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São precisamente temas de pasquim como a declaração suicida de Passos Coelho ou a flatulência de Sobral que determinarão o próximo incêndio em Portugal. O povo aprecia o circo, e dispensa a essência basilar de um sistema. Rir à conta da palermice e da mediocridade afasta o ser pensante dos grandes desígnios do país. Ser profundo e consequente custa. E, in spite of it all, não se chega a bom porto com festas de auto-comiseração, espectáculos narcisistas e verberações masturbatórias. Sentar-se à mesa como adultos e encarar a música desafinada não é para qualquer um. Ao validarem a ideia de absolvição dos pecados, numa congregação de "manifesta e inequívoca solidariedade", adiam o trabalho duro, sujo. São momentos de pico como este, de libertação orgásmica, de hibridismo transformador da "dor dos outros" em esperança para "todos", que eternizam a noção de ascensão e queda, fulgor e inconsequência. Por mais que estiquem os zeros do milhão, os mesmos não tapam a parte descoberta de um país inteiro versado nas artes hedonistas, nos prazeres. Foram os deleites que mataram as florestas. Foram as extravagâncias de uns que abandonaram o interior. Foram os cosmopolitas vibrantes que deitaram fogo à ruralidade em nome da sofisticação cintilante de uma festa de arromba. A silly season está oficialmente aberta.
(foto tirada daqui)
"Parlamento não é a aldeia dos macacos", diz José Lello.
Já eu não tenho tantas certezas. Mas, diria mais que é um circo. Um circo onde meia dúzia de palhaços actuam para muitas outras dúzias que se limitam a bater palmas.
Para além da discussão sobre os voyeurismos dos fotógrafos, da controvérsia sobre a afirmação de Lello de que os computadores são pessoais, apesar de propriedade do Estado, aquilo que é realmente confrangedor é o facto de se ter procedido a uma dispendiosa reforma da AR (às expensas dos contribuintes, claro), para gáudio dos senhores deputados.
Creio que não há semelhante nos parlamentos desta Europa fora. Mais uma vez, Portugal e o choque tecnológico na vanguarda da inutilidade. A questão que se impõe é, para quê os computadores no hemiciclo, que ainda por cima só servem para os deputados se distrairem do que devem ser os seus afazeres normais? Talvez o objectivo seja mesmo esse, distrair os deputados...