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Tim Newark escreveu, algures em Maio deste ano, um artigo no Telegraph que me ficou mais ou menos na memória. Dizia que Donald Trump estava a dar um banho de realidade à elite geek. Ontem acabámos de ter essa certeza, mas a elite intelectual ainda não está a perceber bem a coisa. A vitória de Trump não é (só) racismo. É, por um lado, o retrato de um País real que está a sofrer na pele as consequências da revolução digital. Esta auto-proclamada revolução está a ser feita pela elite dos totós e pela alta finança contra as pessoas de carne e osso. Contra trabalhadores, operários, gente normal que tinha uma vida normal e deixou de ter. E é, por outro lado, o retrato de um eleitorado que está farto de conversa da treta, do politicamente correcto e de uma comunicação social que é feita para as elites financeiras, políticas e totós, e que esquece o homem comum. Claro que há racismo. Claro que há ignorância. Mas também há muita desilusão. E há muita gente que está tão farta e que se vê com tão poucas soluções diferentes, que está disposta a apoiar o impensável. No Reino Unido foram 17 milhões. Nos Estados Unidos é o que se vê. Na Primavera, em França, logo veremos. Isto, na verdade, não é causa de nada. São só consequências. O que é mais triste é o facto de não termos soluções. Quem podia estar a assumir um discurso de coesão social, de liberdade, contra o politicamente correcto, pela democracia e contra o "us against them" está absolutamente perdido. Continuam a fazer política como fizeram nos últimos 30 anos. A dizer as mesmas coisas. A fazer as mesmas coisas. E continuam a esquecer que todos os países têm uma esmagadora maioria de gente que é real - não está numa app - e que está a ver a sua vida e o seu pequeno mundo a ruir. A comunicação social continua afastada desta gente, mais preocupada com o futuro da inteligência artificial e com as maravilhas da tecnologia, sem que ninguém pense em maneiras de conciliar este fenómeno com as necessidades das pessoas de carne e osso. Lamentem-se para aí. Têm toda a razão - e eu faço o mesmo. Mas quando forem ao Web Summit lembrem-se disto: há uma larga maioria de gente que não cabe no mundo geek e evoluído que vos está a ganhar uma raiva imensa. E o Pedro Dias, que se entregou, hein?