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Há uns vinte anos, em Bangkok, fui convidado para um almoço de trabalho. A empresária chinesa não gostava "desses restaurantes" locais, onde o menu apenas continha pratos tailandeses e assim fui conduzido a uma sofisticada casa de pasto, plena de sedas e madeirames dourados e vermelhos. Como facilmente me adapto a novidades, foi sem qualquer preocupação que soube ter um cardápio já escolhido pela anfitriã. Tudo bem. O pior veio depois.
Como entrada, uma bela tigela de porcelana azul e branca, na qual fumegava uma translúcida e brilhante gosma. Usando os palitos, atrevi-me a degustar o delicado e seguramente tradicional acepipe e francamente, não gostei. Não gostei, é dizer pouco. A coisa colava-se aos dentes, ao céu da boca e à língua. Dava-me engulhos. Diplomaticamente nada disse e optei pelo apressado engolir do conteúdo da tigela, uma forma eficaz de me preparar para os pratos que se seguiriam. Agradavelmente surpreendida, a senhora bichanou qualquer coisa ao sempre sorridente empregado e em milésimos de segundo tinha outra tigela igualzinha à primeira, teimosamente fumegando diante de mim. Já meio achinesado pela certeza de não poder perder a face, masquei a tal gosma com mais cautela e por incrível que a todos possa parecer, jamais esqueci o indesejável repasto.
Vem agora a gente da ONU, habituada a faisonadas, entrecôtes, tornedós e outras porcarias do género, recomendar a inclusão das medusas - nome mais chique do que alforreca, coisa de sonoridade demasiadamente islâmica - na lista de compras no supermercado. Pois sim, aqui está uma excelente oportunidade para negócios da nossa extinta frota pesqueira. Caçadas e jeitosamente processadas, teremos mais um "produto de valor acrescentado" a enviar às carradas para a China. O sr. Cavaco Silva bem pode iniciar as suas démarches, instando ao uso da imaginação: ao estilo batatas fritas, nachos, takos, tikos, tekos, palitos salgados e outras guloseimas mais, quem sabe se um dia destes não acompanharão as Sagres nas sempres excitantes horas da bola?
Vivemos a época de ouro da contrafacção. Elegemos governos, mas recebemos em troca caos e miséria. Acreditamos cegamente em religiões mas perdemos a fé. Aprendemos profissões mas não temos nem vocação nem trabalho. Acordamos no meio da noite com vontade de petiscar um hamburger e sai-nos cavalo na rifa. Apetece-nos esparguete...pasta bolognese, mas temos de nos contentar com pónei picado. Respeitamos uma figura pública, mas quando a conhecemos em privado ficamos repentinamente com vómitos. Admiramos o conhecimento de um benemérito e depois resta-nos o plágio. Nem vale a pena continuar, sabem do que falo. São tantos os gatos por lebre desta vida. E fazem mal à saúde. Contudo, não vale a pena desesperar. Haja esperança. Há vida para além dos pecados equinos. Refiro-me à cavala. O peixe-maravilha que tem poder para destronar Pégaso e Bucéfalo de uma assentada. A cavala é a melhor alternativa possível ao cavalo. É um peixinho de uma horta que não precisa de pasto.