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Leitinho governamental

por John Wolf, em 13.09.13

Quando o governo toma as decisões que toma ou pondera tomar, de um modo instintivo, ponho-me logo a pensar nas suas implicações, mas ainda antes de considerar os efeitos que se irão sentir, calço os sapatos dos ministros e das respectivas equipas técnicas, e tento reproduzir a caminhada conducente a estas brilhantes decisões. E chego à seguinte conclusão: o número está errado. A sapatilha da reflexão não serve o meu pé. O governo, ao anunciar a possibilidade de aplicar um IVA de 23% aos bares e aos sectores relacionados com a bebida, admite logo que nunca entrou numa cozinha, que nunca lavou um prato sujo na cantina. Será que estes cozinheiros administrativos não percebem os danos que vão causar. O que pensam que irá acontecer quando os clientes tentarem escapar à bebida porque houve um aumento brutal do preço final do penálti decorrente do aumento do IVA? Querem diferenciar os restaurantes dos bares, é isso? Ou seja, o cozido à portuguesa já não pode ser acompanhado nas calmas pelo tintol fresquinho porque o preço da litrada é proibitivo? Esta lei semi-seca é mesmo bruta, e vai fazer espumar pelos cantos da boca os chefes de cozinha e seus semelhantes. Por um lado, se a medida foi pensada para penalizar os alcoólicos, não me parece que vá funcionar como terapêutica adequada, e por outro lado, os "restauradores" para assegurar os níveis de consumo adequados, irão enveredar por soluções de recurso. Já estou a ver a D. Amélia, da cozinha da tasca da esquina, a salgar em demasia e de propósito a chanfana ou o rancho, só para obrigar os comilões a apagar o sabor a mar profundo com uma bebida destilada ou não, mas cara - com IVA a 23%. O governo fala em estímulo à economia, mas apenas me recordo daquele solicitador que se fez passar por juíz numa das comarcas da nação, e que bradou aos céus que os homens do lixo trabalhavam mais felizes sob o efeito etílico do sumo de uva. Será vingança do governo esta medida de sabor acrescentado? Não sei, estou excessivamente sóbrio para dar uma resposta de jeito. Pode parecer que não, mas a época das vindimas está quase aí e nada disto é inocente. Está tudo ligado, não sei é como. O governo porém, não fica por aqui. Tem uma frase fiscal de antologia a roçar a ironia, o sarcasmo - fala de um "contributo líquido negativo" e eu só penso nas pobres crianças que ainda correm o risco de ver a mama acabar - o leitinho escolar. E pergunto: é bebida, similar, ou coisa que o valha?

publicado às 15:44





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