Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Eu sei que a Turquia e a África do Sul estão a grande distância física de Portugal. Mas esse facto não deve ser subestimado. A mera sugestão de abrandamento do programa de estímulo financeiro levado a cabo pela Reserva Federal dos EUA ( na ordem dos 10 mil milhões de dólares), foi mais que suficiente para fazer subir as taxas de juro e gerar ondas de choque naqueles dois países. Este sintoma de pânico moderado não deve ser ignorado. Serve de indicador para efeitos que se farão sentir noutras paragens à medida que o preço do dinheiro retomar a sua via ascendente. São externalidades desta natureza que me preocupam especialmente. Os políticos europeus, nos quais incluo os portugueses, parecem fazer contas de somar sem levar em conta eventos excêntricos. A subida de taxas de juro "per se" causa desgaste em economias emergentes, ou nas desenvolvidas, já de si debilitadas pelas agruras da crise que começou a ganhar expressão em 2008. A subida das taxas de juro afectará as empresas que desejam reunir as condições de financiamento para dar continuidade às suas operações ou aquelas que pretendem realizar start-ups. São desalinhamentos desta natureza, assimetrias deste género, que poderão fustigar as boas intenções daqueles que sonham com a saída do programa de assistência a 17 de Maio deste ano. Por outras palavras, tenho dúvidas que o presente ambiente de dinheiro fácil tenha sido aproveitado para relançar a economia. Quando a hora das necessidades chegar, o comboio do dinheiro fácil já terá partido. Temo que Portugal venha a ser apanhado em contra-pé quando os EUA decidirem travar as medidas de estímulo de um modo mais brusco. Por essa razão a Reserva Federal tem sido cautelosa no "abandono da dependência". Os mercados e as economias de todo o mundo vivem sob a sombrinha dessas medidas extraordinárias, inventadas para relançar a economia americana, mas que se fazem sentir a grande distância dos domínios do Uncle Sam. Os decisores monetários norte-americanos sabem que a coisa tem de ser feita devagarinho para não causar muita mossa, mas em última instância, o sistema financeiro global é um animal que não pode ser domesticado para mitigar os mais que prováveis efeitos colaterais. Por essa razão o que se passa na Turquia e na África do Sul interessa (e muito) aos decisores políticos locais. Podem bradar aos céus que isso é lá com eles, mas não é bem assim. O BCE que se cuide e tome as medidas cautelares adequadas, nomeadamente a implementação das suas próprias medidas de estímulo das economias da periferia, mas sem esquecer as do centro que se degradam a cada dia que passa.