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O melhor do Mundo é o Mundo

por Fernando Melro dos Santos, em 22.05.14

Ontem, caminhava pelas ruas em Vila Nogueira de Azeitão, ao lado de um dos poucos amigos, daqueles de Sempre, com quem a vida fez questão de me manter emaranhado. Anos separados, volvido um período em que ambas as nossas estradas se deram por satisfeitas com o calcorrear que delas fizemos, calhou que nos reencontrássemos. 

 

Ao pensar na série de eventos, binários ou não, que terão feito com que aos 43 anos qualquer de nós se sentisse perante um espelho, tal a similitude na distribuição das prioridades que nos regem a vida, não posso senão divagar. 

 

Aquando do II Forum da associação Abrigo, em conversa com os demais participantes, chegou-me uma frase reportadamente (e certamente consubstanciada algures) proferida por Laborinho Lúcio, com a seriedade e honradez que lhe são devidas, e que empalidecem quaisquer das personagens caricatas que hoje povoam o éter mediático. Terá dito, a propósito do adágio "o melhor do mundo são as crianças", que não; que o objectivo tem de ser outro, que todos devemos convergir na promoção de outra frase: o que é preciso (e subscrevo estas palavras, de cada vez, do alto da minha secura quarentona, com a voz mental embargada) é que possamos um dia ouvir as crianças dizer que o melhor do mundo são os adultos

 

É ou não é verdade? É. 

 

Sucede que este amigo com quem ontem passeei,  à semelhança do que eu próprio tenho tentado fazer dos meus anos de Outono, enveredou por um projecto, para empregar terminologia sancionada, que se baseia em nada menos do que esta ideia genial: se os adultos perceberem que a infância é algo que não se marca num calendário e sim na vontade de cada um, estarão resolvidos vários dos problemas que hoje em dia assolam pais, filhos, alunos, professores e cidadãos desenraizados das suas tradições seculares. 

 

Quem não anseia, em boa sinceridade, pelo retorno aos momentos espremidos entre aulas e outros afazeres, quando para brincar, jogar, conviver e crescer nada mais era requerido do que o próprio corpo e vontade para tal? Jogar às escondidas; ao lenço; futebol humano; lá vai alho!; berlindes; a plétora mais imprevisível e irregular de instrumentos que nós mesmos, sem mestre, nos dávamos e através das quais nos fizemos. 

 

Não havia dinheiro da Europa. Não havia três carros por casa, consolas, viagens a Bora Bora com vómito incluído, não havia esta demência instaurada a golpes de suborno que cindiu, quase irreparavelmente, umas gerações das outras. E porém, era-se feliz e foi sobre essa felicidade que se construiu, mal ou bem, a fundação de um futuro ainda em aberto - contrariamente ao que sucederá se não formos capazes de sobrepujar este envelhecimento precoce que "o sistema", ou se quiserem "a vida", nos tenta impor. 

 

O projecto chama-se Espalha Magia, é ainda um zigoto pequenino e incipiente, mas considero-o uma ideia genialmente oportuna, e desejo ao João e à Ana a mais ampla e meteórica expansão abarcando cada vez mais adultos dispostos a rejuvenescer, ou pelo menos a recusar a senescência. 

 

O título deste post é uma frase proferida pelo meu filho, à idade de seis anos, quando lhe perguntei qual considerava a coisa mais bela do Mundo.

 

Bem hajam.

publicado às 13:26







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