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 Há um quarto de século, um dos mais rábidos e imaginativos estoriadores do período pré e pós 1910, compunha como se de partituras para vetusto cravo se tratassem, belas composições literatescas a propósito dos chamados grandes vultos do regime instaurado na Rotunda. 

 

Bem certo é um sensível volver da guarda, pois há uns tempos, o Dr. João Medina dizia que ..."em 2010 vamos, em suma, celebrar o quê? O começo de um erro imenso e desastroso para o país que somos?  (...) Não seria melhor, em vez de celebrarmos o 5 de Outubro, rezarmos-lhe um responso (laico) pela pobre alma penada que ele foi? Antes isso que comemorar uma República sem republicanos, como a nossa é."

 

Fica-lhe bem o nunca tardio mea culpa e passadas as procelas de outros tempos, em que era necessária a hercúlea força que mantinha firme o leme da pingue docência numa Faculdade de poucas Letras e sobejamente conhecidas vaidades, chegou o tempo das homenagens inter pares. É a vida, revivificadora de lembranças de outros tempos, de outras bem distintas coortes. Assim, o nosso dilecto colega de oposta barricada, o Almanaque Republicano, trombeteia hoje a insuflados pulmões, o convite para uma cerimónia de consagração a ocorrer lá para os lados do Campo Grande. Já se adivinham as obsequiosas curvaturas de marreca e com um bocadito de sorte, os salamaleques ainda propiciarão a agradável descoberta por entre a caspa acabada de tombar, de uma moedita imprevidentemente deixada perdida pelo vizinho de labuta académica. Há dias felizes. Onde há um lustro pastavam cabras e carneiros nos relvados fronteiros à Cidade Universitária, continua vivaço da Silva o mandarinato avaramente cioso do seu pagode. De facto, tal sobrevigência de navegação é maravilha de se ver e coisa tão rara como a longa e improbabilística carreira do senhor de Talleyrand.

 

O dr. Medina de grossa vista, farta prosápia e firme pena, bem a merece, pelo incentivo que deu às novas gerações sequiosas de bebericar em copiosa prosa, o néctar de uma Estória de Portugal na qual se reverão, nela procurando as vitais provas de pertença a um enjeitado todo.

 

Firmes partisanos do mais vale tarde que nunca, aqui deixamos este anúncio de homenagem e assim pouco mais poderemos acrescentar, senão alguma da visão retrospectiva que o telescópio cerebral do dr. João Medina faculta a todos os portugueses.

 

Desde já advertimos de não se tratar de uma perfeita correspondência à espantada exclamação de H. Carter, que ao escavacar uma parte da parede da tumba do faraó menino, por entre a escuridão via o fulvo cintilar do ouro. Considerando Portugal como há muito anunciada tumba, o fatalista errante Medina não mira qualquer brilho passado, presente ou futuro. O nosso país é sumariamente farejável e o odor será próprio das circunvoluções da parte interior e baixa da cavidade abdominal do mais ignaro cidadão. O que não impede minimamente o usufruto dos sempre libérrimos cabedais proporcionados pelo execrado Estado que conforma a misérrima nação.

 

Aqui deixamos alguns trechos de boca cheia, em saborosa entrevista.

 

"E as descobertas serviram para quê? O império colonial não era útil, não era rentável, do ponto de vista económico não servia para nada".


"Eu vejo-nos mais como uma nação falhada. Fez-se aquele império sem existir um projecto colectivo de desenvolvimento (...) só quando os holandeses libertaram a região de Pernambuco é que se fizeram lá sinagogas (...) Para haver encontro com a natureza era preciso que os portugueses tivessem explorado a selva, e nós limitámo-nos a andar de lado, como o caranguejo, sempre ao longo da costa(...) Portugal é um país defeituoso, cheio de arcaísmos difíceis de superar porque somos um país inerte, sem nada de europeu, sem cultura europeia (...) Interessam-me os símbolos, as representações psicológicas, os aleijões espirituais como o anti-semitismo, as referências populares como o Zé Povinho. Dei a minha aula das provas de agregação sobre o manguito".

 

Contando com tão preciosa colaboração, a Faculdade de Letras de Lisboa supostamente poderia ter dado á luz, uma nobilíssima plêiade de excelsas inteligências. Pelos vistos, tal é uma ilusão tão longínqua como os azulados seres de um avatar bem próximo de si.

 

Fiquemo-nos então pela homenageada sinecura, qual albarda de antanho a carregar pelos mesmos de sempre.

 

 

publicado às 19:26


5 comentários

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De Anónimo a 15.01.2010 às 00:03

Mon cher,

Saramago ao pé de si nem chega a mirrar...porque não existe.

Você escreve muito, muito bem...cum catano! Agora diga-me lá se não fica com cólicas sempre que vê aqueles badamecos da Assembleia da republica a ditar as leis que regem a sua vida em sociedade?





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De Nuno Castelo-Branco a 15.01.2010 às 10:44

Educadinha, chamo apenas a atenção para uma Sublime Sapiência que tem feito carreira a expensas do bom nome de Portugal. As suas entrevistas, altura em que perde o tino, são um lauto repasto de disparates e aldrabices cozinhadas com o tempero da raivinha e despeito. Porquê, é coisa que vivalma descortina.
Por exemplo, quando o sr. Medina diz que os portugueses nunca "saíram da costa", fiz de imediato o link para os Bandeirantes. As distâncias percorridas nos matagais brasileiros, seriam suficientes para o sr. Medina alombar a livralhada às costas, de Madrid a Moscovo. A butes, coisa a que jamais se habituou. E podia continuar indefinidamente, tal a catadupa de parvoíces vomitadas de cátedra (que você paga).
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De Anónimo a 15.01.2010 às 00:09

«agradável descoberta por entre a caspa acabada de tombar»...

Mon cher,
esqueceu-se dos boogers, ou gafanhotos...que também faz parte da indumentária...e o casaquinho cossado de tanto lustro...
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De Nuno Castelo-Branco a 15.01.2010 às 10:39

Educadinha,
Para a AR, só vai quem pode e não quem gostaria de lá TRABALHAR. E não estou a falar na minha insignificante pessoa.
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De Anónimo a 16.01.2010 às 17:11

Nuno Castelo- Branco

Não se reduza...se os que há em São Bento, tivessem o seu discernimento, capacidade de análise e excelente capacidade de escrita...só lhe digo...não assistiamos a um ministro a invectivar um outro, por certo, não menos incapaz.

Acho importante que denuncie, que escreva e escreva bem, que chame esses anormais pelos nomes, lembre o que está esquecido.

Sabe eu tenho sido abstencionista.No meu caso não significa indiferença...mas desprezo por essa corja de pseudo interessados em servir o País.
Eu espero francamente que a situação mude e que passe a ir para a AR quem realmente queira trabalhar e não apenas dar à língua.
Fazem as leis que querem, o regulamentos que querem, faltam à discussão de assuntos importantes e se não me falha a memória podem faltar até cinco dias sem ter que se justificar.

Claro está que toda essa justiça de prescrições, anulação de escutas e outras merdas do género fazem zangar, por isso é preciso incentivar, picar os leitores com as verdades...precisamos de uma mudança...pode ser com cravos, mas que floresçam e não murchem como ao longo destes anos todos tem acontecido.
O sistema da politica partidária faliu.

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