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Eleiçoes legislativas 2025: O elefante na sala

por Samuel de Paiva Pires, em 18.05.25

Muitas lições e ilações podem ser retiradas dos resultados eleitorais de hoje. Os comentadores televisivos estão a focar-se nas lições e efeitos de curto prazo, especialmente os atinentes à formação de governo (será que a AD se coligará com a IL?) e à liderança do PS. Iremos ainda ouvir falar muito da taxa de abstenção e da incapacidade dos partidos centrais do regime responderem aos problemas do país, e assistiremos também a vaticínios sobre a duração do próximo governo. Além disto, continuarão todos, comentadores, jornalistas e partidos, a ignorar as mudanças estruturais na sociedade portuguesa que estão intrinsecamente relacionadas com o crescimento do Chega e que irão contribuir fortemente para a erosão do regime democrático.

A principal mudança prende-se com a penetração do Chega nas camadas mais jovens da população portuguesa, designadamente os adolescentes do ensino básico e secundário. Há um conjunto de factores que permitiu ao Chega fidelizar muitos membros deste segmento demográfico. A longa decadência do sistema educativo e a ascensão das redes sociais, a que veio mais recentemente juntar-se a emergência da Inteligência Artificial - que para qualquer sistema educativo representa um autêntico retrocesso civilizacional -, facilitaram muito o contacto do Chega com estes jovens, que estavam já à mercê de um ambiente digital tóxico.

O que o Chega tem vindo a fazer é um combate cultural de longo prazo focado naqueles que serão os eleitores do futuro, que estão muito mais vulneráveis à desinformação e manipulação do que quaisquer anteriores gerações estiveram. Continuar a ignorar este problema será dramático para o regime democrático. Aliás, filósofos políticos tão diversos quanto Platão, John Locke e Rousseau debruçaram-se particularmente sobre o tema da educação e a sua importância para os regimes políticos.

A este propósito, aqui ficam alguns excertos de uma entrevista que eu e a Professora Isabel David demos no ano passado ao International Journal of Iberian Studies:

SPP: (…). Chega, on the other hand, has broken that restraint, activating these prejudices and deeply polarizing both Parliament and Portuguese society. We are already seeing the effects. Culturally, academically, and socially, things are not as healthy as they were before Chega became a significant political force.

ID: Samuel’s point about social media strategy is crucial. This phenomenon isn’t limited to Portugal; it’s happening all over Europe, the United States and Brazil. Younger generations are drawn in by parties like Chega through platforms like TikTok, where they have a huge following. I’ve asked students why they find Chega’s social media appealing, and they say it’s because the content is dynamic, concise and speaks their language. Figures like Chega’s Rita Matias, who is young and relatable, know how to connect with them. However, Chega isn’t only appealing to younger voters. Like other populist right-wing parties, they attract older, less educated voters too. But it’s their effectiveness with the younger generation that’s particularly concerning. My generation and older ones don’t speak the same language as these parties, and that’s partly why we aren’t as effective at countering them. Parties like the Left Bloc may address young people’s concerns but aren’t as popular on social media. While the Socialists and PSD are trying to catch up, and the IL has a relatively strong social media presence, no one has managed to grow like Chega.

SPP: The IL is another party worth noting. They target young voters and are skilled at marketing, with strong messaging about taxes and affordable housing. Yet they lack the polarizing, anti-establishment appeal that Chega has. They’re more of a civil, centre-right party and they don’t engage in the kind of racist rhetoric that Chega does. There’s a pervasive idea in Portugal that the current regime is dominated by the left, and many right-wing intellectuals argue that political correctness stifles free speech. This is a key part of Chega’s appeal. They position themselves as the ones challenging political correctness and fighting against a supposed left-wing cultural dominance. For young people who feel disillusioned or rebellious, this message can be very attractive.

DK: In your opinion, how do you think education, particularly in the humanities, can serve as a counterbalance to the appeal of these right-wing movements?

ID: That’s a really tough question. I believe the task ahead is monumental. One of the main issues is the overwhelming dependence on social media. This brings us to the broader issue of the education system. It’s failing to provide the critical thinking skills and foundational knowledge that young people need. There’s too much reliance on gadgets and not enough emphasis on books and traditional learning. We need to reduce, if not completely eliminate, the use of mobile phones in the classroom. There needs to be a serious conversation about what is right and what is wrong. (…).
Many students have told me that until they got to university, they didn’t know the difference between right and wrong when it came to politics. They were heavily influenced by what they saw on social media, and it was only through academic debate and discussion that they started to form informed opinions. This problem isn’t limited to social sciences students. In fields like engineering and health, students are even more disconnected from political engagement. Many simply don’t care about politics, don’t trust politicians and get most of their information from social media, which leaves them vulnerable to misinformation. Addressing this requires a serious conversation involving universities, democratic institutions and families. We need to rebuild the connection between education, values and critical thinking, because the future of our democracies depends on it.

SPP: The impact of social media is very concerning. Jonathan Haidt, in his book The Anxious Generation (Penguin Press, 2024), and Michel Desmurget, in La Fabrique du crétin digital (‘The Digital Idiot Factory’) (Seuil, 2019), talk about how social media companies are effectively holding our children hostage. Ironically, the engineers who designed these platforms send their children to schools that don’t allow mobile phones or iPads because they know the harm they can cause. Yet, as a society, we allow children to be overexposed to technology. We need to push back against this.

publicado às 21:42

"Liberalismo - Da Teoria à Formação de Governos"

por Samuel de Paiva Pires, em 15.05.25

Acaba de ser publicado o livro "Liberalismo - Da Teoria à Formação de Governos", resultante de um projecto de investigação liderado pelo Bruno Ferreira Costa, apoiado pelo Instituto Mais Liberdade e desenvolvido no PRAXIS - Centro de Filosofia, Política e Cultura da Universidade da Beira Interior

Da minha parte, tive o gosto de contribuir com dois capítulos intitulados "Os fundamentos do liberalismo" e "As ramificações do liberalismo moderno e contemporâneo", nos quais procuro oferecer uma visão panorâmica, ainda que necessariamente selectiva, da evolução da teoria liberal, abordando as suas ideias e autores fundamentais.

O livro já está disponível no site das Edições Sílabo, bem como na Bertrand.

A primeira sessão de apresentação decorrerá no dia 21 de maio, pelas 15:00, no auditório 2.12 da Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior, e contará com a apresentação por parte de Carla Castro, que prefaciou a obra.

 

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publicado às 10:26

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publicado às 09:59

Crónica de uma queda anunciada

por Samuel de Paiva Pires, em 11.03.25

Luís Montenegro poderia ter-nos poupado ao penoso espectáculo desta tarde, cujo desfecho estava mais do que anunciado. Já se tinha percebido que o Primeiro-Ministro não tem respeito pela função (“circunstância”, nas palavras do próprio) que desempenha, mas foi particularmente ilustrativo do irregular funcionamento das instituições vermos o Governo a aventar uma proposta de Comissão Particular de Inquérito em que o escrutinado é que decidiria o tempo de que os escrutinadores disporiam, numa clara intromissão do executivo no poder legislativo. Ao actuarem quase exclusivamente no domínio da táctica, acabaram a violar princípios basilares da democracia liberal e do republicanismo. Verdadeiramente notável.

Entretanto, com a rejeição da moção de confiança, chega ao fim um Governo despudoradamente classista e elitista, que governou a pensar essencialmente em determinados grupos e faixas etárias e para o qual a generalidade da população entre os 36 e os 67 anos de idade serviu apenas para pagar impostos que financiaram medidas e políticas públicas socialmente injustas e fiscalmente desiguais, cujo objectivo principal foi fidelizar determinados segmentos do eleitorado que o anterior Governo do PSD e CDS tinha alienado. A tão propalada estabilidade política não passa de uma farsa com que o Governo tentou escamotear a tragédia da continuada decadência de sectores cruciais para o desenvolvimento do país e o futuro da população, como a saúde e a educação, a habitação e a justiça. Abre-se, agora, uma janela de oportunidade para que um novo Governo tente fazer mais e melhor - e, de preferência, que não tenha problemas de carácter ético e/ou legal que, pese embora aproveitem invariavelmente aos populistas desavergonhados, são sintomáticos da lamentável degradação do regime.

publicado às 20:43

Aula aberta - "Liberal socialism in the 21st century"

por Samuel de Paiva Pires, em 25.11.24

No próximo dia 28 de Novembro, Quinta-feira, pelas 16:30, decorrerá no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa uma aula aberta, no âmbito dos Research Seminars do Centro de Administração e Políticas Públicas, subordinada ao tema "Liberal socialism in the 21st century", que contará com a intervenção de Matthew McManus, Professor na Universidade do Michigan (EUA) e um dos protagonistas do debate acerca do futuro do liberalismo.

Mais informações aqui

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publicado às 12:36

A 21 e 22 de Novembro a Secção de Relações Internacionais da Associação Portuguesa de Ciência Política irá organizar as I Jornadas de Relações Internacionais com o objetivo de recolher testemunhos e experiências de docentes e investigadores da área, e assim mapear as principais tendências que podem ser esperadas a curto e médio-prazo em diferentes domínios de aplicação. A participação é livre e todas as sessões terão lugar no seguinte link: https://bit.ly/4fEzcjg.

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publicado às 12:54

É excruciante viver em Portugal

por Samuel de Paiva Pires, em 21.10.24

A propósito das declarações de Miguel Pinto Luz no Congresso do PSD, escrevo hoje no Observador:

Retornando às declarações de Pinto Luz, parece-me que este governo está cada vez mais parecido com os de António Costa. Confunde anúncios de medidas com a resolução de problemas, comunica a sua cartilha como quem vive num país das maravilhas que não tem correspondência com a realidade, e em relação à maioria da população activa, que só aparenta ter utilidade contributiva, não faz outra coisa a não ser, claramente, convidá-la a emigrar.

Este país não é para jovens, não é para velhos, nem para ninguém, a não ser para os mesmos de sempre, as elites políticas que continuam a viver na sua bolha politiqueira e a usufruir de um país permeado por instituições extractivas que alimentam a sua cupidez do poder, não se descortinando qualquer estratégia de desenvolvimento do país e de prossecução do interesse geral da comunidade.

Para mim, viver neste país assemelha-se cada vez mais a um esforço sisífico, em que não só não se vislumbra o topo da montanha, como esta é cada vez mais íngreme e a rocha cada vez maior. É excruciante viver em Portugal.

publicado às 08:13

Fogo é a política por outros meios

por John Wolf, em 24.08.24

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Se Miguel Albuquerque fosse Carl von Clausewitz, afirmaria sem pudor — "fogo é a política por outros meios". Mas não necessitamos de mais provas. Bastam dez dias de desterro político e administrativo para concluirmos que Portugal não se entende. Quem julgava que o Estado era um todo, parece estar equivocado. A autonomia da ilha da Madeira tomou o continente como refém (ou o seu inverso), e assaltou a república e as ideias de garantia e segurança do Estado. A batata assada da responsabilidade já viajou para aquele alibi disfuncional designado de União Europeia — o tal mecanismo para invocar quando os compadres andam à castanhada. Não se vislumbra a ponta do sol ao fundo do túnel de fumo espesso. Pensava eu que a AGIF (Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais) abrangeria a totalidade do território, incluindo as regiões autónomas. Mas não parece ser o caso. Parece que existem fronteiras políticas e administrativas que não podem ser abalroadas pela imperiosa necessidade de realizar a gestão criteriosa do território nacional na sua totalidade. Não sei se o "deixa arder" constitui ou não o indício de algo mais profundo, a vontade independentista, à laia daquela praticada por certos catalunhenses. A história é fértil em exemplos. O fogo de Smyrna, Turquia, ocorrido em 1922, na derradeira fase da Guerra Greco-Turca teve um papel fundamental nas aspirações nacionalistas quer da Grécia quer da Turquia, e em última instância levou ao estabelecimento do Estado moderno turco sob os comandos de Kemal Atatürk. Eu sei que esta analogia extrapolativa pode ser rebuscada, mas Canadairs no ar são, em tempos actuais, atos políticos. Os jornalistas gostam muito de usar dois termos quando o fogo lavra: "complicado" e "rescaldo". Mas esgravatam muito ao de leve na cinza que assenta arraiais nas reportagens. O que sucede é grave. Mas em Portugal quase tudo é inconsequente.

publicado às 17:57

O teste do pato

por Samuel de Paiva Pires, em 03.07.24

Narciso Cunha Rodrigues, antigo Procurador-Geral da República, na Grande Entrevista da RTP, a 28 de Fevereiro, explicou de forma cristalina que a demissão de António Costa não resultou de parágrafo algum, pois não se pode deduzir do comunicado do Ministério Público a obrigação ou sequer a sugestão de que o Primeiro-Ministro se devesse demitir.

Nada obrigou António Costa a demitir-se a não ser a sua própria conclusão de que, após um ano marcado por 13 demissões do seu governo, e tendo sido encontrados 75.800 euros em dinheiro no gabinete do seu chefe de gabinete, já não tinha condições políticas (políticas, sublinhe-se) para permanecer no cargo.

Passado cerca de um mês, o próprio António Costa, a máquina de propaganda do PS e boa parte dos comentadores na comunicação social começaram a ecoar a narrativa de que a demissão de Costa teria resultado do tal parágrafo. Em grande parte, são os mesmos que andam há anos numa sanha persecutória contra o Ministério Público, de que o infeliz manifesto dos 50 é apenas o mais recente episódio.

Hoje, nas páginas do Público, um ex-ministro de Costa, Pedro Adão e Silva, recorrendo ao teste do pato, volta à mesma narrativa e aventa até a possibilidade de se ter tratado de um golpe de estado. No mínimo é caricato, e no máximo um perigoso disparate, mas, sem dúvida, original. Seria interessante aplicar o mesmo teste a muitos que, pese embora até se possam afirmar defensores da democracia liberal, continuam a procurar erodir pilares desta, designadamente a separação de poderes e a autonomia do poder judicial. Se se parecem com autoritários e agem como autoritários, talvez sejam mesmo autoritários.

publicado às 13:33

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Daniel Oliveira é acérrimo defensor dos direitos, das liberdades e das garantias, um genuíno campeão da liberdade de expressão e intransigente adepto da democracia — porventura aquela forjada no 25 de abril. Mas não admite que, em nome da justiça e da transparência, alegados envolvidos em esquemas corruptos possam ser escrutinados. Prefere o debate de distração semântica que equipara as escutas à vigilância. Parece esquecer que foram as escutas de diversos serviços secretos que tornaram possível no século passado a derrota dos nazis. Quando a podridão é estrutural, o varrimento auditivo parece ser a única hipótese para realizar a distinção entre os falidos e os eticamente verticais. O Ministério Público é público por alguma razão. Tem a missão inabalável de ser garante da observação da lei. Segundo Oliveira, os políticos não devem ser controlados no exercício das suas funções. Estão acima de qualquer suspeita, imunes a qualquer forma de inquérito. Sabemos que a política é a arte do flagrante e da dissimulação. Só não percebemos o que têm a ganhar comentadores que gostariam de virar a cara às responsabilidades que decorrem da verdade e das suas consequências. Croquete, é o que me ocorre.

publicado às 19:18

Tudo como dantes

por Samuel de Paiva Pires, em 10.06.24

Com o spin em alta rotação a presentear-nos com leituras e interpretações dos resultados eleitorais para todos os gostos, observo que continuamos a ser uma democracia deficitária, com cidadãos menorizados a serem exclusivamente chamados a ratificar o que os directórios partidários decidem à porta fechada. Assim se explica que muitos dos eleitos do PS e do PSD sejam ilustres desconhecidos e/ou meros caciques e que as respectivas listas tenham sido encabeçadas por péssimos candidatos - por mais que os seus correligionários nos queiram convencer do contrário. Com a honrosa excepção do Livre - não obstante o resultado das suas eleições primárias ter desagradado a direcção -, o recrutamento político continua a fazer-se em circuito fechado, e para os partidos do centrão as eleições europeias servem para pouco mais do que promover alguns boys and girls e/ou incómodos reais ou potenciais para o chefe. Infelizmente, os nossos políticos de vistas curtas não sabem fazer melhor. Por último, destaco a descida do Chega e a vitória da Iniciativa Liberal, o único partido que cresceu quer em termos absolutos quer em percentagem e, portanto, o único, para além do PS, que se pode afirmar como vencedor nestas eleições.

publicado às 13:35

País de recursos infinitos

por John Wolf, em 07.06.24

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O adjectivo feminino "efectiva" tem valor relativo em Portugal. Existe um nome masculino na Lusitânia que o afecta — refiro-me ao "recurso". Ou seja, as prisões efectivas de Manuel Pinho e Ricardo Espírito Santo não são uma certeza. Não são uma certeza judicial nem uma certeza linguística. Assistimos repetidamente, logo ali, à boca da barra do tribunal, no desenlace do transitado em julgado, a um espectáculo de ameaça jurídica, de declaração taxativa da parte dos advogados de defesa, de que os recursos seguirão dentros de momentos. Escutamos algo que soa a viatura híbrida — o cruzamento entre a amnistia instantânea e o indulto na hora. Quando todos referem que o sistema judicial de Portugal deve ser revisto, cai o cravo e a bondade, o mesmo sentimento-tabu de  impossibilidade quando se sugere uma revisão constitucional. Quem sai a ganhar com as manobras congeminadas nas frestas e falhas dos códigos penais é o conceito de impunidade — a ideia de que a prática de crimes em Portugal não gera ansiedade existencial. Os criminosos sabem muito bem que existe uma teia de buracos por onde pode escorrer a culpa. E a culpa não morre solteira. A culpa junta-se a tantas outras num rebanho de falências. Não queremos sangue. Queremos justiça. Aqui e acolá, em Portugal ou nos Estados Unidos. Os legisladores e os juizes são responsáveis directos pela defesa da democracia onde a equidade e aplicação das leis devem nortear as decisões, mas onde a sentença inexpugnável deve também reinar. Tenho sempre a mesma dúvida que me atormenta o espírito — quem paga os serviços jurídicos prestados por tão mediáticos advogados? Será que são borlas e a coisa paga-se a si mesmo? Pensava  que os advogados estavam proibidos de fazer publicidade às suas sociedades. Nesse caso, teremos de implicar os media — a imprensa escrita, as televisões e em última instância, os senhores jornalistas que serão os geradores de dinâmicas de mercado. O preço a pagar é colectivo, mas alguém sai a ganhar com estas farsas judiciais. Deixemo-nos de ilusões. O timing é perfeito, a um dia das 24 horas de reflexão a que estamos obrigados por causa das europeias. Nada será como dantes. Será como sempre foi. Um pais de recursos infinitos.

publicado às 17:15

Chega de PS?

por John Wolf, em 05.06.24

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O Partido Socialista (PS) que foi o inventor da disciplina de bancada, da lei da rolha e mais recentemente do traçado das "linhas vermelhas" — as tais que não poderiam ser transpostas para acomodar o Chega, acaba por se coligar ao partido de André Ventura. O princípio subjacente a esta dinâmica destrutiva é simples: não deixar fazer. Ou seja, sem olhar a meios, fazer tudo ao seu alcance para fazer cair o governo de Luís Montenegro. Portugal que se lixe. Que se  lixem os portugueses. A bandeira que os socialistas estão a hastear é uma farpa de terra queimada, como se já soubessem que as europeias não vão servir para grande coisa. Pedro Nuno Santos vai sofrer nova derrota eleitoral e, por isso, nada tem a perder. Embora o PS queira defender a tese da coincidência de posições com o Chega, não é líquido que assim seja. Não sabemos se o PS pertence ao Chega, ou chega de PS. A tal ética republicana que se desdobra na máxima temida por todos: "não recebemos lições de ninguém", afinal não é bem assim. Se o PS não tiver cuidado, ainda será infiltrado por agentes do Chega, ou, num cenário ainda mais excêntrico, ainda veremos alguém da Ericeira filiar-se no Chega. A conclusão a que devemos chegar — a ideologia já não é o que era. Nestes tempos de mercados políticos de ocasião, vale tudo. Aguardemos por domingo para assistir a uma ficção eleitoral que em nada abala decisões já tomadas no fórum da União Europeia. Podem estrabuchar à vontade, mas em última instância quem determina as expectativas da classe média será o Banco Central Europeu, que decide a cor e o preço do dinheiro — amor e ódio numa campanha perto de si.

publicado às 18:54

Menos é Mais - Políticos Neandertais

por Jerónimo M. Gamboa, em 26.05.24

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Há dias assistimos ao primeiro debate quinzenal do novo governo. Não posso deixar de dizer, em consciência, que Montenegro me pareceu em boa forma. Energia, confiança, preparação, resposta lógicas e na ponta da língua. Infelizmente, aqui e acolá, saltam sempre “bocas” desnecessárias para a oposição, muito na linha de apoucar os outros para ficar por cima. Este traço é transversal a todas as bancadas e já faz parte da pobre cultura parlamentar portuguesa – piadinhas, ar de gozo, sarcasmo, superficialidades, à partes, enfim, algo que só fica mal aos nossos representantes parlamentares. Está muito enraizado, já faz parte, dirão alguns conformados. É um estilo que conduz a sessões ricas em folclore, dignas de um país pequeno, pitoresco e com actores picarescos. Um país ocidental, lento e rural, dirão outros.

É pena não se conseguir sair deste registo para outro mais sério, mais construtivo e de maior respeito. Respeito para com os eleitores, para com as instituições e para com os próprios. Mas a húbris acaba sempre por falar mais alto. Eles não se contêm e fazem gala de pavonear uma suposta sagacidade e verve que julgam possuir. E por isso, tal como o corvo vaidoso de La Fontaine, que não resistiu ao charme da raposa, cantam de alto e deixam cair o queijo. 

Nesse mesmo dia a famigerada decisão do aeroporto de Lisboa foi finalmente tomada. Mais de meio século depois do processo se ter iniciado. Certamente ninguém pode estar orgulhoso. Esta nódoa vai demorar a sair  e só poderá ser lavada por um processo de planificação e de execução de obra exemplar, o que se antevê como algo muito difícil, conhecendo as nossas politiquices, burocracias e claro, a própria dimensão e complexidade do projecto.

A grande e poderosa lição que deveremos retirar, e que cabe neste momento à AD liderar, até pela sua necessidade de procurar consensos alargados para poder encarar a legislatura com maior estabilidade, é que é possível haver acordos em matérias estratégicas. Este deveria ser o precedente magno que sedimenta a possibilidade de promover um espaço de diálogo com a oposição para podermos todos beneficiar de uma plataforma de base que reúna o consenso estratégico para o país em matérias chave. Se assim for, não teremos de esperar duas gerações para tomar decisões que afinal, até não eram assim tão difíceis de tomar.

Para podermos ascender a esse patamar de evolução política necessitamos de lideranças agregadoras, de visão de longo prazo e de humildade. Por isso, gostei de ouvir Montenegro dizer que não sabe tudo. É o mote para uma boa conversa quando queremos ouvir e aprender. Mas já não gostei nada de ouvir um Núncio transmitir com soberba que este governo fez mais em 30 dias que o anterior em 8 anos. É um caminho pouco inteligente estar com este tipo de retórica. Se um núncio é por definição um diplomata, este não passa de um incendiário míope a querer queimar pontes por onde poderiam passar soluções para o país. Assim, continuamos a ver o país a arder na fogueira das vaidades de políticos neandertais.

publicado às 21:17

Destemida na Europa

por John Wolf, em 13.05.24

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Hoje é dia para dedicar singelas e parcas palavras à proto-europeia Marta Temido. A co-administradora das vacinas pandémicas quer inocular os eleitores nacionais de uma vez por todas para que fiquem contaminados com o bicho das intersindicais. Enquanto não escorre a verborreia da candidata, alinhada pelo Partido Socialusa — a organização política que enterrou o país nos últimos oito anos, permitemo-nos partilhar algumas considerações sobre a "ex-candidata à pressa" à Câmara Municipal de Lisboa. Ainda não conseguimos entender qual o fetichismo do Largo do Rato em relação à cabeça da pista europeia. Não percebemos qual a lógica da promoção de uma esquerdista radical trajada de moderada. Em termos políticos, saiu a fava à Temido. De repente tem de se fazer entendida e ser perita em questões de defesa, imigração, economia e finanças. Mas não é isso que está em causa. Os socialistas acreditam que a Temido pode ser a ponta de lança perfeita para defender o projecto europeu das direitas radicais. Mas o discurso extremista e radical passa ao lado da cabeça da cabeça de lista. Nunca se digladiou na arena das retóricas ideológicas. A funcionária operativa das vacinas não detém a profundidade requerida para estancar a realidade do descalabro europeu. E não detém argumentos para roubar votos quer à Esquerda quer à Direita. Fica-se ali pelo meio termo do banho Maria. Tal como aconteceu em relação ao delfim da Aliança Democrática, já foi gerada uma expectativa enorme em relação à putativa substância política da Marta Temido. Portugal fica assim servido pelos dois partidos que alternaram no que respeita ao poder governativo. E o povo sabe o que estas casas esbanjaram. Assim sendo, à laia do que se passou nas legislativas, devemos esperar outros desfechos que não os habituais. Marta não é temida nem no continente nem na Europa.

publicado às 20:08

Bugalho e um par de botas

por John Wolf, em 09.05.24

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Sebastião Bugalho tem o peito inchado. Discorre sobre os grandes desígnios da Europa. A sua ambição é maior do que a própria União Europeia (UE). Apresenta-se como Secretário-Geral das Nações Unidas da Europa e refere diversos planos Marshall em simultâneo. Ao mesmo tempo faz lembrar o mito de D. Sebastião que surge por entre a neblina da ignorância para salvar as pobres almas lusas dessa condição fatal. Fala sobre um tudo para todos da ascensão económica e social, a possibilidade do apanhador da azeitona deixar de ser azeiteiro. O calceteiro que deve abandonar essa arte em nome da aeronáutica espacial. A peixeira tornada gourmet das ovas. Bugalho vai defender a democracia, mas omite que é um produto mediático fabricado sem provas dadas no mundo real onde contam mais as ações do que as palavras. Este embandeirar em arco é algo típico de regimes de seleções nacionais. A ideia dos Ronaldos da vida que podem resgatar equipas disfuncionais. É esse o seu cotovelo de Aquiles — a pose de estadista sem licença para governar. Mais uma vez os media servem-se do delfim para servir os seus propósitos: validar a ideia de que o embrulho vale mais do que o conteúdo. Se apenas escutássemos o Bugalho ficaríamos com a ideia de que o Sebastião é a Europa e o resto é paisagem, que os outros Estados-membros da UE não têm candidatos porventura amplamente mais competentes e capazes. De uma assentada, de repente, Bugalho domina todas as pastas políticas, todos os temas que ainda nem sequer foram inventados. Infelizmente, faz lembrar outro no qual depositávamos grandes esperanças para liderar a banda, mas que já demonstrou de um modo inequívoco e presidencial que descarrilou por completo. Os tiques sobranceiros da perda da auto-percepção já estão presentes neste jovem. O rapaz tem muita garganta, mas não sabemos muito mais. Sabemos que repete diversas vezes a expressão númerica em língua europeia: sixty-five. Para já não passa de um Bugalho e um par de botas.

publicado às 19:24

A taluda da exoneração de Ana Jorge

por John Wolf, em 30.04.24

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A ex-ministra da saúde do governo de José Sócrates, agora ex-provedora da Santa Casa da Misericórdia, a médica Ana Jorge, é apenas mais uma de uma longa lista de personalidades embrenhadas em teias de interesses bastante opacas. A também ex-enfermeira pediátrica simplesmente não detém, nem nunca deteve, as ferramentas e o know-how adequados para realizar cirurgias financeiras capazes de extrair de comas profundos instituições como a santa caixa de dinheiros questionáveis. Uma enfermeira não pode ser tida como responsável por processos de internacionalização decididos por governos. E é aqui que reside uma parte da patologia política. A dermatite da gestão da instituição afinal corresponde a um diagnóstico errado. Lidamos com um cancro, como tantos outros, sem cura assegurada. Os sintomas, embora não revelem corrupção activa ou passiva, ou de outro teor (por enquanto), definem um quadro de prognóstico reservado à rudeza da forma como Ana Jorge afirma ter sido exonerada mas que, em abono da verdade, correspondem a uma patologia degradante de desfalque continuado de Portugal. A auditoria forense remetida para o Ministério Público parece ter falhado redondamente. Não foi capaz de identificar procedimentos alegadamente questionáveis e fatais para a saúde da instituição. A decisão de exonerar deve ser declaradamente política por manifesta incompetência da ex-provedora. O Partido Socialista, ao seu bom estilo, a saber destas maleitas, deixou para os sucessores, que agora governam, mais um presente envenenado. Mas pelos vistos a coisa não fica por aqui. Pelo que sabemos, a Segurança Social e as pensões dos reformados também fazem parte da mesma carambola de enganos e decepções. Embora não haja uma ligação directa entre os dois casos, identificamos um património comum de intenções que fere ainda mais os portugueses. Agora perguntem novamente: quem foi rude com quem? Quanto às calúnias e as "sobrancelhas", deixemo-las para outras sortes. Em todo o caso, as exonerações e as nomeações fazem parte da lotaria clássica que gira na tômbola dos interesses partidários. Pelos vistos, o governo anterior nada viu e nada escutou. Sexta-feira anda à roda...

publicado às 18:00

Sic itur ad astra

por Samuel de Paiva Pires, em 25.04.24

Passam hoje 50 anos sobre o 25 de Abril e 1 sobre a morte do meu avô, Carlos Armando de Paiva Rodrigues.

Muito poderia escrever sobre a história da vida do meu avô, que desde cedo foi pautada por difíceis provações e árduas lições que fizeram dele um grande homem. Tudo o que conseguisse reduzir a escrito, porém, não só não faria justiça à sua magnanimidade e nobreza de carácter, como desonraria a sua maneira de ser caracterizada pela reserva e discrição.

Limito-me, assim, volvido um ano sobre a sua morte, a reflectir sobre a sua importância e influência na minha própria vida. Todos os defeitos que possuo são inteiramente meus, mas o melhor de mim vem do meu avô. Tal como Marco Aurélio, também eu “Aprendi com o meu avô o carácter e a rectidão” e tive, aliás, a honra e o privilégio de com ele aprender muito mais.

Foi o meu avô quem fomentou em mim, desde muito cedo, o gosto pela leitura e o interesse pela política. Foi ele quem me iniciou na reflexão filosófica à maneira de Aristóteles, de forma peripatética, nos nossos muitos passeios em que me ensinou praticando um método dialéctico e conversacional que fácil e rapidamente atravessava vários assuntos, obrigando-me a pensar afincadamente para poder avançar como seu discípulo. Com o meu avô aprendi a distinguir os homens bons dos maus e compreendi que ser bom é ser justo, tendo o meu sentido de justiça sido gerado directamente pelo dele. Ao vê-lo lutar contra as injustiças que cometeram contra ele, compreendi as implicações práticas da afirmação de Albert Camus, em O Homem Revoltado, de que “É melhor morrer de pé do que viver de joelhos”. Devo o que sou hoje, também, à ética de trabalho de que ele sempre foi um exemplo ímpar.

Foram tantas as conversas que tivemos acerca dos mais diversos temas, que, para além de meu avô, foi o meu melhor amigo e o meu primeiro e principal mestre. Porque como também escreveu Marco Aurélio, “O aperfeiçoamento da leitura e da escrita requerem um mestre. A vida requere-o mais.” E o meu avô foi o melhor mestre que poderia ter tido.

Uma das suas mais importantes lições, transmitida ao longo de décadas, foi a respeito da morte. Ouvi-lhe frequentemente a expressão “Até amanhã, se a Providência deixar” e habituei-me a ouvi-lo ecoar a sabedoria dos clássicos gregos e romanos sobre esta questão. Praticou, no fundo, os ensinamentos de Montaigne em “Que filosofar é aprender a morrer”: “É incerto onde a morte nos espera; vamos esperá-la em todos os lugares. A premeditação da morte é a premeditação da liberdade. Quem aprendeu a morrer desaprendeu a ser escravo. Saber morrer liberta-nos de toda a sujeição e constrangimento. Não há nada de mal na vida para o homem que compreendeu bem o facto de que ser privado da vida não é um mal.”

Ao longo dos anos, ouvi-o falar recorrentemente deste tema com a naturalidade e serenidade que apenas está reservada aos grandes homens. Grandeza esta que ficou patente na hora da partida, após várias semanas de uma luta estoica que foi a maior carta de amor que o meu avô me escreveu e à Ana, a quem generosa e carinhosamente tratava por neta. Quatro dias após ter estado presente no nosso casamento, quis a Providência levá-lo na madrugada do dia 25 de Abril de 2023, em Santarém, precisamente a cidade de onde saiu a coluna de Salgueiro Maia pela qual o meu avô passou às primeiras horas da manhã do dia 25 de Abril de 1974, na Baixa de Lisboa.

Deixar-nos no Dia da Liberdade foi o último acto poético de um homem livre, bom e justo, que viveu como pensava, casando a honra com a inteligência e a justiça com a integridade, praticando o bem e evitando o mal.

Em todos os dias 25 de Abril, o meu avô saia à rua com o cravo na lapela. Hoje, por ele, pela democracia e pela liberdade, lá estarei a fazer o mesmo, na Avenida da Liberdade.

publicado às 10:16

Oriental Rural

por John Wolf, em 24.04.24

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publicado às 20:41

A Liga Europa de Pedro Nuno Santos

por John Wolf, em 22.04.24

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Pedro Nuno Santos foi afastado da Champions League nas derradeiras legislativas. Depois dessa derrota estrondosa, aposta tudo na Liga Europa — o campeonato onde caem os coxos e os mancos. O Partido Socialista (PS) lança a extremo Marta Temido, como a grande surpresa da convocatória para encabeçar a lista partidária às eleições europeias. Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, Francisco Assis, que não têm onde cair mortos, também devem seguir no mesmo tacho sem fundo. António Vitorino parece que não quer molhar o bico da sua estatura de alto-comissário no pântano da União Europeia, ou seja, nem se vislumbra sequer no banco de putativos titulares. Mas regressemos à Temido que, convém lembrar, também foi aliciada para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Esta réplica de candidatura, a repetição do mesmo prato, espelha algo sintomático: não há sangue novo que valha no PS. Mas o PS está de peito inchado e orgulho ferido — quer à força toda e com raiva revanchista ganhar as eleições europeias. Por outras palavras, para os socialistas, estas eleições são as mais importantes do mundo até deixarem de ser. Ou seja, até sofrerem outro percalço. E tomem nota, os partidos do bloco centrão, desconsideram outros players — o Chega ou a Iniciativa Liberal: mais uma gaffe. A nossa sorte é que essa viagem para a Europa é de ida apenas. Deixaremos de escutar as suas indagações aqui no burgo, para ter a garantia que as suas ideias têm poucas pernas para andar lá no Parlamento Europeu. Quanto a Costa, nem uma palavra. Parece um tabu. Mas não é. O homem está na pós-graduação até abrir o mercado de transferências dos comissários europeus. Acabo abruptamente este post como uma pergunta para um milhão de dólares — qual o escalão de IRS em que se inscrevem os parlamentares que forem eleitos nas europeias?

publicado às 19:05






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