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A bandeira de Porto Rico, plagiada pelos independentistas catalães.
Para se ser bom português, há que odiar espanhóis. Não vem ao mundo em Portugal quem não saiba que de Espanha, nem bom vento nem bom casamento.
De facto, nas últimas semanas o lusito exaltou com a intentona independentista catalã, pois crê piamente que inimigos dos inimigos seus amigos são.
Antes, porém, se um português visse um catalão, não o distinguiria de um basco, galego ou de um andaluz, mas as redes sociais dos últimos meses mostram-nos um lusitano culto, com conhecimentos acima da média. Deixou a bola por alguns dias e estudou a História da Catalunha concluindo que desde a Pré-História aquela região reclama pela liberdade subjugada por esses malditos espanhóis.
Desconhece as tentativas de D. Manuel I para reinar na Península Ibérica (Catalunha incluída) ou que a coroa espanhola foi no séc. XIX ofertada a D. Fernando, consorte de D. Maria II, mas garante que Afonso Henriques foi uma espécie de Puigdemont que também realizou um referendo, rasgando à frente da sua mãe, D. Teresa de Leão, a Constituição Espanhola!
Até Miguel Esteves Cardoso embarcou nesta lide romântica, primeiro com um clikbait, usando a ironia para rebaixar o maligno império espanhol, depois para (ainda que monárquico confesso, diz) insultar o rei de Espanha e apoiar o arrimo catalão.
Do português que milita nas redes sociais não espero muito, pois a sua má gramática representa-o. Mas de MEC esperava bom senso, pelo menos no tempo em que era escritor sério e não o actual mau crítico de gastronomia pago por restaurantes de duvidosa confiança.
MEC tem todo o direito a apoiar qualquer grupo terrorista, em qualquer parte do mundo. Mas convenhamos, basta estudar a sério (e não vale recorrer à Wikipédia) para que perceber que o movimento independentista catalão não é nem nunca foi espontâneo, consensual e orgânico. Um eleitorado urbano de Esquerda, Republicano e Revolucionário constrói, desde o século XIX, a ideia de uma consciência barcelonesa, com que valencianos, habitantes de Navarra, Aragão e franceses não se identificam.
É claro que estamos perante a primeira revolução separatista feita pelas redes sociais. Sem as estratégias violentas da ETA ou do IRA, os separatistas catalães utilizam a manipulação social e mediática. Não há maior arma do que a palavra. Basta analisar o perfil social e político desta gente, como o fez Jorge Almeida Fernandes: «[o independentismo catalão] tem também mais êxito entre pessoas com estudos universitários ou pós-graduações, que é um indicador de classe e indicia rendimentos altos».
Não existem, porém, hoje, Simões Bolivares ou Garibaldis, montados a cavalo e lutando por ideais oitocentistas. O melhor representante da Catalunha é um ex-jornalista, que foge num avião, encena um exílio, transforma-se em mártir de um velho medo imperialista e acena com o odioso franquismo, tão útil às Esquerdas espanholas para justificar toda e qualquer oposição.
Numa coisa MEC tem razão. A apropriação da Península Ibéria pela Hispânia que sempre absorveu o velho reino, hoje república portuguesa, diluiu-nos numa geografia fatal. Mas se pensarmos na ideia da jangada de pedra inventada por Saramago, aquele bocado do calhau que quer separar-se é sinal de naufrágio.
E depois não teremos só espanhóis para odiar. Odiaremos nós os galegos e os andaluzes? Os catalães e os bascos?
É que orgulhosamente sós nesta jangada estamos nós há mais de 800 anos.
#catalunha #catalonya #puigdemont