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Aparentemente, David Cameron não acha muita graça a Jean-Claude Juncker (nem eu) e queixa-se do facto de a sua possível nomeação como Presidente da Comissão poder politizar esse órgão. Ora, por muitas críticas que se possam fazer ao senhor, e por muita falta de carisma que possa ter, a verdade é que, após as eleições europeias do passado domingo, o luxemburguês é que foi o Spitzenkandidat mais votado e, por isso, deve ser o primeiro a tentar a fazer uma maioria que o apoie. Contudo, há uma série de coisas que não entendo:
- Este novo esquema dos partidos políticos europeus nomearem o seu 'candidato' tem como objectivo tentar aligeirar o chamado 'défice democrático' e falta de accountability dos principais actores europeus, nomeadamente da Comissão, até agora escolhida em negociações à porta fechada pelos líderes nacionais.
- Cameron é um grande crítico da falta de accountability e do défice democrático da UE, tal como muitos dos seus conterrâneos e não só.
- Este esquema de nomeação de candidatos assumiu-se como uma forma de tentar tornar a escolha do Presidente da Comissão Europeia algo mais transparente e democrático.
- Se queres democratizar a Comissão, vais necessariamente politizá-la, o que até é bom. Torna-se um órgão com uma linha de orientação política mais coerente e visível, e não um antro de eurocratas. (Também se devia diminuir o número de comissários, já agora. 28? Porra... Ah, mas depois os Estados não querem perder o 'seu' Comissário, apesar dos Comissários não representarem Estado nenhum. É que 28 é demais - até há um Comissário para o Multilinguismo...)
- Sendo assim, não se percebe a preocupação. Ao fazer pressão para não ser Juncker e para se continuar a fazer as nomeações como até agora se fez, Cameron está a impedir o aligeiramento do défice democrático da UE, o que não parece muito coerente com o que ele pense. A não ser que até lhe seja conveniente que se continue a ver a UE assim, quiçá.
PS: Democratização não significa federalismo - concerne apenas os processos de tomada de decisão. Que competências tem ou não tem a UE continua na mão dos Estados.