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Quando se começou a falar desta coisa da Geração Millennials - que não se sabe bem quando começa nem onde acaba - uma das principais características que se lhe apontava era a preguiça. Não sei de onde vem isto, se tem alguma base científica ou não, mas a verdade é que também há inúmeros artigos em revistas estrangeiras que dizem que, afinal, os millennials são workaholics como a geração que os antecede. Como digo, não consigo sustentar com grande convicção uma ou outra teoria. Eu próprio não sei se sou passível de enquadramento nisso dos millennials ou não - talvez a minha idade diga que sim, provavelmente a minha cabeça dirá que não. Não sei.
Mas é certo que se tem formado a convicção, pelo que tenho ouvido de muita gente, de que esta nova geração de miúdos que está a entrar no mercado de trabalho não está para aturar tretas. Talvez seja isso que os mais velhos - alguns tão velhos como eu - vejam como preguiça. Mas se é para não aturar tretas, então devíamos todos aprender mais com esta nova geração de trabalhadores do que com os yuppies frustrados que para aí andam, entre grandes empresas, grandes consultoras ou grandes escritórios de advogados.
Na verdade, não me interessa tanto esta discussão geracional. O que eu estou é cansado de ouvir sempre as mesmas histórias, sempre vindas dos mesmos meios, do mesmo género de trabalhador. Se é para mudar alguma coisa, então que sejamos todos millennials ou lá como se chama isso.
Do que eu estou farto é de gente em estado de burnout - ou síndrome de esgotamento profissional ou que é. De gente que vive presa no trabalho e que não consegue ver mais nada para além disso. De gente que se suicida porque chegou ao fim da linha, porque não aguentava mais. De gente que chora compulsivamente no escritório às tantas da noite porque não vê os filhos há semanas. De gente mal paga, sem vínculos de trabalho, ou precários, como se diz, que vive na aparência do sucesso profissional, do fato e da gravata, de um salário milionário que não existe, de uma carreira que nunca sairá do mesmo sítio, de um estatuto social que é uma ilusão. Estou muito farto de gente que se queixa do manager, do sócio, do partner ou do raio, que entra pelo escritório a apontar para a própria gravata e a dizer "esta merda custou o seu salário". De secretárias destes novos-ricos que são tratadas de "puta" para baixo a toda a hora, todos os dias. De mulheres que não podem gozar férias porque lhes deram o imenso privilégio de ir para casa depois de terem um filho. De mulheres que abortam espontaneamente ou que acabam a gravidez no limite do risco porque continuam, ao quarto, quinto, sexto ou sétimo mês de gravidez, a trabalhar 14 horas por dia. De homens sem direito a licença de paternidade.
E, sobretudo, de gente que diz que isto é mesmo assim, que é a trabalhar que a gente se entende, que é nas quatro paredes e no chão alcatifado, todos os dias aspirado por uma imigrante qualquer que tem outra vida ainda mais miserável, que um gajo se sente feliz e realizado.
Se é verdade que os millennials não estão para aturar isto, então venham de lá os millennials - ou outros quaisquer, alguém que diga que não, que não está para isto. Que não há donos nesta vida, muito menos por um salário de merda.