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Quando falo numa saída de Portugal do euro não é, certamente, com ânimo leve que o faço. Sei bem as consequências nefastas que uma opção política desta natureza, gravosa e inerentemente impactante, teria na vida dos portugueses. Não vou mencionar a desvalorização brutal que os rendimentos das pessoas sofreriam nos primeiros tempos, nem sequer a inflação descomunal induzida por uma saída descontrolada do euro. Qualquer português, medianamente inteligente, sabe ou pelo menos tem a noção de que um abandono ordeiro ou descontrolado do euro gerará reacções em cadeia no aparelho produtivo, que se repercutirão negativamente na vida das pessoas. Porém, e como nada é certo ou cristalino, é forçoso recordar que, não obstante estes efeitos altamente perniciosos, uma saída do euro, analisada sob o prisma meramente económico e financeiro, poderia, a médio prazo, traduzir-se num regresso paulatino ao crescimento. A questão é mesmo essa: enquanto hoje estamos num túnel sem saída, eterno e esmagador, num Portugal com escudo situar-nos-íamos, inicialmente, num túnel bem fundo, mas com saída. E uma saída potencialmente airosa para a vida das pessoas. Uma diferença que não é de somenos. E os portugueses, atordoados pelo desemprego e pela falência, precisam de esperança. Não amanhã, mas sim hoje, agora, já. Outro aspecto que importa relevar é a probabilidade, que não é de todo despicienda, da emergência de fenómenos políticos populistas. É evidente que, num cenário de pauperização generalizada da população portuguesa, a possibilidade de os portugueses caucionarem aventureirismos políticos não é uma miragem irrealizável. Porém, sejamos claros, na senda que levamos, de seguidismo acéfalo dos ditames troikistas, esses aventureirismos políticos, mais cedo ou mais tarde, emergirão com toda a naturalidade. Não é questão de palpite ou suposição, é apenas e tão-só a admissão do óbvio ululante.
As elites que sustentam o regime estão sem bússola. Agarram-se ao euro porque sim, e este sim tem muita força. No fundo, a Europa objectivada no euro em crise é o único porto seguro que conhecem. O regime, nos seus primórdios pós-prequeiros, viu na Europa a ponta de salvação no rescaldo de um PREC em que a crise e a inflação corroíam as esperanças dos portugueses. A guinada estratégica (atlantismo/europeísmo) que o país operou nessa época permitiu a consolidação da democracia, e, talvez por isso, não há ninguém, hoje, minimamente destacado, que entenda a democracia sem Europa. O euro é, nessa perspectiva, um mero símbolo que ajuda a ritualizar a presença em algo visto como um seguro contra todos os riscos e intempéries. O problema é que o euro, um projecto autoritário até à medula, muito dificilmente sobreviverá. E, ainda bem, acrescento eu. Porém, não há ninguém, absolutamente ninguém, pelo menos que eu conheça e oiça, que teorize e discuta a possibilidade, bem forte e plausível, de Portugal voltar a ter uma moeda própria. E esta ausência de debate será mortífera a médio prazo. Ou julgam que os portugueses tolerarão este torniquete infinitamente? Não aguentarão, e será aí, sobretudo aí, que o regime confrontar-se-á com as suas contradições letais. Socialismo, Constituição, Estado-babá, paternalismo asfixiante, subsidiocracia, pedinchice aguda, economia dependente, and so on, serão, então, questionados a todo o transe. Está visto que só um choque de dimensões titânicas acordará esta gente do seu torpor irritante.