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dizia-me o Duarte, há tempos. Hoje, quando me sinto tão grata àquele punhado de patriotas que num outro 1* de Dezembro nos devolveu a independência tão arduamente alcançada, e parafraseando outro amigo penso - Portugal permanecerá enquanto tivermos Terras assim! - Ora, como podemos ler aqui:
Temos Tudo Quando Temos Portugal!
( Por Terras de Ribeira de Pena )
( No Gerês)
Uma boa parte da tarde dedicada a identificar fotografias antigas, que tirei nos passeios que vou fazendo cá dentro, acatando o avisado critério de Almeida Garrett quando nos assevera que " com este clima, com este ar que Deus nos deu ( ...) o próprio Xavier de Maistre ao menos ia até ao quintal "... ; como quem arquiva as memórias em pequenas gavetas...E lembro um livro de António Manuel Couto Viana: < Coração Arquivista >.... Como escreveu Tomaz de Figueiredo: ' Ah! mundo esmagador das recordações, emendadas umas nas outras, aboiando como de mar sem fundo '... E digo-me: isto está tudo ligado...
* título roubado a saudoso confrade da blogosfera
Que procurasse pelo antigo Couto Misto de Rubiás, dissera-me o Duarte. E, de todas as vezes que voltei àquelas terras de Montalegre, este conselho não me largava. A oportunidade surgiu nesse fim-de-semana: era um daqueles dias soalheiros de Outono, o último do ano, que o Inverno já aí estava, com os dias cinzentos e chuvosos. Entrados em Espanha, foi coisa de poucos quilómetros até vermos a placa; então era ali que, até 1864 - data da sua extinção, por assinatura do Tratado de Lisboa ( sempre esse nome de má memória, a lembrar o que, muitos anos depois, em 2007, confirmava a cedência das soberanias nacionais, a pretexto de " intensificar a união da Europa ") - existiu esse Couto, onde qualquer documento se escrevia " em português e em castelhano "... Mas logo nos demos conta de que, porque tínhamos saído tarde de casa, teríamos de aí voltar, para melhor conhecermos as terras que, desde tempos medievais, haviam integrado um Estado Autónomo encravado entre Montalegre, do lado português, e a Galiza, do lado espanhol, que, por isso, era governado por leis próprias. É que o tempo fizera-se pouco, e o que entretanto aprendera sobre esse território privilegiado justificava maior demora. E o pouco que vimos prometia: em terras Galegas, era como se continuássemos o nosso périplo pelo Barroso.
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Estávamos na Província da Beira Baixa, distrito de Castelo Branco. Assentáramos arraiais em Penha Garcia, bem perto de Monsanto, que em 1938 fora considerada ' a aldeia mais portuguesa de Portugal ', mas agora era outra a aldeia histórica que visitávamos. "Na época da ocupação romana [ Idanha-a-Velha ] era a chamada Civitas Aegitidanorum. Durante o confuso período da migração dos povos bárbaros sofreu diversas demolições, sendo restaurada pelos visigodos e convertida em sede de uma grande diocese. Entre os bispos comprovadamente da Egitania conta-se Adório, que compareceu no 2* concílio bracarense ( 572 ). [...] A invasão islamita destruiu-a profundamente no século VIII, e só muito depois, no começo da monarquia portuguesa, Sancho I intentou repovoá-la, concedendo-a aos Templários. A diocese egitaniense foi por esse monarca restaurada na Guarda. " ( Hipólito Raposo in Guia de Portugal edição da Biblioteca Nacional de Lisboa ) Logo à entrada da aldeia, sobre o rio Ponsul, afluente do Tejo, e outrora integrando a via que ligava Mérida a Braga, deparámos com a Ponte Velha, de origem romana. Mais à frente, um largo, onde sobressaem o pelourinho manuelino, provalmente erigido em 1510, aquando da atribuição do foral, e a Igreja Matriz, de estilo renascentista, antiga Misericórdia.
Depois de percorrermos as várias ruas, de traço medieval, terminámos a visita na Igreja de Santa Maria, a Sé Catedral, cuja configuração actual data do século XVI, mas que tem sido objecto de escavações várias, de que são testemunho as ruínas hoje visíveis e as muitas pedras com inscrições, algumas ainda por decifrar. Também os belíssimos frescos das paredes remontam a tempos indeterminados. Idanha-A-Velha, uma aldeia que já foi sede de concelho e hoje, unida à de Monsanto, íntegra o de Idanha-Nova.
" ... por estes campos verdes (...) senti-me tomado de um tão sereno bem-estar e de uma tal saúde ( ... ) Ahi, aonde? Em que sítio? Qual o nome do lugar? Não o sei, nem isso importa ao caso. É terra portuguesa, são lugares do Minho por onde me criei - e isso basta. " Antero de Figueiredo in Partindo da Terra Parafraseando pessoa conhecida, mais sabor tem uma sopa em Portugal que lagosta no estrangeiro. E quão melhor seria, não tivesse o torrão sido invadido pela corja. * frase roubada ao blogue Casa Portuguesa
E a serra envergava as mesmas coloridas vestes com que nos recebera há um ano. No céu azul de diferente algumas nuvens. Mas quente ainda. O pretexto, o mesmo: as cerejas de Penajóia, que tão vivamente tinham sido recomendadas por saudoso comentarista lamecense. A beleza do Marão!... A cidade recebia-nos com o calor dos 25 graus temperado por doce brisa. A majestosa catedral, terminadas as obras de restauro, deixava-se agora ver no esplendor gótico, mas o afamado claustro permanecia defeso... Com o restante património artístico ainda bem vivo na memória, havíamos de nos virar para a gastronomia, pois claro...; um restaurante no largo da Sé - boa a vitela à arouquense, mas foi a deliciosa bola que salvou a honra de um " convento " onde o vinho esteve muito longe de fazer jus à região. Ela e o raposeira " rosé "... Tempo de encetar o caminho de regresso. Que formosura nas estradas serranas até Penajóia - onde adquirimos as almejadas cerejas - e Resende. À nossa frente surgiu de novo o Marão, que nos aproximava já de Amarante e do Tâmega. O Douro e seus socalcos ficavam para trás, até uma próxima visita, que, querendo Deus, não há-de demorar.
Em Moura encontrámos, na freguesia de S. João Baptista, a mais antiga mouraria da península ibérica: três ruas, de acentuado declive, com casas todas elas caiadas, todas elas com a mesma traça, e todas elas da mesma altura, ricamente floridas.
Ali perto, no cimo de uma colina, o castelo. Não admira, pois, que, nas imediações deste, várias equipas de arqueólogos tenham descoberto extenso campo de ruínas maioritariamente árabes, tendo no entanto reconhecido alguns vestígios romanos e ainda, posteriores no tempo, indícios de ocupação paleocristã, como o de uma igreja de Santiago.
Uma beleza, Moura; o Alentejo! E maiores os lamentos ao lembrarmos o trabalho - pleno de êxito esse trabalho! - de descaracterização do que já foi considerado o maior dos jardins de Portugal - o Minho. O Minho devastado pela infernal proliferação de casas " tipo maison ". Sem que possamos acometer o maior quinhão de culpa aos que nelas vivem. Os culpados maiores estão há muito identificados: os arquitectos camarários, e demais responsáveis, pois claro.
E com esta terra " que Deus nos deu "!...; pérolas a porcos!
" Enquadrada num cenário de montanhas cor de bronze, Bragança irradia, em anfiteatro, seu casario ao longo de uma ondulação do planalto, , modelado pelas águas de um pequeno afluente do rio Sabor e pelo próprio Sabor. A toda a volta, horizontes intérminos e belos. ( ... )
Graças ao esforço tenaz do homem bragançano, que, sem desânimo e com poucas falas, teima em amanhar o bocado que lhe é dado, ora grato, ora ingrato.( ... )
No próprio Outono, aqui e além, ainda subsiste, nas ilhargas dos montes boleados, a nota cromática de indizível pulcritude das corolas douradas dos frondosos soutos. Chegando os rigores daa invernia, a extensão imensa dos descampados, batida pelo vento agreste vindo das estepes de Zamora ou dos cimos brancos da Sanábria, cobre-se de um verdadeiro sudário branco. Os dias e as noites parecem então intermináveis, sob os grandes nevões. Daí o velho dito, excessivo, definidor da terra e do clima: - « Nove meses de Inverno e três de Inferno » -, contra o qual já se insurgia, por injusto, o velho Abade de Baçal, sempre em andanças por montes e vales. ( ... )
A parte antiga da cidade, cercada por uma cintura murada e dominada pela possante torre de menagem, de robusto e formoso recorte, conserva ainda muito da sua antiga fisionomia, constituindo uma verdadeira cidadela de feição medieva sobranceira à aglomeração urbana mais moderna. "
Maria José Teixeira de Vasconcelos
Sant'Anna Dionísio
Como o Abade de Baçal, andámos por montes e vales; como o Abade de Baçal apaixonámo-nos por tanta beleza; como o Abade de Baçal olhámos e sentimos a grandeza da História Local. Uma visita, há anos, ao museu que hoje tem o seu nome, sensibilizou-me e preparou-me para melhor ver a região. Com olhos de ver.
Que era grande amigo de Tomaz de Figueiredo, fez-mo saber um amigo comentarista. Até então não sabia nada de Fausto José.
Acerca de uma visita a Ucanha e a Tarouca, falou-me em Armamar, no Douro, e que teria feito muito bem se tivesse subido um bocado até à Aldeia de Cima, onde o poeta acolhia amiúde o escritor de Valdevez. Fiquei com vontade de a visitar, claro, mas foi sempre um destino adiado até que me propus rever a, certamente - como vim a confirmar - já restaurada ermida de S. Domingos, ali vizinha ( freguesia de Fontelo ), e que se encontrava em obras de restauro.
Procurei os seus poemas e soube que a Câmara de Armamar os reeditou não há muito tempo. Mas não descansei até o encontrar, integrado na antologia « Líricas Portuguesas », coordenada por Cabral do Nascimento. Dela esta « Névoa ».
Quando nos propusemos visitar o concelho de Vila Nova de Foz Côa estava já muito claro na minha cabeça a visita a Freixo de Numão, uma das suas freguesias: consulta prévia fizera-me saber haver lá um lindíssimo pelourinho, em que figurava o escudo de D. João V. Pouco mais sabia, mas como gosto muito desses símbolos da liberdade municipal, do municipalismo...
Quando lá chegámos, tínhamos almoçado já na vizinha e arrebatadora freguesia de Numão, ao fim de muito caminho andado, num dia de Outono com muito sol, a primeira coisa que nos chamou a atenção foi um barroco edifício que, soubemos depois, tinha sido o solar setecentista da família Vasconcelos, Sousas e Moutinhos, hoje o museu arqueológico e etnográfico. Foi, aliás, a simpática e muito jovem funcionária do museu quem nos forneceu as indicações necessárias à visita da acolhedora freguesia: onde se localizava o pelourinho, a igreja, a Ex-Domus Municipalis, edifício barroco também ele do séc. XVIII , que foi Casa da Câmara até que o concelho foi extinto no ano de 1854, e nos informou da existência, a cerca de 5 quilómetros dali, de um grande complexo arqueológico - o Prazo -, onde fomos encontrar ruínas de diversas épocas, desde o Paleolítico até à Idade Média, com grandes e valiosos vestígios romanos, a fazer lembrar a, embora mais luxuosa, Conímbriga.
Era Portugal que continuava a surpreender-nos!
" ... Segue-se demoradamente ao longo da encantadora e ampla toalha do Alto-Rabagão. Formoso lago de altitude! ( ... ) Passa-se junto à aldeia de Veade de Baixo. De um lado outro, pequenos lameiros, modestos retalhos de centeio ou de milho anaínho, um ou outro tufo de carvalhiços. Ao longe, do outro lado do lago, permanece o harmonioso desenho da Serra das Alturas, com as suas duas inconfundíveis corcovas. ( ... ) Logo após Travassos ( onde subsiste um bom pedaço de estrada de macadame, da era do Fontismo ), a nova rodovia inflecte para Nordeste, na direcção da aldeia de S. Vicente de Chã, a fim de contornar um extenso tentáculo azull da grande laguna de altitude. "
Sant'Anna Dionísio descrevia assim, em 1965, a região do Barroso, ora visitada, e foi, em grande parte, com excepção de algumas casas de habitação que, por certo, o Autor nem imaginaria por lá encontrar, esta a paisagem serrana que aos nossos olhos se deparou.
Depois de visitarmos o mosteiro de Santa Maria das Júnias, e a vizinha cascata, alimentada pelas águas cristalinas do ribeiro do Campesinho, que já antes nos refrescara a vista, quando o vimos passar mesmo ao lado do mosteiro, seguimos estrada fora, mas ainda no concelho de Montalegre. Na nossa frente, uma das suas muitas freguesias, a cuja beleza já nos tínhamos rendido - Chã e os seus diversos lugares ou aldeias.
Primeiro a aldeia de Peirezes, onde, percorrido paradisíaco caminho atapetado de verde, e ladeado de verdes árvores, pudemos admirar belíssima ponte, dita romana ( mas que, li em blogue dedicado à localidade, terá sido " erigida na Idade Moderna, o que não invalida que não tenha existido outra em época romana pois é um local confirmado da passagem da via romana " ); depois, a de Travassos de Chã, com casas de sabor rústico bem conservado, como o forno comunitário.
A tarde chegava ao fim quando chegámos a uma outra freguesia, onde, por caminhos enlameados, se passeavam vários exemplares de nutrido gado, bois e cabras. Nela se destacava a linda capela da Senhora do Rosário: chegáramos a Veade de Baixo, que, havendo ensejo,merece mais demorada visita, a horas do dia mais favoráveis.
Continuávamos na grande região do Douro, mas o distrito era já o de Bragança. Estávamos, pois, na " Terra Quente " do Nordeste Transmontano.
Para trás tinham ficado o miradouro das " Curvas ", a Porca de granito e o Pelourinho de Murça. Depois de nos deliciarmos nessa vila do concelho de Vila Real com uma bela posta " tipo mirandês ", seguimos por uma estrada montanhosa sempre ladeada de vinhas, oliveiras e figueiras, e agora a placa informava-nos de que acabáramos de entrar no concelho de Carrazeda de Ansiães.
À direita, o rio Douro; pela esquerda passava um dos seus afluentes - o Tua.
Uma informação de que ali perto poderíamos ver um belo espécime de moinho de vento, modelarmente recuperado, leva-nos, já o sol começava a baixar, bem ao cimo do monte...
O regresso haveria de ser feito de novo pelo distrito de Vila Real: por Alijó, de onde desceríamos ao Peso da Régua.