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O americano médio e os totós

por Nuno Gonçalo Poças, em 09.11.16

Tim Newark escreveu, algures em Maio deste ano, um artigo no Telegraph que me ficou mais ou menos na memória. Dizia que Donald Trump estava a dar um banho de realidade à elite geek. Ontem acabámos de ter essa certeza, mas a elite intelectual ainda não está a perceber bem a coisa. A vitória de Trump não é (só) racismo. É, por um lado, o retrato de um País real que está a sofrer na pele as consequências da revolução digital. Esta auto-proclamada revolução está a ser feita pela elite dos totós e pela alta finança contra as pessoas de carne e osso. Contra trabalhadores, operários, gente normal que tinha uma vida normal e deixou de ter. E é, por outro lado, o retrato de um eleitorado que está farto de conversa da treta, do politicamente correcto e de uma comunicação social que é feita para as elites financeiras, políticas e totós, e que esquece o homem comum. Claro que há racismo. Claro que há ignorância. Mas também há muita desilusão. E há muita gente que está tão farta e que se vê com tão poucas soluções diferentes, que está disposta a apoiar o impensável. No Reino Unido foram 17 milhões. Nos Estados Unidos é o que se vê. Na Primavera, em França, logo veremos. Isto, na verdade, não é causa de nada. São só consequências. O que é mais triste é o facto de não termos soluções. Quem podia estar a assumir um discurso de coesão social, de liberdade, contra o politicamente correcto, pela democracia e contra o "us against them" está absolutamente perdido. Continuam a fazer política como fizeram nos últimos 30 anos. A dizer as mesmas coisas. A fazer as mesmas coisas. E continuam a esquecer que todos os países têm uma esmagadora maioria de gente que é real - não está numa app - e que está a ver a sua vida e o seu pequeno mundo a ruir. A comunicação social continua afastada desta gente, mais preocupada com o futuro da inteligência artificial e com as maravilhas da tecnologia, sem que ninguém pense em maneiras de conciliar este fenómeno com as necessidades das pessoas de carne e osso. Lamentem-se para aí. Têm toda a razão - e eu faço o mesmo. Mas quando forem ao Web Summit lembrem-se disto: há uma larga maioria de gente que não cabe no mundo geek e evoluído que vos está a ganhar uma raiva imensa. E o Pedro Dias, que se entregou, hein?

publicado às 11:24


3 comentários

De Anónimo a 09.11.2016 às 11:38

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De Ana a 09.11.2016 às 20:18

Dos melhores textos que tenho lido ultimamente, devo dizer. De facto, actualmente temos uma elite de gente que entra no carro na garagem do seu condominio privado, ou mansao na quinta da marinha, ou apartamento no topo de qualquer edificio no parque das nações , e so volta a sair no parque do emprego. Gente essa que e de facto quem nos governa, e como nao anda na rua no meio ds pessoas reais que vao nos transportes publicos, nas interminaveis filas da ic19 ou 2a circular todos os dias trabalhar 8, 9, 10 horas por dia (e sem receber mais por isso) para que esses senhores possam usufruir de mercedes topo de gama ou bmw's, a custa do trabalho que tanto nos custa diariamente, para depois recebermos pelo trabalho de 1 mes inteiro aquilo que eles gastam num almoco. Nao e de facto possivel que conhecam as necessidades ou problemas de quem nao teve a sorte de conhecer aquele gajo bem posicionado que lhe vai arranjar o tacho aos 35 anos ou ter nascido numa familia com excelentes conhecimentos, mas sao essas pessoas que depois decidem sobre as nossas vidas que desconhecem completamente. infelizmente por ca ao longo de toda a nossa historia se houve algo que nos faltou foram lideres competentes, a excepção de 2 ou 3 sendo D Afonso Henriques o primeiro, ja que sem ele seriamos todos espanhois, e se calhar, por muito que me custe dize-lo ja que sou uma franca admiradora dos portugueses e da nossa historia e tudo o que conquistamos sendo um pais tao pequeno e insignificante, talvez ate estivessemos bem melhor. Se calhar ate somos nos que faltamos em espanha para serem uma grande potência. Mas a conclusao e que mereciamos melhor e o drama e que não se ve no horizonte politico nacional aparecer ninguem que seja o nosso trump, que se identifique com as pessoas e mais importante, que as pessoas se identifiquem com ele, ou ela, nao quero que as meninas do bloco me acusem de discriminação ou maxismo (nao percebo porque raio pagamos a estas gajas para tao brilhantes exibições de estupidez profunda). 
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De Ricardo a 10.11.2016 às 10:57

Entretanto já se encontram artigos a tentar explicar/entender como e o porquê dos americanos terem escolhido o candidato escarnecido em detrimento da "abençoada" (até o Publico hoje vai por aí vejam bem,demasiado tarde meus caros)vejamos este no CM http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/francisco-jose-viegas/detalhe/20161110_0052_blog?ref=opiniao_outras

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