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Portugal e os doentes da memória

por John Wolf, em 25.03.15

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Portugal tem das taxas de incidência de Alzheimer mais altas do mundo. Zeinal Bava, Ricardo Salgado, Vitor Constâncio, Ferro Rodrigues, José Sócrates, Carlos Cruz, Cavaco Silva, entre outros memoráveis, sofrem, com maior maior ou menor intensidade, desta terrível doença. O que podemos fazer? Administrar choques eléctricos? Fazer uso do polígrafo? Portugal arrisca-se a cair num enorme buraco de esquecimento se permitirmos o avanço desta praga. Proponho medidas de combate ao flagelo, mas não me recordo quais serão as mais eficazes. Criar uma Autoridade da Memória e Esquecimento (AME)? Um organismo vivo que circula pelo corpo e que identifica as petas antes que se transformem em mentiras? O que vale é que para a soma de tudo que não se recorda, haverá alguém que se lembra.

publicado às 09:23

O que se passa, passa na TSF

por Fernando Melro dos Santos, em 29.05.14

Um dia, seguramente anterior a  01 de Outubro de 2006. Eu ainda trabalhava por conta de outrém. Costumava ouvir a TSF de manhã, no carro, entre a Reboleira e a 5 de Outubro. Verdes anos. 

 

Certa vez calhei de ouvir Fernando Alves, no programa "Sinais" que mantinha e se calhar mantém, chamar a António Costa, o mesmo de quem agora se fala por não haver mais nada do que falar num país movido a comprimidos, "um enorme democrata" numa apologia aviltante ao voto municipal nesse candidato da sua preferência pessoal, que então tal como hoje nada representa senão a mais basilar desertificação da moral e do intelecto.

 

Numa rádio, numa rubrica normalmente objectiva; assim, de repente, a deitar por terra o trabalho de anos.

 

 

publicado às 16:19

A memória de Abril

por João Quaresma, em 17.04.14

«Património tanto individual como colectivo, a memória constitui a seiva das civilizações, pois sem ela "não há pensamento, sem pensamento não há ideias, sem ideias não há futuro", repetia, insistia Natália Correia, uma das figuras que mais se bateram pela sua dignificação.

Significando conhecimento, a memória pressupõe capacidade crítica e intervenção, o que incomoda todos os poderes, sejam eles ditatoriais sejam democráticos, de direita ou de esquerda, nucleares ou periféricos.

As ditaduras tentam controlá-la pela censura, pela violência; as democracias pela inflação dela até imporem, através da propaganda, da sedução, a que mais lhes convém. O objectivo é, porém, o mesmo: arrancar a memória que somamos (individual, colectiva, cultural, identitária) e substituí-la por outra única, inquestionável.

Daí os políticos, os intelectuais, os comentadores do regime se comportarem como se o país tivesse nascido com eles, esvaziando-o de quase mil anos de existência»

 

Fernando Dacosta, hoje no Jornal I

publicado às 16:15

Impressão de ano

por Regina da Cruz, em 31.12.13

Olharei para 2013 por cima do ombro - "Que queres de mim? Conheço-te?"

 

Não sei o que dizer deste ano, é uma grande mancha, uma nódoa de fronteira irregular.
Os picos de felicidade que vivi facilmente se dissolvem quando integrados no contexto geral. E foi, no geral, um ano terrível.
É impossível saborear uma vitória pessoal, o sucesso, quando à volta reina a confusão, a pobreza, a revolta silenciada, o desespero resignado, a ignorância, o embrutecimento. Quando ligamos a TV chovem disparates. Quando abrimos o jornal salta à vista propaganda e mentiras. Desinformação e superficialidade, um chorrilho de meias-verdades e clichés. Que nojo!

Olhamos para o mundo e há países a saírem-se tão bem e outros, tão mal. Por ignorância, por pura ignorância bruta.

Todos os dias que passaram vi ser-me roubada uma parte do meu salário, uma parte da minha liberdade, uma parte da minha energia, uma parte da minha ambição, uma parte dos meus sonhos. Que futuro? Que futuro, quando todos partem?! Para quem ando eu, afinal, a trabalhar? Dizem-me que o que me retiram da boca é para o estado social… Pergunto: que "social"? Que social?! Não há social nenhum aqui, há emigração em massa, há desagregação, há separação, há destruição. E velhice, muita. Fiquei também por eles, pelos velhos - que será deles se todos, os novos, partirmos? Portugal, esse lar à beira-mar plantado. É bem sabido que este país não é para novos, nem para ninguém que tenha sangue vivo na guelra! Mas também é verdade que é hostil para os velhos, pelo menos, para alguns velhos, os reformados, principalmente aqueles reformados de uma vida de trabalho "privado". Ficou claro ao longo deste ano que há velhos de primeira e velhos de quinta. Os de quinta, quem se importa com eles?

"Concentra-te no presente pois é tudo o que há." Repeti vezes sem conta o mantra sábio, em surdina, como auto-lavagem cerebral. Meditei. Não chegou. Caminhei. Não chegou. Vagueei, deambulei, abandonei-me. Não chegou. Corri. Corri ainda mais. Corri tanto que fugi! Fugi muito este ano que passou, não fiz outra coisa que não fosse fugir, para a frente, sempre para a frente, um dia de cada vez, na impossibilidade de serem dois. Rápido!

Tive saúde, é verdade, e agradeço. Afinal, aquela coisa de que me ria "a saudinha, para si e para os seus!" é a melhor coisa que me podem desejar - faz sentido e dou por mim a desejar "saúde!" aos que amo: digo-o com autenticidade, com solenidade, olhos-nos-olhos.

2013… o ano da confusão, da dissolução. Pela primeira vez, que me lembre, não soube o que pensar, fiquei baralhada várias vezes, a clareza lendária do meu raciocínio deu o tilt em várias situações. Na impossibilidade de raciocinar, vociferei:

"Está tudo louco!"
"Perdeu-se a vergonha na cara!" - que provavelmente nunca se teve…
"Perdeu-se a razão!"
"Perdeu-se a noção do ridículo!"

"Eu desisto."


E fugi novamente, desliguei, não quis saber. Não adianta, para quê saber? Saber é sofrer.

Tenho consciência que estamos a viver um período de transição e por isso é normal estarmos enterrados até ao pescoço nesta lama. Esta lama é "normal".

O meu desejo para os próximos anos é que se saia desta lama e se pise terreno fértil. O meu receio é que o país saia da lama para pisar o deserto. E com a quantidade de gente destrutiva, ignorante e egoísta que este país tem em lugares de poder algo me diz que após a lama virá a areia. Será necessário uma grande mudança de mentalidade dos governantes e dos cidadãos para que ideias novas possam florescer neste terreno agora lamacento. Que sejam deitadas à terra as sementes da mudança e que se protejam os rebentos novos das pragas e parasitas, desses predadores que vivem da estagnação, da confusão e da destruição. Que se regenere esta terra para que um dia possamos reaver aqueles que agora partem rumo a países amigos de ideias boas, países que os abraçam e lhes enchem os corações de esperança e os olhos, de futuro. Um dia esse país será Portugal. Tem de ser!

Vai-te embora 2013 e leva contigo os que te tornaram tão desprezível.



publicado às 15:43

Finis Patriae

por João Pinto Bastos, em 02.12.13

 Aclamação de D. João IV, Veloso Salgado

 

Dia 1 de Dezembro do ano de 2013, um dia que ficará indelevelmente marcado com o ferrete da ignomínia, pois foi nesta precisa data que, pela primeira vez na história da querelante III República, um dos feriados mais relevantes da nossa pátria deixou, aviltantemente, de ser celebrado. Os adjectivos são poucos para descrever com exactidão a crueldade infligida às gentes portuguesas pela ignorância excruciante de uma elite rancorosa e desmemoriada. Dói ainda mais saber que o fim desta celebração foi chancelado por um Governo composto, dizem muitos, pela direita saudosista dos tempos da outra senhora. No fundo, o que ontem sucedeu representa, pelo menos para aqueles que amam, sincera e denodadamente, Portugal, a confirmação oficial de que a memória histórica da Nação foi, em definitivo, esventrada. Foi esse, em grande medida, o desiderato de sempre do jacobinismo republicano. 100 anos de aventureirismos atrabiliários na política e na cultura tiveram, e teriam forçosamente de ter, como desenlace a corrosão insidiosa da comunidade e a ruína dolorosa do memorialismo respeitante aos feitos mais notáveis da grei portuguesa. Hoje, para o grosso do povo português, o 1 de Dezembro de 1640 é uma data como outra qualquer num país que, colectivamente, só enxerga a mísera brutalidade do presente, encarando a lembrança dos apertos pretéritos como um espectáculo entediante e descartável. São poucos, demasiado poucos, os que resistem ao rolo compressor do presentismo desmemoriado, mas, parafraseando Pessoa, tudo vale a pena se o amor à pátria não é pequeno. E, afortunadamente, ainda há quem ame o espírito do Portugal antigo, e deseje, fidelissimamente, recobrar a essência da alma portuguesa. Num futuro que não promete ser radioso, esse resquício  de bom senso é e será, em todo o tempo, uma bênção.

 

Publicado aqui.

publicado às 23:34

Do passado que não sabemos

por Regina da Cruz, em 12.10.13

Tenho mergulhado no passado recente português e é impressionante a quantidade de personalidades que tenho conhecido e das quais apenas muito leve e vagamente ouvi falar. É como se eu desconhecesse por completo os avós e bisavós do pensamento contemporâneo português. É um fosso abismal! Estou deveras impressionada com a minha ignorância - embora não devesse.

 

Como podemos compreender e pensar Portugal no presente e dar-lhe um rumo de futuro se tão pouco sabemos do passado, inclusive do passado recente. Quantas personalidades marcantes, quantas ideias, quanto pensamento vivo, quanta sabedoria portuguesa, quanta intuição sublime, foi atirada para o asilo do esquecimento!

Quanta ingratidão, quanta soberba, quanta miséria.

 

E não há uma alma que nos devolva o passado, que nos dê a conhecer o que de melhor e mais edificante foi construído ao longo dos séculos pelos nossos antepassados! Apresentem-me os meus avós, bisavós, tetravós! Quero conhecê-los e quero ouvi-los, quero saber o que pensaram e pensam ainda de nós, nós os que estamos perdidos, nós os que estamos desorientados nós que precisamos de um conselho e de uma direcção. Que é feitos dos "antigos"? Que é feito das suas ideias?! Ligamos a televisão, abrimos um jornal, passamos os olhos por uma revista e só vemos superficialidade descartável encenada por gente que veio ao mundo com o único propósito nefasto de nos distrair e confundir.

 

Resta-me a curiosidade individual e atomizada, sem método, aleatória, de buscar e aqui e acolá, ler esta passagem e aquela, sem guia, sem instrumentos, ao acaso, sem um fio condutor que não apenas aquele do meu parco entendimento filosófico...Ah, paciência, curiosidade e inteligência não me abandonem nunca , por favor, por que sois tudo o que me resta nesta existência orfã e faminta!

E sigo deambulando, solitária, pelo tempo histórico, colando os fragmentos do pensamento como quem cola pedaços de fotografias na tentativa de perceber a imagem total e ter uma ideia daquilo que poderá ter existido e que o tempo, na sua dinâmica inexorável, se encarregou, como é normal quando não há guardiões da memória, de apagar.

 

(publicado originalmente aqui)

publicado às 15:13

Sir Winston Leonard Spencer-Churchill

por João Pinto Bastos, em 30.11.12

Winston Churchill


Churchill tinha, entre as suas incontáveis qualidades, um predicado que sobressaía claramente: uma ironia aristocrática única e inimitável. Se há algo que falta nas sociedades atomizadas e pós-moderninhas dos nossos dias é, justamente, uma dose bem carregada de ironia. Uma ironia fina que atinja o âmago das coisas. Uma ironia que questione radicalmente o mundo presente. Uma ironia que destempere e fira a banalidade do quotidiano. Sem ela o debate intelectual torna-se invariavelmente num sucedâneo mísero do célebre adágio hobbesiano do "homo homini lupus". Por outras palavras, a morte do pensamento. O sono goyano da razão. Churchill conhecia bem o carácter do homem democrático, posto que temeu, como poucos, as suas deformidades mais nefastas. Mas, foi, também, um dos poucos políticos que ousou, durante toda a sua vida política, lutar contra os vícios inerentes à democracia, usando sempre a ironia. No dia do seu aniversário, recordar a sua memória é, acima de tudo, retomar uma tradição perdida. Um ideário desaparecido nas brumas da memória. Como diria Churchill o fracasso não é fatal, o que importa é tão-só a coragem para continuar a perseverar. Um bom liberal, sobretudo nos dias lassos que correm, sabe que esta é a única alternativa que resta ao ocaso da razão.

publicado às 20:16






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