Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O título deste post está errado. Deveria ser "Why Hayek and Not Mises". Em primeiro lugar, porque ao contrário do que Mises pensava, a propriedade privada não é suficiente, per se, para definir o liberalismo e o conceito de liberdade - se o fosse, o liberalismo não seria uma teoria política. E porque o anarco-capitalista Hans-Hermann Hoppe compila uma série de citações de Hayek com o intuito de mostrar que este era um social-democrata moderado, acabando, na verdade, por mostrar que Hayek era um liberal clássico que compreendia que a liberdade não pode ser apenas encarada na sua dimensão negativa, devendo ser combinada com a dimensão positiva, que é algo que está na base do Estado contemporâneo nas sociedades ocidentais. Ou seja, Hayek era um realista, ao passo que Rothbard, Hoppe e a restante trupe anarco-capitalista viveram ou continuam a viver no seu mundinho ideal da utopia libertária.
Pedro Arroja, Eles não:
«O Mises decidiu que tudo aquilo que o Estado faz é mau e, portanto, mesmo quando o Estado faz alguma coisa boa, ele tem ou de ficar calado ou de mentir, em qualquer caso não dizendo aquilo que pensa porque, caso contrário, está a dar trunfos ao inimigo - os socialistas. Ora, os socialistas agem exactamente da mesma forma mas em sentido contrário. Para eles, o Estado é que é bom e tudo o que o Estado faz é bom. De maneira que, quando o Estado faz alguma coisa mal, eles ou ficam calados ou têm de mentir dizendo que o Estado fez bem alguma coisa que eles sabem muito bem que fez mal. Também eles não são livres, não podem dizer sempre aquilo que pensam.
E tudo isto resulta de uns e outros terem passado a viver a vida de forma partidarizada, perdendo o sentido de comunidade e tornando-se inimigos uns dos outros. Admitir a verdade passou a ser, em muitos casos, dar trunfos ao inimigo, e isso eles não podem fazer. Nesses casos, eles têm de omitir a verdade ou distorcê-la até a tornar mentira.
Segue-se que, continuando a restringir-me exclusivamente à esfera da liberdade de expressão, os liberais clássicos (e os socialistas) são muito menos livres do que eu. Eu posso sempre dizer aquilo que penso. Eles não.»
Um breve mas elucidativo artigo de Peter J. Boettke e Peter T. Leeson que mostra como o liberalismo se fundamenta num pessimismo antropológico que está mais próximo da verdadeira natureza humana do que o ideário socialista, daí derivando a sua grande força: a capacidade de tornar vícios e interesses de indivíduos egoístas em contribuições efectivas para o bem comum por via do mercado, sem depender de governantes com boas intenções. Ademais, não entrando pelo campo das intenções (ou não fossem os socialistas virgens ofendidas), Mises e Hayek destruíram o edifício teórico socialista ao exporem a sua fragilidade no que diz respeito à questão da informação e conhecimento, ou dito de outra forma, mostraram como o socialismo é uma impossibilidade epistemológica, mesmo quando todas as suas condições ideais são reunidas. Simplesmente não funciona, ponto.