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Os dados não são novos, mas insisto neles. Em 1960, nasciam 24 bebés por cada mil residentes. Em 2016, nasciam apenas oito. Em 1960, havia em Portugal 27 idosos por cada cem jovens. Em 2011, para cada cem jovens havia já quase 130 idosos. Podia continuar com outros números, mas o significado de uma taxa de natalidade de 1,2 filhos por mulher, uma das mais baixas do mundo, é evidente: Portugal é um País de bengala e não de risos de crianças.
Este País envelhecido ajuda a explicar muitas das políticas fiscais, orçamentais e de segurança social que têm sido tomadas nos últimos anos. Quem governa anseia por continuar a governar e, como tal, tem a natural tentação de satisfazer clientelas. E as clientelas são os idosos, não são as crianças nem os casais de classe média com filhos. É por isso que a Segurança Social tem uma forte tónica na política de pensões e reformas e praticamente desiste do que seriam incentivos à natalidade. Isto reflecte-se, por exemplo, nos valores que os pais pagam às creches. É absurdo que, num País em que cada mulher tem, em média, apenas um filho, uma família de classe média pague tanto a uma creche comparticipada pela Segurança Social como uma família de milionários. Com excepção das famílias mais carenciadas, qualquer casal de classe média, isto é, com um salário per capita equivalente ao salário médio, que ronda os 750 euros, tem enormes dificuldades para ter mais que um filho.
É verdade que há factores sociais, sobretudo nas grandes cidades, que conduzem ao decréscimo da natalidade, como o hedonismo ou o foco noutras coisas que não a família. Mas também é verdade que em estudos recentes se demonstrou que a grande maioria das mulheres portuguesas pretende ter filhos. Com a crescente dificuldade em aceder ao mercado de trabalho e em estabilizar economicamente um lar, é natural que a maternidade seja adiada – o que explica que a idade média das mulheres no nascimento do primeiro filho seja cada vez mais avançada, ultrapassando já a barreira dos 31 anos de idade.
Ana Alexandra Fernandes, demógrafa da Universidade Nova, alertou recentemente para esta realidade, afirmando que toda a sociedade devia proteger o nascimento de uma criança – desde as entidades empregadoras ao Estado na sua dimensão fiscal, de providência ou de mobilidade.
Este deserto demográfico terá, obviamente, consequências devastadoras para a sociedade portuguesa. Seremos cada vez menos, mais velhos e com o Estado mais falido. Incapazes de gerar riqueza, por falta de gente jovem que trabalhe, teremos cada vez mais encargos com pensões e reformas a suportar. É este inverno populacional que nos fará encolher enquanto País e enquanto sociedade. Já não bastava tudo o resto.