tão privilegiada que possa sustentar o mal que tiver feito a qualquer dos seus vizinhos e eximir-se de lhe dar reparação pelo alcaide e pelos alvazis ».
Algumas vezes, é certo, pretenderam os reis intervir na escolha dos alvazis, mas logo o concelho levantava o seu protesto, e a prerrogativa municipal era acatada e mantida. Foi o que sucedeu, por exemplo, com os vizinhos de Coimbra, que tendo levado às cortes o seu agravo contra a usurpação que o poder real pretendia fazer-lhes, obtiveram esta resposta: « Quanto às queixas relativas aos alvazis, que El-Rei pretende nomear só por si, responde ele que o concelho eleja os seus alvazis, como era de uso em tempo de seu pai e de seu avô ». "
A. Xavier Cordeiro in « Nação Portuguesa »
" A « Nação Portuguesa » defende a Monarquia Orgânica, Tradicionalista, Antiparlamentar, isto é, a verdadeira Monarquia, sistema governativo que substitui a unidade indivíduo pela unidade corporação e em que todas as corporações, públicas e privadas, obedecendo à disciplina de uma natural organização hierárquica, podem colaborar na medida dos seus interesses para o engrandecimento e prosperidade nacional . Almeja o regresso de Portugal aos princípios políticos que fizeram a felicidade da Pátria na Era de Quatrocentos e que a Renascença com o seu absolutismo dinástico veio desvirtuar. Então o Povo era uma realidade consciente e o Rei a consciência dessa realidade. Estes dois poderes entendiam-se adentro do estado e por tal forma se equilibravam, que não havia abuso por parte de qualquer deles, que logo o outro, na sua acção moderadora, não conseguisse neutralizar. Se qualquer monarca pretendia pretendia lançar tributos que melhorassem a Fazenda Pública , tinha por costume e obrigação escutar os representantes dos concelhos. E não poucas vezes, como nas Cortes de Leiria de 1372, os procuradores das cidades e vilas respondiam ao pedido régio com um « não » muito decisivo, que nunca admitia contestações. Nesse momento, era sem dúvida o Rei que se inclinava ante o supremo interesse do Povo.
Mas foram-se, pouco a pouco, esquecendo os velhos usos; como que adormeceram as antigas tradições. A tendência centralista favoreceu o absolutismo da Coroa, diminuindo consideravelmente as primitivas regalias populares. Assim se viveu neste Reino durante três séculos de História. E quando o senhor D. Miguel, reconhecendo os erros de tão abusivo poder pessoal, apelava para os concelhos, dando-lhes força, vieram as ideias da Revolução Francesa, como outrora tinham vindo as da Renascença Italiana, alterar a corrente evolutiva da nossa Tradição. "
Alberto Monsaraz.