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Under a government which imprisons any unjustly, the true place for a just man is also a prison.
-Henry David Thoreau
Para o mal e para o bem, se houver Juiz que julgue olhando para os pratos da balança que me norteou a vida, a única certeza é a de nunca ter alterado a norma de aferição: sempre fiz aquilo que, individual e livremente, me pareceu o correcto. Refiro-me ao absolutamente correcto, ao Bem, àquilo que é devido fazer mesmo que, amiúde, tais actos não me tragam quaisquer benefícios ou possam, até, prover contra o meu bem estar.
Desde que seja, no exercício da adequação entre as minhas faculdades intelectuais e emotivas, aquilo que se afigura como certo, então faz-se.
Em que benefícios cessantes ou perdas directas incorre quem assim procede, num país como Portugal onde esta conduta é tida por alienígena e remetida para a gafanha social dos loucos mal inseridos? É breve a lista.
A família, de memória curta, já esqueceu o significado do luto imposto pela Nação e agita-se afoita a participar em festarolas de aldeia quando se chora a miséria estagnante de 64 mortos à mão da canga soviética que grassa há 43 anos. Recusar a imersão no banquete é, pois, de pária.
As entidades empregadoras, enquanto as houve, de sanha mantida à legua apenas por desempenhos profissionais e académicos sempre acima da bitola maior, abespinharam-se de nojo, baba, e horror perante a constatação de haver quem as suplante sem querer pertença nos lobbies apícolas onde viceja toda a sorte de corrupção - da senha diesel ao contacto da amiga mamalhuda, do contrato futuro até ao borrego Pascal. É de pária igualmente triunfar no mundo do lucro sem nunca ter dado o cu à camisola.
Voluntariado? Quem não vos conhecer, que vos compre. As pessoas não são todas iguais, e como bem há dias desabafava uma amiga, onde houver mão autárquica haverá um esbirro a minar por dentro a mais paladinesca das corporações. Tanto pária que rumou de volta ao deserto após tentar abrir os poros ao chamamento do voluntariado.
Hoje a ministra Urbana deu uma entrevista aviltante, digna das obras distópicas mais surrealistas que todas as artes já produziram. E a concurso público, como todos os dias de todas as semanas de todos os meses, se veio distribuir à tripa-forra o dinheiro mendigado à parte adulta do Velho Mundo, onde é incogitável morrerem Rodrigos, bombeiros Brunos e Donas Marias sem que uma figurinha, um só cromo dos que pastoreiam a turba medonha de eleitores mentecaptos, venha dar-se em negrume, dor e ressarcimento genuínos.
Olhem, ide todos para o caralho. Sonho com o dia em que algum velho, carcomido e à beira de exalar o último bolçar do tumor geográfico, empale o Primeiro-Ministro (quem quer que seja) e seus sequazes num pau de oliveira ainda bem quente, afiado como dardo olímpico.