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Arnaldo Matos: saiu-lhes o tiro pela culatra

por Nuno Castelo-Branco, em 22.04.14

Como seria de esperar, têm sido bastante evidentes as acções que visam um aproveitamento situacioneiro do 25 de Abril, fazendo-o coincidente com a felicidade oferecida por um próximo momento eleitoral. No caso desta rollice sob a alegada orquestral batuta do Sr. Rosas e passando sobre as minudências que a ninguém poderá estranhar, o painel que hoje esteve na mesa de oradores do Teatro D. Maria II, valeu pela presença de Arnaldo Matos. José Ribeiro e Castro dissertou sobre a evolução do sistema partidário instituído em 1974 e de Marcelo Rebelo de Sousa, apenas há a recordar dois factos: o primeiro consiste no súbito esquecimento curricular da sua condição de actualíssimo dirigente da Fundação da Casa de Bragança, quiçá uma muito oportuna atenção amiga da moderadora Flor Pedroso. O segundo, o pleno reconhecimento dos artifícios que têm sido utilizados pelo cartel partidário - os famosos 4 + 1 - para a manutenção daquilo a que normalmente se designaria de partidocracia.

Arnaldo Matos falou de história, alijando toda a aborrecida tralha de desculpas sem justificação que há umas duas gerações nos é ministrada de forma exaustivamente copiosa. O antigo dirigente do MRPP disse a verdade acerca dos muito difusos contornos do golpe de Estado de 1974 e pôs a nu a bastante discutível heroicidade daqueles capitães-panceiros que ultimamente e de forma teimosa, insistem em importunar-nos na hora das refeições. A assistência estava entre o siderada e o incomodada, sendo bastante evidente o embaraço causado pela audição de palavras que não cabiam naquele formato logicamente pré-determinado de preenche agenda laudatória.

 

As revelações do antigo dirigente maoísta, deixaram Rebelo de Sousa com um mal esgalhado sorriso afivelado à sempre desesperada procura do politicamente correcto para os senhores do poder. Doze minutos. Doze minutos foram concedidos a Arnaldo Matos, quando teria sido muitíssimo mais interessante ter sido ele o único convidado, desvendando situações desconhecidas pela imensa maioria dos portugueses. A crise que conduziu à sabotagem do reforço das guarnições militares no Ultramar; a tomada de assalto do aparelho estatal por forças em disputa e sob o controlo de militares que provavelmente muito interessados estariam em tutelá-lo num indefinidamente prolongado período temporal; o cerceamento da liberdade de expressão, claramente evidenciado pela inacreditável proibição da participação do PDC e do MRPP nas eleições constituintes; o abuso da recusa do regime em referendar actos transcendentes e de lesa-soberania nacional, como o ingresso na então CEE ou a adopção do ruinoso Euro.

 

A história mais relevante ficou por contar, reportando-se ao momento do golpe de 25 de Novembro. Durante décadas temos assistido àquilo que Arnaldo Matos bem evidenciou e que na liguagem popular se traduz na expressão "a culpa morreu solteira". Fracassada a tentativa putschista daqueles que protagonizaram o chamado Verão Quente de 1975, nessa mesma noite e de forma bastante elucidativa assistimos a uma absolvição em directo, pois Melo Antunes ressalvou o "papel essencial do PC" na consoldação da democracia. Enfim, sem jamais tal coisa ter sido formalmente reconhecida, o país ficou seguro do envolvimento daquele partido no último impulso para a prossecução dos fins a que se propunha. Se ainda poderá existir alguma dúvida, bastará aos curiosos uma sumária pesquisa nos jornais daquele momento, desde o Avante! e folhas anexas, até ao Diário de Lisboa e muitos outros. Já se julgavam senhores da situação, a meta era atingível e consideravam os demais como obstáculos ultrapassáveis pela dinâmica criada por quem se considerava experiente nestas lides revolucionárias. As emissões de rádio afinavam pelo mesmo diapasão, não esquecendo uma RTP demasiadamente colaboracionista. Quando Melo Antunes pronunciou a sentença que ficou famosa, soubemos a quem teria aproveitado o sucesso do golpe.

 

Arnaldo Matos afirmou saber quem no dia 25 de Novembro de 1975 terá solicitado asilo na embaixada checoslovaca em Lisboa. Não quererá ele saltar estas barreirinhas tão cómodas para os nossos donos, confirmando quem foi o excelso e improvável herói? Cinzas são cinzas, já não contam.

publicado às 17:30


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