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A Ilustração Portuguesa foi uma publicação que preencheu a mais conturbada época da história de Portugal. Neste nosso tempo de vaidades de cordel e exibição de griffes de duvidosa categoria, nada temos que se lhe compare, até porque a Ilustração dedicava especial atenção aos assuntos nacionais, fossem eles a vida da corte, os progressos materiais na indústria, comércio e agricultura, as artes e evidentemente, a moda e a "vida social e elegante".
Curiosa é também a imensa capacidade camaleónica de adaptação às bruscas mudanças de regime, ou aos senhores do momento da publicação: se hoje enaltecem-se as figuras e virtudes de D Carlos, D. Manuel II ou a azáfama benemérita da rainha D. Amélia, no número seguinte exalta-se a golpada republicana, o ajuste de contas com o regime deposto e tecem--se inesperadas justificações à caça dos padres, ao seu despojamento ou à violência exercida sobre a generalidade das ordens religiosas. Anos mais tarde, Sidónio surge como um meteoro e é alçado à categoria de Redentor da Pátria, para pouco após cair fulminado por balas cunhadas na mesma forja do ódio sectário do prp, ser exautorado como "ditador", indiciando o regresso da prepotência e medo incutido pela chamada "república velha". A subserviência e lambugem aos "senhores doutores", aos "homens impolutos e bons", apenas tem como reflexo a total ausência de rigor na análise dos eventos políticos aquèm e além fronteiras.
Ao longo dos números, vamos deparando com algumas reportagens que a distância temporal tornou caricatas. Esta que aqui se reproduz, é susceptível de algumas gargalhadas e consiste numa paródia da situação ridícula a que o país se resignara, com nomeações de obscuros e efémeros governos, sob o mando de criaturas bizarras que os ditirambos dispensados pela Ilustração às "excelências", não conseguiam esconder: Portugal vivia autenticamente, uma sangrenta e tragicómica aventura de Tintim. Deleitem-se com as fotos, com o texto e porque não?, com o próprio cabeçalho da reportagem. Únicos...
* "Causou a mais profunda das impressões a morte do presidente do ministério, coronel António Maria Batista. Patriota devotado, republicano sem mácula, combatente da África e da Flandres, militar corajoso e distinto, a sua perda enlutou a sociedade de que ele era brilhantíssimo ornamento. À hora a que escrevemos estas linhas magoadas, está saindo o seu enterro, imponente e extraordinária manifestação de pesar".
O textozinho é simplesmente delicioso, desde as considerações ao Alexandre Magno de quem jamais alguém ouviu falar, até ao sarcasmo conferido-lhe a categoria de "ornamento brilhantíssimo da sociedade". Que maravilha!