Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Água é vida? - perguntou Adão. Sim - confirmou Eva. E desde então não deixou de chover no molhado. Fomos levados na corrente de uma sagração da Primavera, na arca de Noé, directamente para um promontório de vistas largas, e eis que nos encontramos aqui - orfãos da torneira, escravos da liquidez bancária, algo tributário segundo alguns, parca homenagem. A austeridade é uma palavra que soa a deserto, dita boca sêca, admoestada por um outro silêncio. É uma nova religião, a conversão à doutrina de um novo baptismo. A torneira fecha-se no mesmo instante de uma porta entreaberta. São seiscentas e cinquenta mil lágrimas que correm no volte-face de um remorso. É o início de uma noite áspera, diáspora duradoura certamente, inaugurada no desligamento húmido para bolorar, fossilizar os elementos naturais que ainda restam, como o rasto da água que deixou de escorrer. A terra não se mexe - assiste impávida e serena. O ar consumado na chama de uma labareda vizinha. O ar que respiramos pisado por palmas, sete palmos abaixo da dignidade. Um dia o litro será readmitido na barragem de mágoas límpidas.
"... até atingirem o objectivo de médio prazo, o que no caso português significa um défice de 0,5% em 2015. Mais exigente será a nova regra para a dívida pública. Segundo o articulado da LEO em discussão, se o nível de dívida pública for superior ao limite de 60% do PIB, então Portugal terá de "reduzir o montante da dívida, na parte em excesso, a uma taxa de um vigésimo por ano, aferida numa média de três anos". De acordo com os números do Eurostat, a dívida pública de Portugal superou os 120% do PIB em Setembro do ano passado."
Breve comentário: é impossível, mas eles vão tentar, porque disso depende a teta que os sustenta, e vão falhar, por ser impossível.
Aceitam-se apostas sobre quem quebrará primeiro, o contribuinte ou o aparelho de Estado.
Dead men walking.
O Governo quer privatizar as águas. É mais um erro crasso que hipotecará definitivamente o futuro de Portugal. Entretanto, houve quem já se apercebesse da importância económica do precioso líquido. É o caso de Luís Marmelete, proprietário do snack-bar "O Pirata", situado à entrada da Ilha de Faro, o qual cobra 50 cêntimos por um simples copo de água da torneira, há mais de um ano.
"O Estado não oferece nada a ninguém, tudo se paga, o terreno, as licenças, os alvarás, e porque é que eu sou obrigado a oferecer a água que pago? Estou aqui a tentar ganhar a vida, a prestar serviços, não sou uma entidade pública", justifica-se o proprietário d'"O Pirata". No balcão, um papel escrito à mão informa os incautos de que ali a água não é grátis, mas custa 50 cêntimos, condição prévia para que a prática esteja de acordo com a lei, disse à Lusa fonte da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). A lei prevê que, mediante informação adequada ao consumidor, os estabelecimentos que prestam serviços de restauração e bebidas gozem de liberdade de fixação do preço dos produtos e bens neles servidos, uma vez que a sua actividade não se encontra submetida a qualquer regime limitador desses preços, explicou a mesma fonte. Continuando a justificar-se, Luís Marmelete garante que este mês só por pouco não passou para o segundo escalão da tarifa da água, o que implicaria pagar quase o dobro da factura.
Quando a água for privada este exemplo será reproduzido por mil. E nada ficará como dantes.