Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cass R. Sunstein, The World According to Star Wars:
What do Martin Luther King Jr. and Luke Skywalker have in common?
They’re both rebels, and they’re rebels of the same kind: conservative ones. If you want a revolution, you might choose to follow them, at least in that regard. Conservative rebels can be especially effective, because they pull on people’s heartstrings. They connect people to their past, and to what they hold most dear.
Some people, like Leia Organa, seem to be rebels by nature, and whenever a nation is run by Sith or otherwhise evil or corrupt, they might think that rebellion is a great idea. They might well be willing to put their own futures on the line for the cause. But in general, even rebels do not like to “reboot” – at least not entirely. This is true whether we are speaking of our lives or our societies.
Of course some people want to blow everything up and start over. That might be their temperament, and it might be what their own moral commitments require. But human beings usually prefer to continue existing narratives – and to suggest that what is being written is not a new tale but a fresh chapter, a reform to be sure, but also somehow continuous with what has come before, or with what is best in it, and perhaps presaged or foreordained by it. That’s true for authors of Episodes of all kinds, and not just Lucases and Skywalkers.
Consider the words of Edmund Burke, the great conservative thinker (and admittedly no rebel), who feared the effects of “floating fancies or fashions,” as a result of which “the whole chain and continuity of the Commonwealth would be broken.” To Burke, that’s a tragedy, a betrayal of one of the deepest human needs and a rejection of an indispensable source of social stability. Burke spoke with strong emotion about what would happen, should that break occur: “No one generation could link with the other. Men would become little better than the flies of a summer.”
Pause over those sentences. Burke insists that traditions provide connective tissue over time. That tissue helps to give meaning to our lives, and it creates the closest thing to permanence that human beings can get. This is a conservative thought, of course, but even those who do not identify as conservative like and even need chains and continuities. That’s part of the appeal of baseball; it connects parents with their children, and one generation to another. The same thing can be said about Star Wars, and it’s part of what makes the series enduring. It’s a ritual.
In the Star Wars series, what the rebels seek is a restoration of the Republic. In that sense, they are real conservatives. They can be counted as Burkeans – rebellious ones, but still. They’re speaking on behalf of their own traditions. By contrast, Emperor Palpatine is the real revolutionary, and so are the followers of the First Order. Luke, the Rebel Alliance, the Resistance want to return to (an idealized version of) what came before. They look backward for inspiration. In fact that’s kind of primal.
Martin Luther King Jr. was a rebel, unquestionably a Skywalker, with a little Han and more than a little Obi-Wan. He sought fundamental change, but he well knew the power of the intergenerational link. He mande claims of continuity with traditions, even as he helped to produce radically new chapters.
From King’s speech about the Montgomery Bus Boycott:
If we are wrong, the Supreme Court of this nation is wrong. If we are wrong, the Constitution of the United States is wrong. If we are wrong, God Almighty is wrong. If we are wrong, Jesus of Nazareth was merely a utopian dreamer that never came down to earth. If we are wrong, justice is a lie. Love has no meaning.
Boa noite.
Uma definição de insanidade é fazer infinitas vezes a mesma coisa esperando obter resultados diferentes. Eu concordo com esta formulação.
Descontemos o facto, certo e sabido, de haver uma sólida fatia de votantes que o são em causa própria, directamente, por mercê de benefícios que esperam obter através do concubinato com os partidos políticos. Estes estão quase arrumados, por haver cada vez menos dinheiro a cair do céu. Resta-lhes o nosso, que nos é subtraído por via da taxação - uma forma de roubo - mas também esse se esvai.
Há outros que ainda votam por ingenuidade, e uns quantos, maioritários, que se recusam a participar na farsa.
Aos últimos dirijo este post.
Durante quantos anos será preciso ver telejornais que abrem com manchetes similares a
- afinal não é este ano que a recessão acaba
- estado cobrou mais impostos, mas gastou mais dinheiro
- PS diz que sim, PSD diz que não, o Sporting empatou, Kapinha foi agredido
- gestor vindo da empresa XX, militante no partido yy, contratado por dez mil euros
- suicídios aumentam, abortos aumentam, emigração aumenta, casal idoso assaltado e espancado com barra de ferro
- alunos do nono ano não sabem ler
- nova telenovela estreia amanhã, episódio triplo, não perca
- 90% dos deputados têm outros rendimentos e raramente comparecem na AR
- há um milhão de desempregados, "mas podíamos estar pior"
- há fome e pavor, "mas dantes era pior"
Podia prosseguir, mas não consigo.
Falta-me uma peça crucial à continuidade deste exercício: não sei se sois cobardes ou simplesmente incapazes de compreender o inferno que criastes.
Marinus van Reymerswaele, Dois colectores de impostos, 1540
"Fisco já abriu "diversos processos de contra-ordenação" a consumidores por falta de factura" titula o Negócios. Peço imensa desculpa se ofender alguém, sobretudo as alminhas mais quebradiças, mas Portugal já não é uma democracia fiscal. Ponto. Quem é que se atreverá, doravante, a falar em democracia e liberdades quando o Xerife de Lisboa, dia sim, dia não, processa e condena os cidadãos esbulhados por enormidades deste género? É que coisas destas, que alguns tentam diminuir ou menosprezar alegando o inenarrável argumento do controlo das contas públicas, são um exemplo do pior que um Estado mastodôntico e incontrolado é capaz de produzir. Recordam-se do famoso slogan que deu origem, entre outras coisinhas, à Revolução Americana? Pois é, é que, ao que parece, o estribilho do "no taxation without representation" está fora de moda nas democracias ocidentais. Endividámo-nos até não poder mais para sustentar estados pesados, gordos e ineficientes, e, no fim, como presente pelo nosso bom comportamento na onda onírica que nos trouxe a este desastre, ainda somos assaltados que nem bestas justamente por aqueles que provocaram este dilúvio económico e financeiro. O cidadão comum, como eu e V., só serve para pagar impostos. Nada mais. Servimos apenas e tão-só para abrir os cordões à bolsa e despejar os nossos parcos rendimentos, se eles ainda existirem, na longa manus do Leviatã. V. ouve alguma palavra de agradecimento, algum gesto de gratidão por banda dos salteadores do Poder? Não, e jamais ouvirá. O mínimo que nos pode acontecer, a mim e a V. que me lê, caso não bufemos o Manel Elias, dono da Pastelaria "Doce Mar" onde vamos, todos os dias, comer uma saborosíssima bola de berlim, é pagar uma bela multa. Sim, a opção é clara: ou denunciamos e cumprimos os regulamentos dos mandarins verrinosos, ou incumprimos e sujeitamo-nos à sanha do estadão. E ainda falam em democracia. Se ainda havia alguma dúvida, uma dúvida que fosse, a respeito do esboroamento final da democracia e das liberdades mais fundamentais, ela dissipou-se definitivamente. Como dizia o famigerado diácono do mestre Herman, não havia necessidade.
José Adelino Maltez, Breviário de um Repúblico, 29 de Janeiro:
«Pensar é dizer não. A realidade sempre foi subvertida pelas autonomias, pessoais e comunitárias, quando estas assumem que, no princípio, tem de estar o fim, o tal dever ser que é, das essências que apenas se realizam pelas existências. Todos os decretinos processadores, em nome da ideologia ou do vértice hierárquico, do ministerialismo, com os seus sucedâneos, directoristas, presidencialistas ou rectorísticos, temem os que praticam o pensar é dizer não, como dizia Alain. Ou que a revolta é bem mais fecunda que a revolução, como vai acrescentar Albert Camus (2011).
Resistência individual. Quem experimentou as garras do saneamento e do processamento da persiganga não pode admitir que o rolo unidimensional do conformismo nos faça enjoar, sobretudo nesta praia da Europa que sempre foi partida para todas as sete partidas. O sinal do nosso futuro continua a passar pela resistência individual e pelo pensamento crítico da liberdade. A essência do homem ocidental sempre foi o individual do indiviso, que é expressão da fundamental dignidade da pessoa humana. Mesmo quando se rejeitam as normalizações impostas pelos pretensos antidogmáticos, neodogmáticos, como esses que, perante certo situacionismo, proclamam que têm o monopólio da contestação e assim nos desmobilizam. Os bobos da demagogia, da tirania e da mentira podem alimentar-se desses irmãos-inimigos. Quem quiser continuar mesmo do contra tem que procurar o mais além e antecipar o tempo da revolta (2011).»
Albert Camus, The Rebel:
«What is a rebel? A man who says no: but whose refusal does not imply a renunciation. He is also a man who says yes as soon as begins to think for himself. A slave who has taken orders all his life, suddenly decides that he cannot obey some new command. What does he mean by saying “no”?
He means, for instance, that “this has been going on too long”, “so far but no farther”, “you are going too far”, or again, “there are certain limits beyond which you shall not go.” In other words, his “no” affirms the existence of a borderline. You find the same conception in the rebel's opinion that the other person is “exaggerating”, that he is exerting his authority beyond a limit where he infringes on the rights of others. He rebels because he categorically refuses to submit to conditions he considers intolerable and also because he is confusedly convinced that his position is justified, or rather, because in his own mind he thinks that he “has the right to...”. Rebellion cannot exist without the feeling that somewhere, in some way, you are justified. It is in this way that the rebel slave says yes and no at the same time. He affirms that there are limits and also that he suspects - and wishes to preserve - the existence of certain things beyond those limits. He stubbornly insists that there are certain things in him which “are worth while ...” and which must be taken into consideration.
In every act of rebellion, the man concerned experiences not only a feeling of revulsion at the infringement of his rights but also a complete and spontaneous loyalty to certain aspects of himself. Thus he implicitly brings into play a standard of values so far from being false that he is willing to preserve them at all costs. Up to this point he has, at least, kept quiet and, in despair, has accepted a condition to which he submits even though he considers it unjust. To keep quiet is to allow yourself to believe that you have no opinions, that you want nothing, and in certain cases amounts to really wanting nothing. Despair, like Absurdism, prefers to consider everything in general and nothing in particular. Silence expresses this attitude very satisfactorily. But from the moment that the rebel finds his voice - even though he has nothing to say but “no” - he begins to consider things in particular. In the etymological sense, the rebel is a turncoat. He acted under the lash of his master’s whip. Suddenly he turns and faces him. He chooses what is preferable to what is not. Not every value leads to rebellion, but every act of rebellion tacitly invokes a value. Or is it really a question of values?
An awakening of conscience, no matter how confused it may be, develops from any act of rebellion and is represented by the sudden realization that something exists with which the rebel can identify himself – even if only for a moment. Up to now this identification was never fully realized. Previous to his insurrection, the slave accepted all the demands made upon him. He even very often took orders, without reacting against them, which were considerably more offensive to him than the one at which he balked. He was patient and though, perhaps, he protested inwardly, he was obviously more careful of his own rights. But with loss of patience – with impatience – begins a reaction which can extend to everything that he accepted up to this moment, and which is almost always retroactive. Immediately the slave refuses to obey the humiliating orders of his master, he rejects the condition of slavery. The act of rebellion carries him beyond the point he reached by simply refusing. What was, originally, an obstinate resistance on the part of the rebel, becomes the rebel personified. He proceeds to put self-respect above everything else and proclaims that it is preferable to lie itself. It becomes, for him, the supreme blessing. Having previously been willing to compromise, the slave suddenly adopts an attitude of All or Nothing. Knowledge is born and conscience awakened.
But it is obvious that the knowledge he gains is of an “All” that is still rather obscure and of a “Nothing” that proclaims the possibility of sacrificing the rebel to this “All.” The rebel himself wants to be “All” – to identify himself completely with this blessing of which he has suddenly become aware and of which he wishes to be recognized and proclaimed as the incarnation - or “Nothing” which means to be completely destroyed by the power that governs him. As a last resort, he is willing to accept the final defeat, which is death, rather than be deprived of the last sacrament which he would call, for example, freedom. Better to die on one’s feet than to live on one’s knees.»
Se Hayek tem razão quando considera que a vida não tem outro propósito para além da sua própria existência, então Camus terá razão em considerar o suicídio como o único problema filosófico verdadeiramente sério. Nestes estranhos tempos em que vivemos, o "perigo de todo os perigos", como assinalou Nietzsche, é "nada mais ter sentido." E talvez seja por a vida não ter sentido que, segundo Oscar Wilde, a maioria de nós limita-se a existir, não vivendo. Se assim é, só podemos escapar ao absurdo da existência da vida pelo suicídio ou pela esperança, como Camus aponta. Não lhe escapando, somos compelidos no sentido da revolta, que surge "do espectáculo do irracional a par com uma condição injusta e incompreensível." "Eu revolto-me, logo existo", escreveu o filósofo francês. Alguns dirão que calar a revolta será sinal de maturidade. A mim afigura-se-me antes como um suicídio do pensamento. E eu ainda prefiro continuar a viver, mesmo que tenha que me submeter para sobreviver. Até um dia.
(Marquês de Sade, imagem daqui)
Albert Camus, The Rebel:
«From rebellion, Sade can only deduce an absolute negative. Twenty-seven years in prison do not, in fact, produce a very conciliatory form of intelligence. Such a lengthy confinement makes a man either a weakling or a killer – or sometimes both. If the mind is strong enough to construct, in a prison cell, a moral philosophy which is not one of submission, it will generally be one of domination. Every ethic conceived in solitude implies the exercise of power. In this respect Sade is the archetype, for in so far as society treated him atrociously he responded in an atrocious fashion. (…)
He his exalted as the philosopher in chains and the first theoretician of absolute rebellion. He might well have been. In prison, dreams have no limits and reality is no curb. Intelligence in chains loses in lucidity what it gains in intensity. The only logic know to Sade was the logic of his feelings. He did not create a philosophy, he pursued a monstrous dream of revenge. Only the dream turned out to be prophetic. His desperate claim to freedom led Sade into the kingdom of servitude; his inordinate thirst for a form of life he could never attain was assuaged in the successive frenzies of a dream of universal destruction. In this way, at least, Sade is our contemporary.»
O problema, para a Leonor Barros, a Ana Vidigal e outros é, afinal, o facto de José António Saraiva ser capaz de utilizar os seus olhos e o seu cérebro para operar duas acções humanas: observar e classificar. Passam ao lado do argumento central e que realmente importa no texto de JAS. Se o problema é a classificação derivada da observação e descrição, deixem-me então contar-lhes uma observação que me fizeram no início da primeira noite que fui a um bar gay. Dois gays olharam-me de alto a baixo, viraram-se para mim e afirmaram categoricamente: "Você é hetero, não é gay." Sorri e pronto. Qual é o problema? Todos os dias passo algum tempo no Chiado e, sentando-me numa qualquer esplanada ou nos Armazéns a jantar, consigo dizer quem é gay com um alto grau de probabilidade de acertar. E quem disser que o não consegue, ou está a mentir ou deve andar de olhos fechados e sem utilizar o cérebro. Todos classificamos os outros, mesmo que o façamos inconscientemente e sem o exteriorizar. Aliás, se há pessoas que refinam apuradamente esta capacidade são precisamente os gays. Não há mal nenhum nisso, é uma característica humana e que nos distingue dos animais.
Entretanto, recomenda-se especialmente aos que andam sempre com a tolerância na ponta da língua que leiam um artigo que José António Saraiva escreveu há uns meses e que é mais do que apropriado: Uma polícia do pensamento?
Adenda: Quando escrevi "é uma característica humana e que nos distingue dos animais", estava a pensar em classificação em termos do que comummente se chama tribos urbanas, mesmo pertencendo às mesmas espécie e comunidade. Alertado pelo Filipe Faria, rectifico salientando que a capacidade para definir grupos instintivamente está também presente nos animais.
Leitura complementar: O falhanço mental da brigada do politicamente correcto ou ainda o artigo de José António Saraiva sobre a homossexualidade contestatária; A homossexualidade como revolta contra o niilismo moderno; Eu, retrógrado, curvo-me perante os adiantados mentais; Todas as diferenças de opinião são também epistemológicas e metodológicas
Na caixa de comentários, Abel Matos Santos:
«Como profissional de saúde que trabalha, também, com adolescentes, posso afirmar categoricamente que assistimos a um fenómeno absolutamente assustador, onde muitos adolescentes e jovens adultos que não são homossexuais se envolvem em práticas homossexuais pela pressão dos pares, por estar na moda e pela pressão social, tendo muitos desenvolvido problemas emocionais graves que os leva, entre outras coisas, a automutilações, depressões e suícidio. JAS tem toda a razão no seu artigo! Venham as ILGAS e os arautos dos homossexuais contestar, mas a realidade impoe-se sempre a ideologia.»
Leitura complementar: O falhanço mental da brigada do politicamente correcto ou ainda o artigo de José António Saraiva sobre a homossexualidade contestatária; A homossexualidade como revolta contra o niilismo moderno; Eu, retrógrado, curvo-me perante os adiantados mentais; Todas as diferenças de opinião são também epistemológicas e metodológicas
(imagem daqui)
1 - A esmagadora maioria das reacções ao artigo de José António Saraiva são bem reveladoras do maniqueísmo que grassa em muitas mentes, incapazes de ver o mundo em tons de cinzento – que é como ele realmente é –, concentrando-se no acessório (a descrição que JAS faz do rapaz que encontrou no elevador) para ofender aqueles que não apreciam e deixando o essencial de lado, talvez porque tenham consciência que as suas reacções manifestamente exageradas escondem aquilo que lá no fundo sabem ou que pelo menos vislumbram como até podendo ser verdadeiro mas com que não querem confrontar-se por poder colocar em causa os dogmas em que acreditam: que, na verdade, JAS tem razão quando diz que há muitos homossexuais que não são realmente homossexuais mas sim mentes fracas que em face do niilismo moderno encontram na orientação sexual uma forma de afirmação e/ou revolta, sendo, acrescento eu, produtos da ideologia de género que faz crer que a orientação sexual pode ser uma escolha consciente e racional, o que é falso.
2 – Note-se que não se trata de uma contestação geracional num sentido colectivista, isto é, organizado e com propósitos bem definidos (como o foram as lutas estudantis que JAS refere) mas, num contexto de isolamento individual e alienação, sendo a sexualidade uma vertente da afirmação da personalidade, pode funcionar este processo quase espontaneamente como forma de revolta não se sabe bem contra o quê, em virtude do niilismo, do vazio de significado e propósito, acabando alguns indivíduos por se reconhecer nesse tipo de comportamento, tornando-o uma moda e atraindo mais indivíduos para esse estilo de vida. Conheço alguns casos que me parecem estar perfeitamente enquadrados nisto, daí dizer que o ponto central do artigo merece ser explorado. É interessante do ponto de vista sociológico, porque acaba por ser um fenómeno que vem a ter alguma visibilidade (no Chiado é mais do que evidente) e também do ponto de vista da psique, podendo servir para percebermos melhor os tempos em que vivemos. É primeiramente uma revolta individual, e só depois pode ou não ter efeitos nas esferas sociais e/ou política. Quando o que vários indivíduos fazem se torna uma tendência crescente e facilmente observável na sociedade, e se eu ao observá-la conseguir perceber qual o substrato filosófico que lhes dá sustentação prática (e este é o do neo-marxismo) e se eu conseguir provar que esse substrato está errado, como eu consigo com o neo-marxismo, então eu tenho o dever de o dizer/escrever, se quiser intervir criticamente na sociedade onde vivo.
3 – Tomando como dado adquirido que a orientação sexual é genética, isto não equivale a dizer que seja uma doença. A nossa personalidade, da qual faz parte a orientação sexual, é fruto da combinação de factores genéticos/biológicos, que nos são transmitidos pelos pais, e de factores sociais/ambientais. O que acho é que há uma transmissão genética, e há vários estudos que apontam nesse sentido, um dos quais bastante recente (2008), sendo este um debate já bem velhinho. Não estou a fazer nenhum juízo de valor ou a criticar. Pelo contrário, estou a dizer que é natural e que não é uma doença, uma fase ou uma escolha. Por outro lado, a ideologia de género é que inventou as muy politicamente correctas possibilidades de escolha do género e orientação sexual, que acabam, essas sim, muitas vezes por originar perturbações mentais. Não há contra-senso porque, tal como JAS, o que digo é que há gays que o são realmente, e depois há estes que acham que são e/ou que podem estar tão confundidos que nem sabem o que são (a ideologia de género faz muito por isso). Talvez um dia a ciência nos auxilie sobre isto. Mas por ora, tudo isto serve também para ilustrar que, sem fazer juízos de valor sobre o que é uma verdadeira orientação sexual, mas sim sobre processos sociais e individuais que advêm de teorias falsas que se desenvolvem e propagam num contexto niilista e relativista, é saudável sairmos dos redis do politicamente correcto e questionarmos aquilo sobre o que nem a ciência ainda nos deu respostas conclusivas.
4 - A incapacidade de muitos indivíduos para questionar as ideias pré-concebidas, politicamente correctas, que professam como um credo (provavelmente sem saber de onde provêm), e de discutir civilizadamente um qualquer tema, por mais delicado que seja, como este é, é claramente mais um sintoma do falhanço moral e educacional da sociedade portuguesa. Sem uma formação sólida nas humanidades e que fuja aos cânones do neo-marxismo, não admira que muita gente seja incapaz de perceber que generalizações são explicações de princípio, gerais, com um certo grau de verificação, mas com excepções que evidentemente servem para as confirmar como tendências. É por isso que as estatísticas nunca são reais. Só a irregularidade da realidade é real, como escreveu Jung. E esta diz respeito a cada indivíduo, um ser único e irrepetível, pelo que ninguém obviamente diz que "todos os homossexuais são-no porque escolhem ser" ou "todos os homossexuais são-no porque querem revoltar-se contra os pais ou a sociedade" ou "todos os homossexuais são-no porque está na moda". Quando perceberem que aquilo que qualquer pensador social ou intelectual público minimamente credível faz é colocar hipóteses sobre comportamentos individuais, e que não sendo o mundo a preto e branco, podem verificar-se até em combinações várias, mas não deixam de ser hipóteses e especulações úteis para tentar entender a sociedade em que vivemos, mesmo com as excepções que confirmam a regra, talvez nessa altura o debate público em Portugal possa ser menos acrimonioso.
5 – Como muitos recusam o que decorre dos pontos anteriores, enveredam pelo campo mais fácil, o do insulto, apelidando José António Saraiva ou quem com ele concorde de homofóbicos, como já hoje fizeram comigo, quando não partem para outros mimos. Claro que o facto de lidar com diversos gays ou ir a bares gays sem qualquer problema não deve obstar à minha homofobia. Deve ser um tipo especial de homofobia. Mas daquela que muitos gays têm, ao saberem perfeitamente que aquilo que aqui escrevi corresponde em grande medida à realidade que facilmente observamos em Lisboa. Para finalizar, praticamente só vi virgens ofendidas e histéricas que partiram logo para o insulto. Tentar analisar o que já por várias vezes salientei como um válido ponto central e debater civilizadamente é coisa que não assiste às mentes cheias de certezas absolutas. Entretanto, se começassem por ler isto e isto, podia ser que aprendessem qualquer coisa e conseguissem ir um bocadinho além do “que texto nojento”, “este gajo é um nojo”, “este gajo é homofóbico”, “este gajo anda a galar meninos de 17 anos” e outros mimos muito sofisticados.
Leitura complementar: A homossexualidade como revolta contra o niilismo moderno; Eu, retrógrado, curvo-me perante os adiantados mentais; Todas as diferenças de opinião são também epistemológicas e metodológicas
Em reacção ao meu pequeno post de ontem, João Quadros, no Twitter, referiu-se a este dizendo que "há blogs no século XVIII!!!". Não sei bem se era um insulto ou um elogio, pois poucos séculos existiram tão ricos em desenvolvimentos intelectuais, políticos e sociais como o XVIII. Entretanto, o camarada Francisco Silva, que alinha pelo mesmo diapasão que o escriba anterior, produziu um texto onde pouco mais faz que insultar José António Saraiva, sem nada acrescentar à discussão do ponto central do artigo, que, como escrevi aqui, parece-me digno de ser explorado e debatido. Mas, para que os adiantados mentais dos nossos tempos se dêem ao trabalho de o fazer sem começarem num pranto, quais progressistas virgens ofendidas, têm que tentar sair dos redis do politicamente correcto. Cá os espero, se quiserem dar-se ao trabalho. Podem começar, por exemplo, por estes dois artigos da Slate e os estudos a que se referem. Sintam-se bem-vindos ao século XXI.
Não costumo apreciar José António Saraiva, mas daquilo que me é dado observar do que me rodeia, acho que o ponto central do artigo merece ser explorado. Creio, como o autor, que a orientação homossexual é genética. Mas que se vê muita gente a enveredar por aí como se fosse uma escolha (a ideologia de género e a Escola de Frankfurt ajudam a perceber porque muita gente pensa que pode fazer essa escolha), e como forma de constestação/revolta, também me parece verdade. Que isso tenha efeitos nefastos na psique individual é apenas natural, e o caso Renato Seabra é só um exemplo do que pode acontecer ao tentarmos alterar a nossa natureza.
Militares que ameaçam revoltar-se apenas quando tocam nos seus ordenados e regalias, num país com milhões de pessoas a fazer sacrifícios desde há muito tempo e em que a decadência do regime ameaça de sobremaneira a sua soberania, não são militares. São mercenários.