Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A diplomacia dos nossos dias, parece encontrar-se num patamar infinitamente inferior ao de outros tempos. Invadida por gente profundamente interessada nas redes de negócios que desacreditaram os outrora imponentes edifícios estatais, em pouco se distingue dos centros de decisão empresariais. A deplorável, esdrúxula e patética actuação que tem tido em Bangkok, causaria calafrios a qualquer mediano embaixador de eras passadas.
Sem voltarmos a exaustivamente referir a longa série de atentados ao direito que os chamados "manifestantes vermelhos" têm prodigamente executado ao longo das últimas semanas, salientemos apenas o essencial do quadro que nos é apresentado: subversão da ordem constitucional, milícias armadas, desobediência civil, coacção física e moral sobre milhares de transeuntes, bloqueio de estradas e de serviços públicos, ataque às forças de segurança do Estado, posse de um verdadeiro arsenal bélico, tráfico de armas, etc. Todo este rosário de ilegalidades e prepotência, não parece ser um caso que mereça uma breve análise que aconselhe a prudência ao staff que ocupa funções de representação - do quê e de quem? - da chamada União Europeia. Para não vincarmos demasiadamente a notória irrelevância da "embaixada" - a UE não é e não parece poder vir a ser um Estado -, note-se apenas que as autoridades tailandesas estarão mais dispostas a dialogar com parceiros há muito conhecidos e potência a potência, consoante o peso de cada uma delas. Se algumas beneficiam da importante - mas não decisiva - influência que as relações económicas implicam, outras, como será o caso do antigo e permanente amigo português, poderão fazer valer a sua voz através daquele clássico princípio de não ingerência que tranquiliza quem justamente se sente agredido. A prudência acompanha a razão.
Num Ocidente à mercê de uma incendiária geração que caminha para a fase derradeira do seu percurso político, a informação imediatista e a total falta de uma base de preparação que o conhecimento da História facultaria, conduz ao atropelo de todas as normas internacionalmente aceites. Parecemos voltar ao período de entre-as-guerras, quando os Tratados e as relações internacionais nada mais eram senão "pedaços de papel" ou situações perfeitamente desrespeitáveis.
Esta rebelião não parece ser um simples tumulto protagonizado um punhado de políticos profissionais descontentes. É algo de muito mais vasto, de emaranhada rede de influências, perigoso e com evidentes semelhanças com outros processos que ocorreram um pouco por toda aquela região e que encontra sólidos fundamentos numa doutrina de assalto ao poder, que de tão conhecida dispensa qualquer dúvida na sua catalogação.
A imprensa internacional escrita - quase ausente e bastante lacónica -, foi suplantada, ainda que de forma sintomaticamente tímida, por rápidos flash! televisivos, onde todo o tipo de recursos são utilizados para atrair a atenção dos telespectadores. Assim, a milenar dicotomia "rico e pobre" surge exaustivamente, como se os magnatas que são a cabeça de cartaz do "movimento vermelho", não fossem uma disparatada e embaraçosa contradição que salta à vista do mais empedernido imbecil. O silêncio das organizações "de esquerda" europeias e latino-americanas, demonstra cabalmente a falta do essencial sentimento de "pertença à causa" que noutras circunstâncias, já teria conduzido à convocação de manifestações, movimentos de solidariedade e outras actividades concomitantes à tipologia. Nem Castro, nem Chávez se dignaram a tecer qualquer comentário e falhadas estas conhecidas pitonisas, quem lhes restará? Não parece existir qualquer equívoco acerca da verdadeira face escondida por detrás do thaksinismo, mas o modus operandi é indicador de uma realidade bem conhecida, embora negada. Falta-lhes um Tito, um Hoxha e de uma forma quase hilariante, Thaksin, o exigente e perdulário frequentador de spa's, tornou-se num embaraço para os seus próprios aliados.
A entrevistadora de uma BBC que tem estado muito desatenta, há poucos dias atrevidamente increpava o primeiro-ministro Abhisit, atirando-lhe em cara a recorrente pecha do ..."not elected by the people", com isto querendo dizer que o chefe do governo tailandês ..."has no mandate". A ignorante britânica, tagarela como poucas e no trilho da arrogância que noutros tempos foi timbre de uma outra arrivista muito mais esperta - a sra. Anna Leonowens -, esqueceu-se da actual situação do ocupante do nº 10 de Downing Street, o sr. Gordon Brown. Balsemão substituiu Sá Carneiro, tal como Helmut Schmidt ocuparia a chancelaria de Willy Brandt, no rescaldo do escândalo de espionagem G. Willaume. No Reino Unido, Brown tomou o lugar de Blair, sem que por isso a mais velha democracia do planeta se sentisse ultrajada por tal preenchimento do cadeirão vago. Este tipo de substituições de Premier, são uma constante na Europa e na própria capital da "Comissão Europeia", Bruxelas, o Rei Alberto II vê-se obrigado a gerir a cacofonia partidocrática e semestre após semestre, vão saltitando primeiros-ministros do arco das instáveis coligações.
A grotesca superstição populista do favorecimento de pretensos descamisados que acabam sempre por se tornar em carrascos de muitos milhões, conduz à elaboração de manchetes enganosas, mas capazes de atraírem pela exótica sordidez, a volátil atenção de leitores. Se isto é compreensível pela necessidade de criar noticiário que venda outros produtos subjacentes à existência das publicações, torna-se muito mais estranha e problemática, a extemporânea adesão, quase partisana, de membros que laboram numa entidade de direito internacional. A União Europeia é um aparelho de perfil variável, cuja solidez e credibilidade no campo diplomático é bastante fluída, deixando muito a desejar. Ninguém a toma a sério e pelos vistos, o próprio pessoal que a serve disso terá consciência. Os interesses particulares de cada um dos países que a compõem, naturalmente se sobrepõem ao desfiar de princípios vagos e de intenções de uma entidade que paira num limbo do qual poderá jamais sair. Assim, as actividades dos seus bureaus aconselhariam a prudência e a discrição.
Não tem sido o caso, antes pelo contrário.
Ruidosamente e com todos os salamaleques, o sr. David Lipman recebeu os líderes que se envolveram em todo o tipo de afrontas ao direito internacional - o caso da invasão do Hospital Chulalongkorn é o culminar de um processo que não conhece limites - e com eles se fechou durante quarenta minutos num gabinete da representação. Tendo sido anunciada a entrega de uma missiva dirigida a Bruxelas, o staff não se limitou à sua recepção, como seria de esperar e no estrito e inamovível princípio do escrupuloso cumprimento das regras subjacentes ao corpo diplomático. Quarenta minutos significam demasiado tempo, quase uma eternidade. São comprometedoras fanfarronadas e destroem qualquer possibilidade das autoridades locais, em atribuir qualquer dignidade a essa pretensa UE. Não nos espantaremos se o governo de Bangkok sabiamente preferir tratar directamente com Berlim, Londres, Paris, Roma e até - a CPLP começa a pesar -, com o velho aliado Portugal.
Atascada no ridículo, Bruxelas deverá rever criteriosamente a sua política de representação no exterior. Os seus escritórios não podem ser transformados em cantinas de recurso para o convívio com todo o tipo de bandos alucinados ou de bandoleiros, nem locais de reunião ou massage parlours de ocasião.
Tudo isto é vergonhosamente indigno e perfeitamente dispensável. Velhos tiques, servidos em termos neo-coloniais.
Abhisit reuniu-se ontem com Ramos-Horta, o amigo de Timor Leste