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A expressão "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça", recorrentemente utilizada por António Costa, bem como a frequente recusa de julgamentos morais ou de carácter, não passam de habilidades retóricas a que um PS permeado por casos de corrupção e de duvidosa moralidade tem recorrido nos últimos anos com o objectivo de os afastar do debate político. Estas habilidades têm obtido bons resultados, talvez porque boa parte da oposição não tenha engenho para as denunciar e também porque o temor reverencial de grande parte da comunicação social se encarrega de fazer com que esta as reproduza acriticamente e acabe por criar na opinião pública a percepção de que serão válidas. Ora, na verdade não passam de habilidades retóricas que certas acções do PS, quando no governo, se têm encarregado de demonstrar serem falsas, quer pela interferência na justiça, quer pelos julgamentos de carácter que fazem dos adversários políticos, evidenciando à saciedade a hipocrisia de muitos militantes da agremiação do Largo do Rato.

De resto, nestas coisas, pese embora muitos não hesitem em salientar o duplo processo de judicialização da política e de politização da justiça, cujos contornos não conseguem precisar, a separação de poderes não implica que uma questão não tenha ambas as dimensões e possam ser retiradas consequências nos respectivos domínios. Veja-se, a este respeito, a forma como os poderes estão separados mas fundidos na Constituição dos EUA e como no caso do processo de impeachment de Donald Trump estão em causa consequências políticas para uma acção que poderá também ser alvo de julgamento pelo poder judicial.

Ademais, no que concerne aos julgamentos morais ou de carácter, estes fazem e sempre fizeram parte da política. São, aliás, parte essencial dela, ao contrário do que o Primeiro-ministro nos quer fazer crer, particularmente num país como o nosso, em que se discute muito mais politics, o jogo político-partidário quotidiano, do que policies, as políticas públicas. Dado que o jogo político-partidário é protagonizado por indivíduos, a avaliação do seu carácter é uma componente central da política, especialmente em momentos eleitorais, e é precisamente por o saber que António Costa declara publicamente a sua recusa. Ninguém gosta de tirar uma fotografia em que sabe logo à partida que ficará mal.

publicado às 17:31

Nuno Garoupa, "Confrontação":

Nem já os americanos recordam o senador Bill Richardson, um conservador, hoje com 90 anos, que serviu no Senado da Califórnia vários mandatos entre 1966 e 1989 e nunca conseguindo ser eleito para o congresso federal. Fundou um grupo chamado Gun Owners of America (GOA) em 1975, rompendo com a National Rifle Association (NRA) por estar incomodado com os desvios de esquerdismo. E, em 1998, escreveu um livro algo desconhecido, Confrontational Politics, reeditado em 2010. Esta "obra literária" de 135 páginas seria irrelevante não fosse o "livrinho vermelho" de Steve Bannon e Jeff Sessions, os dois ideólogos da administração Trump.

 

Confrontational Politics abre com um diagnóstico do mundo em que vivemos - uma batalha fundamental entre os valores tradicionais (defendidos pelos conservadores) e os dogmas humanistas contemporâneos (impostos pelos progressistas). Acontece que os conservadores entram na discussão política com cortesia, civilidade, educação, ponderação e respeito pelas regras do debate. Pela sua forma de pensar e por respeito a uma tradição de elevação no espaço público, evitam o confronto direto e a retórica agressiva. Frente a um progressismo que não comunga de tais pruridos, o conservador acaba em posição defensiva. O progressista, adepto das técnicas marxistas e leninistas, inspirado na máxima "os fins justificam os meios", provoca o confronto, usa retórica abusiva e agressiva para condicionar o conservador. Tudo isto resulta numa crescente influência da agenda progressista em detrimento do pensamento conservador. A fleuma, o respeito, a preferência por um debate equilibrado e institucional são desvantagens competitivas do conservador. Consequentemente, o conservador tem de abandonar esta forma de intervenção. Tem de passar ao confronto aberto. E esse confronto tem de ser agressivo e sem compromissos ou equilíbrios. Não há acordos possíveis com o progressismo enquanto a agenda conservadora não vingar. Política já não é procurar consensos ou mínimos denominadores comuns, mas guerra aberta - embora sem prisioneiros -, gritar mais alto, até o progressismo ser varrido dos tribunais, dos meios de comunicação, do espaço público. Mas, se os progressistas são o adversário a combater, o inimigo a obliterar são os conservadores consensuais. Porque são a quinta coluna, são quem mina o pensamento conservador e colabora com o adversário, permitindo a expansão do progressismo.

 

(também publicado aqui.)

publicado às 18:42

A minha visão do conclave centrista

por João Pinto Bastos, em 13.01.14

Falar a torto e a direito do "irrevogável" tem como consequência inequívoca a saturação indizível do debate político, centrando, com alguma inabilidade política à mistura, o cerne da luta política no contingente inescrutável. Para mim, e creio que para uma porção significativa da militância centrista, esse episódio foi totalmente esclarecido, pelo que tornar a fustigar Paulo Portas, e, por inerência, o CDS/PP, com esta questiúncula politiqueira é, no fundo, chover no molhado. Ademais, o Congresso de Oliveira do Bairro foi, como pude comprovar in loco na qualidade de delegado, um momento alto no debate político que importa fazer a respeito das grandes pendências do Portugal troikado, e teve, ao inverso do que muitos levianamente alvitraram, intervenções surpreendentemente lúcidas. Mas cingindo-me ao que verdadeiramente interessa, este Congresso é resumível em dois aspectos complementares, que ajudam a perscrutar, com a clarividência exigível, o que irá seguir-se no tablado da política nacional nos meses vindouros: 1) a consolidação, a curto e a médio prazo, da liderança política de Paulo Portas, 2) a confirmação, também a curto e a médio prazo, de uma união mais estreita dos partidos da coligação. O primeiro ponto foi bastamente evidente para os militantes que marcaram presença no Espaço Inovação de Oliveira do Bairro, pois Paulo Portas saiu do Congresso com uma liderança reforçada, tendo um mandato politicamente bem definido na prossecução que ora se espera da agenda do partido no seio da coligação. Há, a este título, um apontamento que não posso deixar de fazer: continua a haver nos media a opinião zombeteira de que o CDS é um partido unipessoal, entregue, fanaticamente, a um só homem que põe e dispõe a seu bel-prazer das peças no tabuleiro partidário. Denegar esta zombaria leva, necessariamente, a que nós, militantes, tenhamos de adquirir elevadas doses de paciência. Mas a realidade é bem diferente, basta olhar para dois factos bem singelos: a existência de uma oposição partidária, liderada por Filipe Anacoreta Correia, que, sem qualquer obstáculo ou impedimento, disse de sua justiça no Congresso e nos media, assim como o facto de as grandes decisões do Congresso terem sido sujeitas a votação secreta, sem que ninguém fosse chantageado a votar em x ou y. Creio que para bom entendedor meia palavra basta, sendo que, no cômputo geral, ficou patente urbi et orbi o carácter eminentemente pluralístico do partido, com todas as vozes, integralmente todas, a serem auscultadas pelo grosso da militância. Em conclusão, ainda que seja estranho para certos comentadeiros, não há, que eu saiba, delinquentes ou inimigos internos no CDS. Já no que toca ao segundo ponto, compreendo e aceito a posição tomada pela liderança do partido no sentido de uma coligação com o PPD/PSD nas próximas eleições europeias. Há, a este respeito, uma análise política que importa não descurar, designadamente a que se prende com o facto de o pós-troika exigir uma união de esforços acrescida, em face das dificuldades políticas e económicas que se adivinham com um mais do que provável programa cautelar. Nesse sentido, um ensaio coligatório pré-eleitoral, já nas eleições europeias, tem, em rigor, toda a lógica deste mundo. Bem sei que para alguns militantes uma coligação pré-eleitoral tenderá a prejudicar o partido (a Alternativa e Responsabilidade bateu neste ponto, a meu ver, erradamente), mas a verdade é, por força das circunstâncias, necessariamente outra. Uma coligação nesse acto eleitoral será, em boa verdade, o método mais indicado para conclamar os dois partidos a uma apologia cuidada do trabalho político desenvolvido e a desenvolver futuramente no âmago da governação. O centro-direita português tem de compreender, de uma vez por todas, que a reforma do regime só fará sentido com um pacto político (eleitoral e não só) alargado, que ouse romper com o imobilismo amordaçante desta República desrepublicanizada. Sem isso, isto é, sem esse trabalho de sapa, político e eleitoral, de pouco valerão os esforços titânicos feitos pelo portugueses até ao momento. O CDS/PP tem, neste capítulo, um papel importantíssimo, não só pela legitimidade política e eleitoral concedida pelo povo português, mas, também, pela pertinência incontestável da tradição política de que é um herdeiro indisputado. Esperemos, portanto, que este Congresso tenha servido, na perfeição, de estopim a uma maior responsabilização dos agentes políticos da governação do país. Estou certíssimo de que com Paulo Portas ao leme este objectivo será plenamente alcançado.

publicado às 22:58

Do primitivismo do debate político português

por Samuel de Paiva Pires, em 21.06.12

Um excelente artigo de Francisco Mendes da Silva, a ler na íntegra, sobre Enoch Powell, mas que começa com este parágrafo certeiro:

 

«De todos os modos primitivos em que ainda se desenvolve o debate político em Portugal, existem dois que me suscitam um particular desalento: o quase completo desdém pelos discursos escritos e – sem que daqui resulte qualquer contradição – a inabilidade para o “soundbite”. Descontando a prosápia inócua que vai sendo proferida, compilada e publicada por algumas cúpulas senatoriais sem grandes responsabilidades de escolha política ou preocupações de combate e ruptura, o debate faz-se de navegações à vista e reacções circunstanciais, sem nenhum respeito pela organização das ideias, pela coerência das posições, pela sedimentação programática. Daí que, em vez de exigência substantiva e esmero estilístico, tenhamos de suportar os mais lamentáveis malabarismos oratórios, nunca para lá da metáfora deslocada, da piada de caserna ou do recurso preguiçoso à gíria futebolística. Isto para não falar de erudição, que – à parte da eventual citação dos “grandes estadistas” canónicos (um Churchill aqui, um Kennedy ali) – é coisa que de todo inexiste.»

publicado às 00:52






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