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Uma das imagens do 5 de Outubro de 1910, consistiu na famosa foto do militante carbonário/PRP que de espingarda na mão, fazia a guarda ao banco. Olhava pelos valores da burguesia endinheirada que pontificava no seu partido e onde sobressaia gente de grossos cabedais como o sr. José Relvas, o Grandella e outros tantos abastados ou usurários negócios da praça lisboeta.
Sintomaticamente, temos hoje outro homem do conhecido "mundo dos negócios", um "banqueiro", muito interessado na preservação do legado de 1910. O sr. Artur Santos Silva (PSD, Banco Português de Investimento, vulgo BPI, Partex, Gulbenkian Jerónimo Martins, etc e etc)), é a cabeça visível da Comissão Oficial do centenário da república que hoje surgiu á hora do telejornal também oficial, o da RTP1 e N. São os grandes interesses em liça pela preservação do seu bastião e que encontram a mais perfeita consonância em Belém. De facto, a conquista da chefia do Estado é o marco final de uma luta pela totalitária apropriação do mesmo. Artur Santos Silva vem declarar que ..."a república representa a afirmação da liberdade e da cidadania, o combate à pobreza e a celebração do Estado de Direito". Uma frase que cristaliza toda a propaganda que oculta a mais descarada mentira, deturpação da História e todo o tipo de abusos que caracterizou o processo que conduziu à implantação de 1910, a sua tomada do poder em 1910-26 e final consolidação em 1926-74. Os acontecimentos dos últimos anos, em galopante processo de degradação do sistema, manifestam exactamente o oposto.
A república civicamente falhou quando decidiu declarar a guerra à Igreja, sendo exautorada em toda a Europa. Do estrangeiro apontaram-lhe as brutais ilegalidades, a insegurança e falta de liberdades civis, a liquidação da liberdade de imprensa e de expressão, o esmagamento do universo eleitoral - drasticamente reduzido àquele que existia antes de 1910 -, a fraude eleitoral, a violência policial, a tortura nas prisões, os assassínios políticos, a ruína económica, a paródia da Justiça, a emigração que em massa fugia de um país tornado insuportável. O falhanço material da escolarização a que durante anos se tinham proposto, o descrédito na política externa, a derrota na Grande Guerra de 1914-18, o banditismo a soldo dos facciosos de Afonso Costa - Formiga Branca, Camioneta Fantasma, a violenta cacicagem eleitoral na província, a Leva da Morte - e uma infinidade de exemplos de incompetência, nepotismo, tráfico de poder e de influências. Hoje, a manipulação da verdade vai ao ponto de evocar a emancipação feminina, como se tal tivesse acontecido com a 1ª república, colocando-se nos ecrãs dos televisores, uma ou outra senhora de serviço, completamente ignorante da verdade de uma história que desconhecem.
Já sabemos com o que contar. Ergue-se no horizonte uma estranha coligação de banqueiros, donos dos media e respectivos serviçais na política partidária e como sempre acontece, uns tantos crédulos que mesmo mantidos à distância, julgam manter-se "fiéis à memória do ideal" que jamais coisa alguma lhes deu e de tudo os despojou. São estes últimos - a maioria - as mais ostensivas vítimas de um sistema de extorsão que os relega para o esperado enquadramento popular, a garantia da segurança e arrogante desfaçatez dos senhores dos dourados salões da grande finança, agora completamente refastelados.
Esta Comissão é um escarro na face do povo português.
Anuncia agora o sr. Artur Santos Silva que o dia 5 de Outubro será vivido com centos de bandas filarmónicas a fazerem soar A Portuguesa. Muito bem, é a Marcha cuja partitura original a imagem deste post ilustra.