De JRF a 21.12.2009 às 02:59
Cara Cristina Mendes Ribeiro, não se baseie apenas no que diz o Eng. Rui G. Moura para formar a sua opinião. Ele não é investigador na área; tem um bias por demais evidente que quase poderia classificar de anti-ambiental; utiliza os métodos que critica nos outros (por exemplo, sempre que neva lavra post; sempre que há seca ou calor nos jornais, critica os jornais); corre tudo a "fraude" e "pseudo-cientista"; escreve sobre meteorologia como se fosse cientista climático.
O climategate não é nada. É um episódio que espremido deu zero, mas para os negacionistas foi puro ouro. Até o ambientalmente insuspeito Economist diz que como "smoking gun" é muito pouco. São mails privados que tanto quanto até agora se sabe, em nada alteraram ou alteram as investigações científicas publicadas e sujeitas a arbitragem dos pares.
É um episódio com que o acima mencionado engenheiro rejubilou com o seu habitual rigor: "Última hora: Phil Jones suspenso", quando as próprias notícias que ele liga dizem claramente que na pior das hipóteses se auto-suspendeu. Há uma pequena diferença. Como estas há muitas. Ou uma outra, onde vai desencantar um tal James Corbett supostamente jornalista (o tal engenheiro que diz que o que inquina tudo é a discussão se fazer por não especialistas), que segundo estive a ver é grande adepto das teorias da conspiração. Uma delas é dizer que a Al Qaeda não existe.
Se tem interesse no tema, comece pelas revistas científicas de renome e acima de qualquer suspeita. E forme a opinião a partir daí.
De qualquer forma, é como diz o Nuno Castelo Branco... quem de alguma forma gosta da natureza, já há muito tempo sente que algo está errado e muito errado. O clima pode ser mais uma manifestação, pode não ser. E de uma coisa tenho a certeza absoluta: ninguém vai fazer nada. Nem nós vamos deixar de andar de automóvel, nem os "líderes" mundiais vão abdicar de um milímetro de nada. Desde Quioto, as emissões globais aumentaram 29% e mesmo assim, observe bem a barragem a que foi sujeito (incluindo do inefável engenheiro). Copenhaga também deu o que foi designada para dar. Está tudo no sítio, pelo menos temos essa certeza.
Caro JRF, tenho de depreender que parti de um pressuposto errado: o de que a direcção desse programa daria apenas tempo de antena a alguém abalizado para falar no tema; no meio de argumentos contrários, e, parece, que nenhuns deles definitivos, a confusão entre leigos, assustados, é grande.
Certeza, palpável, uma só: o aumento da poluição, o ambiente degradado.
De JRF a 23.12.2009 às 23:16
É difícil arranjar alguém do lado negacionista que não esteja politicamente comprometido e/ou que não seja um exaltado com produção científica nula (o Eng. Rui G. Moura, cai neste último). Mas fazem um tipo de propaganda que parece convencer muita gente, mesmo com argumentos rudimentares (ou será por isso?). O engenheiro noutro programa de tv dizia que se o Homem pudesse influenciar o clima já o teria feito — como se influenciar voluntariamente ou involuntariamente fosse exactamente o mesmo. Localmente influencia-se, basta uma barragem, arrasar uma floresta ou construir uma pequena cidade.
Tenho publicado uns links interessantes como este artigo na (http://www.nature.com/news/2009/091221/full/news.2009.1157.html)Nature sobre os rastos de vapor dos aviões. Repare que a certa altura diz The team's study is being peer reviewed and is expected to be published soon ". É isto que falta ao lado negacionista . É tudo baseado em bocas e pretensos estudos científicos que por algum motivo não passam na arbitragem científica. Com a agravante que as bocas tem praticamente sempre a mesma origem que vai invariavelmente desembocar na indústria petrolífera e do carvão. Esta entrada (http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/12/who-you-gonna-call/) no Real Climate é interessante.
Para quem chegou agora à discussão, há aqui uma espécie de um resumo gráfico das linhas essenciais (http://www.informationisbeautiful.net/visualizations/climate-change-deniers-vs-the-consensus/) Beautiful Evidence ).
O mal disto, na minha opinião, é de associar o ambiente à esquerda — que vem de longe. Por cá temos a fraude Verdes que não ajuda, tivemos o George W. Bush representando a "direita", "activistas" de cara tapada a vandalizar tudo representando a esquerda (mas são tratados como "jovens", não como "vândalos")... A direita demitiu-se das suas responsabilidades em muitas áreas. O ambiente é uma delas, a esquerda ocupa o espaço naturalmente (na cultura é ainda mais vincado).
Pessoas inteligentes passam a indigentes intelectuais quando o tema versa ambiente ou, no caso clima. E não é possível ter uma conversa racional.
De JRF a 24.12.2009 às 03:19
Onde diz Beautiful Evidence (um livro de Edward Tufte) devia dizer Information Beautiful que é o site. Peço desculpa.
De Amador a 28.12.2009 às 16:56
Caro JRF,
como programador e com experiência em diversas linguagens procurei por fontes nos arquivos hackeados que justificassem a frase estranha envolvendo a palavra TRICK e HIDE DECLINE.
Não sei se foi sorte, mas achei um fonte de programa que mostra que TRICK é como dizemos aqui no Brasil: Malandragem. E HIDE THE DECLINE mostra realmente a tentativa de esconder evidências. Veja minha análise:
Em um programa de nome sept98d.pro, existe uma chamada para uma rotina com os dizeres: *** Aplicando uma SUPER ARTIFICIAL correção para o declínio
Dentro da função temos os comandos comprometedores:
yrloc = [1400, findgen(19)*5.+1904]
valadj = [0.,0.,0.,0.,0.,-0.1,-0.3.,-0.1,0.3,0.8,1,2,1.7,2.2,2.6,2.6,2.6,2.6,2.6]*0.75; fudge factor
Em yrloc temos um vetor de uma dimensão compreendendo 19 anos com intervalos de meia década cada. (não entendi para que o ano base 1400?).
Depois vem este interessante fudge factor. (Sei lá por que o nome fudge - tipo de doce - mas parece um termo coloquial para acertos pouco elegantes em programação).
Para cada intervalo, os fatores são aplicados. São cinco zeros que fazem com que nada seja feito até 1930 e depois uma falsa inclinação negativa é aplicada até se chegar em 1945. A partir daí, a inclinação artificial passa para positiva.
Este fator está interferindo na base de coleta de dados por anéis adulterando a entrada.
Isto está claríssimo para qualquer profissional da área de programação. Lógico que somente estas evidências não são prova de absolutamente NADA, afinal, não sabemos se os executáveis destes fontes foram usados para sabotar os gráficos. Mas é uma evidência mais que justificável para uma investigação séria para descobrir o resto do gato e não deixar só o rabinho saliente do lado de fora.
Enfim, os programas que foram hackeados contém instruções que corroboram com os dizeres pouco amigáveis e de pouca ética de Phil Jones e seus colegas.
Não defendo esta ou aquela teoria, mesmo porque, minha especialidade é computação mas acredito ser de grande importância que se investique o comportamento estranho de Phil Jones e seus colegas. Afinal, CRU é uma entidade que teve influência direta na construção dos relatórios do IPCC que por sua vez são base para construção de políticas ambientalistas e de desenvolvimento governamentais).
Se estamos aquecendo ou não, não devemos tampar o sol com a peneira e simplesmente dizer que o 'climategate' não é nada.
De JRF a 28.12.2009 às 22:12
Caro Amador, agradeço bastante ter-me elucidado que "trick" no Brasil é "malandragem". Seccionador é chave, em inglês é... "key". Surpreendente! Fazer o seccionamento em Portugal é fazer o chaveamento no Brasil. Numa nota fora do tópico — pode-se por este exemplo apreciar toda a beleza e utilidade do acordo ortográfico.
Mas dizia... e daí?
A sua análise, desculpe que lhe diga, não é análise nenhuma. Mande o link para o programa que "encontrou por sorte". E a fonte.
"Enfim, os programas que foram hackeados contém instruções que corroboram com os dizeres pouco amigáveis e de pouca ética de Phil Jones e seus colegas."
Há um inquérito independente a decorrer; a polícia está também a investigar o "hack" dos mails.
Mas quais programas hackeados? Mas qual pouca ética de Phil Jones e seus colegas? Já recebeu o resultado do inquérito em primeira mão?
Para que quer que se investigue se já tem as conclusões?
Para já (não quer dizer que não mude) prefiro esta explicação (http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/11/the-cru-hack/) (Real Climate). E o climategate, para já, não é nada.
De Amador a 29.12.2009 às 00:25
Achei aqui: http://www.eastangliaemails.com/
Procurei pela palavra DECLINE usando os seguintes passos:
1. baixei todos os txts em linux.
2. separei e-mails de programas fontes (não é tão difícil)
3. concatenei todos programs em um só arquivo texto
4. executei fgrep -i "decline" * > resultados
5. editei resultados
6. selecionei 3 frases mais sugestivas.
7. achei este programa
8. me dei ao trabalho por nada. Depois que vi o programa e analisei, achei análises mais detalhadas que a minha. Se quiser basta um buscador e procurar por "fudge factor".
Li o link que me indicastes:
RealClimate:
...
"No doubt, instances of cherry-picked and poorly-worded “gotcha” phrases will be pulled out of context. One example is worth mentioning quickly. Phil Jones in discussing the presentation of temperature reconstructions stated that “I’ve just completed Mike’s Nature trick of adding in the real temps to each series for the last 20 years (ie from 1981 onwards) and from 1961 for Keith’s to hide the decline.” The paper in question is the Mann, Bradley and Hughes (1998) Nature paper on the original multiproxy temperature reconstruction, and the ‘trick’ is just to plot the instrumental records along with reconstruction so that the context of the recent warming is clear. Scientists often use the term “trick” to refer to a “a good way to deal with a problem”, rather than something that is “secret”, and so there is nothing problematic in this at all." etc, etc,
Posso não entender nada de climatologia, mas, JRF, desculpe que lhe diga: os fontes + os dizeres + inquérito isento = crime lesa-ciência.
Na era da internet é assim: a investigação anda lado a lado com a plebe um dia ignara! Isto ajuda em um inquérito mais isento.
Quanto a mim, confesso que já tenho minhas conclusões. Quero a investigação para que todos os detalhes sejam descobertos além de não ter o poder de eu mesmo mandar caçar os diplomas dos meliantes que cometeram tão grave delito.
De JRF a 29.12.2009 às 00:51
Caro Amador, já tem as conclusões e já sabe qual a condenação, que quer que lhe diga? Eu não tenho. Mas aceito como boas as explicações até prova em contrário. E se as provas chegarem, não terei qualquer problema em reavaliar as minhas opiniões sobre o assunto.
É que além da análise dos mails , há a análise da literatura do IPCC e da demais literatura científica que o conteúdo dos mails de alguma forma influenciou, ou como preferem os negacionistas falsificou. Tanto quanto se sabe, também não há nada aí.
Eu também não concordo com a sua visão da era da internet. O que se vê é que paradoxalmente, quanto mais informação disponível, menos aprofundados são os assuntos.
Leia o artigo do The Economist sobre o climategate : http :/ www.economist.com /displaystory.cfm?story_id=14960149
De Amador a 29.12.2009 às 19:00
Li o artigo. Obrigado pela indicação. Foi bom pois relembrei a odisséia que McIntyre e Mckitrick tiveram que percorrer até desmascarar Michael Mann e o sistema de revisão do IPCC. (o link faz referência à McIntyre).
Considero o caso do Taco de Hoquei muito mais grave que o "climategate". Mostra claramente a parcialidade do IPCC, a fragilidade do sistema de revisão e a desonestidade científica da equipe de M. Mann. Muito interessante a batalha que foi travada:
http://climateaudit.org/2005/04/08/mckitrick-what-the-hockey-stick-debate-is-about/
De JRF a 29.12.2009 às 22:00
Viu que sorte? Recordar é viver, como se diz por cá.
É interessante ter começado os comentários num programa com "fudge factors" — que tanto pode ser um doce, como, sei lá, poderia ter ido à wikipedia ver o que é e em que circunstâncias se utiliza — e já ir nos bons velhos McIntyre e Mckitrick a propósito de nada. Julga que vou percorrer esse caminho todo outra vez?
Desmacararam tanto o Michael Mann que o gráfico continua essencialmente na mesma. Passaram os anos e com arbitragem científica, teimam em não ser publicados estudos que o contradigam. Ah, desculpe, agora a arbitragem científica também é uma fraude. O que vale são umas bocas publicadas nuns blogues.
http://www.skepticalscience.com/Hockey-stick-without-tree-rings.html
Olhe, aproveite e leia também este que li ontem: "A Broader View of the Role of Humans in the Climate System" no Physics Today, do insuspeito (é insuspeito, correcto?) Roger A. Pielke Sr., um crítico do IPCC e do foco quase exclusivo nos gases com efeito de estufa.
http://www.climatesci.org/publications/pdf/R-334.pdf
Artigo muito interessante. Com sorte ainda relembra outra "odisséia" nada relevante para a discussão de hoje.
Aproveite este meu último comentário para conferir como os modelos se estão a comportar vs. dados reais:
http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/12/updates-to-model-data-comparisons/
De Amador a 30.12.2009 às 13:23
Obridado novamente pelas indicações. Com tempo percorrerei cada uma pois não é bom ficar a ver o mundo somente do lado da sua cerca.
Abraços e feliz 2010!
De Amador a 30.12.2009 às 15:48
"A Broader View of the Role of Humans in the Climate System" - Li.
Conclusão: ..Significant, societally importante climate change on the regional and local scales due to both natural and human climate forcings etc etc
Enfim, a conclusão é que as causas naturais devem ser consideradas apesar de muito pouco conhecidas e as causas humanas também devem ser consideradas (além da forçante do CO2 antropogênico) que também parecem pouco conhecidas pelo próprio autor. Pouco relevante.
Quanto aos modelos e dados reais, li também (principalmente os comentários nada amenos). Mas simplificando:
dados reais mostram inclinação negativa da curva da temperatura média global a partir de 2002 (GISS & UAH) e os modelos mostram curva positiva. :-(
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Agora discordando:
1. não comecei com fudge factor - comecei com HIDE THE DECLINE pois você mencionou inicialmente que o "climategate não é nada".
2. todos os links que você me aconselhou fiz questão de ler. E foi em um deles que me fez relembrar o caso do taco de hoquei que tem tudo a ver com o tema que estamos tratando. Repassar esta história é muito importante. Houve propósito, sim. A questão não é sobre quem tem razão sobre a teoria AGW e sim, como o método científico clássico foi traído numa das questões mais importantes para a sociedade.
Tavez você não conheça a história contata pelo próprio Mckitrick. Mas não tenho como te obrigar a "pular a cerca" e enchergar uma outra faceta do cubo.
De Amador a 31.12.2009 às 13:43
Ia me esquecendo. Sobre seu comentário:
"Desmacararam tanto o Michael Mann que o gráfico continua essencialmente na mesma. Passaram os anos e com arbitragem científica, teimam em não ser publicados estudos que o contradigam."
Os trabalhos desta dupla resultou em um relatório independente da Academia Nacional das Ciências (NAS) norte-americana de 2006 que fez com que o IPCC retirasse o embuste do seu relatório de 2007. Educadamente, a academia diz que o Taco de Hóquei está errado: "The reconstruction produced by Dr. Mann and his colleagues was just one step in a longer process of research, and it is not (as sometimes presented) a clinching argument for anthropogenic global warming, but rather one of many independent lines of research on global climate change".
Considerando que você não tem problemas em reavaliar suas opiniões, dê uma lida neste relatório: é de confiança e esclarecedor.
O gráfico nega o período quente medieval e a pequena era do gelo. Não é necessário artigos para mostrar que estas eras existiram, basta recorrer a Charles Dickens ou a Chaucer.
Quanto à inclinação positiva exagerada no final mostrando uma tendência de subida na entrada do novo século, também não precisa de artigos científicos: GISS e UAH desmontam também esta mentira em um peer review inconteste.