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Finland Plot

por Nuno Castelo-Branco, em 15.04.10

Na imagem e atrás dos camisas vermelhas, o encapuzado perfeitamente identificado nos acontecimentos do passado Sábado

 

 

Quando Thaksin ainda exercia as funções de 1º ministro, surgiu a público o chamado "Plano Finlândia" ou "Finland Plot". Apesar do ex-Premier ter visitado este país na companhia de amigos do partido TRT e do próprio embaixador finlandês em Bangkok ter referido que durante esta visita, o grupo discutira o futuro da Tailândia, as alegações foram veementemente negadas. Sucintamente, este plano teria sido gizado por uma coligação de interesses locais, económicos e remanescentes do Partido Comunista derrotado nos anos 70.  Dado o evidente apetite voraz que Thaksin demonstrava pela concentração do poder político, empresarial e financeiro no seu círculo mais íntimo, a população encarou esta notícia como uma forte probabilidade a não descartar. Nas Forças Armadas, o assunto parece ter sido ponderado e levado a sério, conduzindo aos acontecimentos de 2006 e à deposição do internacionalizado arrivista sem escrúpulos.

 

Passaram alguns anos e o assunto foi sendo esquecido. Paralelamente à saída dos noticiários locais, assistiu-se à clássica propaganda e estratégia de descrédito do mesmo, apresentando-o como inconsistente fantasia de turvas intenções. Os acontecimentos do último mês, parecem confirmar a necessidade de revisitar a alegada fraude mediática. Senão, vejamos:

 

1. A agit-prop populista.

O discurso do Partido sucessor do TRT (Thai Rak Thai) que vai precisamente ao encontro dos pressupostos enunciados no dito plano, com uma forte componente populista de manipulação da base eleitoral rural e a progressiva hegemonização dos governos locais pelo mundo político-empresarial afecto a Thaksin. De facto, o "Finland Plot" anunciava a descentralização, assalto à informação - jornais, tv e sector da Educação - e a formação de governos provinciais, obviamente vassalos de um poder presidencial futuramente a constituir sob a égide de Thaksin Shinawattra, hoje "Takki Shinegra". Para dizermos as coisas tal como se passaram, o delírio dos milhões distribuídos como "créditos", voltou-se contra os "beneficiados", hoje fortemente endividados perante os financistas e presa fácil dos controleiros caciques engajados pelo duvidoso "neo-Tio Patinhas" trânsfuga.

 

2. O grupo de Thaksin e os pressupostos ideológicos.

Há que consultar cuidadosamente a lista dos mais directos colaboradores governamentais do multi-milionário foragido. Curiosamente, incluem antigos e influentes membros do PC como Lertsuridej (1º secretário de Estado de Thaksin), Chaisaeng (vice-1º ministro), Suebwonglee (ministro da Informação e Tecnologias da Comunicação), Piangket (secretário de Estado da Ciência), Saengprathum (secretário de Estado do Interior) e Wechayachai (secretário de Estado dos Transportes). A atribuição das pastas, obedece criteriosamente aos postulados dos guiões vermelhos para a tomada do poder e aos mitos da ultrapassada cartilha ou manual de outros tempos. Curioso parece também ser, o anúncio que o plano teria para a construção de outro Estado e regime, também seguindo cuidadosamente os pressupostos ideológicos marxistas. Passagem da economia rural dos anos 60/70, para a industrialização e capitalismo financeiro que propicie a passagem ao comunismo. O projecto implicava a privatização extensiva das empresas do Estado - que a bem da verdade Thaksin tentou em proveito próprio e levou à forte oposição popular - e a progressiva hegemonização do seu partido, com vistas à edificação de um autoritário sistema monocromático. Se consultarmos o modelo de desenvolvimento prosseguido pela China pós-Mao, temos o quadro que elucida os mais descrentes.

 

3. O negacionismo.

É sempre evidente uma rápida resposta que descredibilize as alegações, declarando-as de "ridículas", fora de tempo, "fantasiosas", "fruto da paranóia elitista", "conspirativas e anti-democráticas", etc. Num primeiro momento, a necessária circunspecção que sempre se requere nestas matérias, levaria à rejeição ou pelo menos, à profunda desconfiança perante estas acusações surgidas num documento sem assinaturas ou testemunhos confessos. No entanto, o que tem sucedido e para pouca sorte dos abastadíssimos chefes "reds", vai precisamente ao encontro do já esquecido "Finland Plot" e os chefes de bando que têm ocupado as ruas de Bangkok, tudo têm feito para confirmar a antiga suspeita. Os colossais meios materiais, impróprios para quem reivindica ser o braço dos mais pobres;  o declarado e evidente recurso a actos que quebram e violentamente ofendem todas as regras que secularmente regem o ethos por todos assumido como natural; a acção no terreno e a organização de clãs, milícias e chefes de grupo que controlam as células provenientes da província; a constante exigência em subir a parada que já não se contenta com eleições a breve prazo, mas sim o imediato vazio de poder; uma evidente alteração do quadro constitucional, decapitando a superestrutura do Estado (visando liquidar o Conselho Privado, émulo do nosso Conselho de Estado). Enfim, este último ponto pode ser encarado como o aniquilar do Poder Moderador - e sem o ousarem dizer, da própria Monarquia - que ao longo de décadas tem mantido o frágil equilíbrio entre interesses políticos e económicos em liça.  Sendo a única Instituição que é universalmente respeitada pela população, a quebra da sua influência torna-se decisiva para o total controlo do aparelho estatal.

O surgimento das "milícias negras", pesadamente armadas e bem treinadas, evidenciam um plano amadurecido e perfeitamente executado, surgindo também a hipótese da sua proveniência externa, ou pelo menos, do seu financiamento, formação e treino além-fronteiras. As imagens televisivas são eloquentes e demonstram conhecidas tácticas utilizadas pela guerrilha vermelha que varreu o sudeste asiático durante as décadas de 60 e 70, onde a população era arregimentada em massa e servia de escudo para a acção dos operacionais militares.

 

4. O quadro internacional.

Os interesses internacionais e a consequente corrida às armas. Já há meses circulam rumores sobre coligações internacionais de interesses que visam a desestabilização e reordenamento político da região. Hoje, tais suposições parecem ser difíceis de excluir, dadas as alterações verificadas na cordilheira dos Himalaias e na Ásia Central.

 

Concluindo, o "Finland Plot" pode muito bem ser uma fantasia ou mais uma invenção de lunáticos, mas surge estranhamente muito próximo da realidade a que dia após dia, temos assistido.

Esta manhã, em Bangkok. "Breaking news" (como eles gostam de dizer) A Q U I

publicado às 15:26







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