Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Belmiro de Azevedo tinha no seu espírito o vigor do novo mundo. O seu percurso empresarial, das origens humildes ao sucesso, não me surpreende. Essa é a espinha dorsal da América, dos Estados Unidos da América do mérito, do trabalho árduo e da recompensa. Mas não estamos na terra do Uncle Sam. Estamos em Portugal, o que torna tudo ainda mais excepcional. Tudo o que alcançou foi em terra inóspita, num ambiente pouco dado a visionários e almas com ambição. Existe outra dimensão que deve ser sublinhada. Embora novo rico, não era novo rico. Não era um pato-bravo. Não cultivou a ostentação, nem os luxos. Paradoxalmente, estes traços de genuína humildade material colidem com a matriz comportamental de um povo, que porventura nasce com o ouro e as especiarias dos Descobrimentos, e que se materializa nas glórias das Embaixadas a Roma ou a monumentalidade do Mosteiro dos Jerónimos. A sua ideologia, declaradamente de mercado, nunca se sujeitou ao poder político. A Esquerda, sempre mal-disposta com o capital, com o mercado e com os lucros, decerto que não arrepiará caminho com a passagem de um dos grandes de Portugal. Do Panteão não rezam os ricos.
foto: Nélson Garrido /Público