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Os mosquitos de Machado

por John Wolf, em 08.08.13

A lei de "imitação" de mandatos parece ter sido a norma lá para os lados de Braga. A bem ou a mal, com ou sem carisma, Mesquita Machado reinou, sem idas à casa de banho, durante 37 anos. Foi o povo que quis, foi a população que mais ordenou, e parece que quiseram quebrar recordes de longevidade política detidos por outros ocupantes de cadeiras históricas. Machado, cansado de tanta vitória, provavelmente deseja retirar-se antes que se ponham a inventar soluções respeitantes a reformas e pensões. O autarca quer sair enquanto ainda leva a vantagem. Para o seu lugar o PS escolheu um candidato com nome de humorista - Vitor (de) Sousa -, o número dois da estrutura local (Vitor de Sousa também foi número dois de Herman José). Mas a panóplia de candidatos não se fica por aí. A principal figura autárquica do PS vai ter de disputar as eleições com distintos progressistas cultivados nas estufas locais do PS, para além de eternos camaradas do CDU e bloquistas da Esquerda. Se nos servirmos de Braga como tubo de ensaio ou matéria de análise, poderemos constatar que as eleições autárquicas servirão para fragmentar ainda mais qualquer ideia de consistência no poder. Em virtude dos níveis de desentendimento no seio da coligação do governo nacional e no contexto do falhanço do projecto de salvação nacional, em grande medida da responsabilidade dos senhores do Rato, de norte a sul do país, assitiremos a réplicas do epicentro sísmico da crise política. Na minha opinião, as câmaras serão trucidadas pelo dogma do não entendimento. Seguro lançou o mote do PS: "a solo ou morte" porque acredita no tudo ou nada, precisamente no momento histórico em que esse princípio avariou, e já não se adequa ao renascimento de um novo paradigma de pontes e travessias. As coligações autárquicas que registamos serão as mesmas de sempre, dependentes da mesma árvore ideológica que já deu os frutos que tinha de dar. A saída de uma antiguidade clássica como Mesquita Machado funciona como uma demissão em bloco. De repente os munícipes serão confrontados com a matriz inexistente, a falta de referências de candidatos sem experiência efectiva, sem percurso comparável à sua. A praga de mosquitos políticos que vai girar em torno da carcaça de Machado será intensa e deve-se à possibilidade de aproveitar o vazio deixado pelo homem que ao longo de quatro décadas mandou nos destinos do concelho. Ao fim de tantos anos de residência, seria conveniente, e em nome da eficiência democrática, averiguar se o saldo é positivo. Seria útil proceder ao levantamento dos dossiers tratados durante todo esse tempo. Durante quase quarenta anos muita coisa aconteceu; intervenções do FMI, governos de bloco central, crises nas pescas e na agricultura, a adesão à CEE, a morte de Sá Carneiro, a deslocação de Zita Seabra (por exemplo, há mais) de uma extrema política para outra, a adesão ao Euro, a abertura de fronteiras no espaço Europeu, o braço partido de Bento no mundial do Mexico, a construção das torres das Amoreiras e a realização do filme erótico (estou a ser simpático) de Tomás Taveira, o prémio Nobel atribuído a Saramago e a realização da EXPO 98. Enfim, uma enciclopédia de ocorrências nacionais aconteceu e serviu de enquadramento, de justificação ou desculpa para certas ocorrências. Neste clima de grande agitação sobre a questão da limitação de mandatos, seria muito bom que meia dúzia de cientistas sociais e políticos aproveitasse a descoberta arqueológica para investigar o estilo de vida política de Mesquita Machado. O mais provável é que não o façam e sejamos distraídos com os jovens mosquitos ávidos por picar o ponto final na câmara municipal.

publicado às 11:59





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