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Bangkok II: a aranha capitalista na teia vermelha

por Nuno Castelo-Branco, em 09.05.10

O estranho Dr. Weng

 

Dir-se-ia qua o curso de quatro décadas marca o ritmo de ascensão e queda dos regimes portugueses, acompanhando o viço e a imparável decadência do corpo dos homens que os criaram. Assim foi entre 1870 e 1910, tal como viria a acontecer com a 2ª República que entre os anos trinta e setenta conheceu o fulgor e o ocaso. Neste Portugal de fim de ciclo de uma geração que acordou com uma vintena de anos para a política do fim da década de sessenta - a chamada geração do Maio de 68 -, parece chegar o tempo de um último impulso, talvez a derradeira vaga que finalmente cumpra todas as teimas e superstições que fizeram o seu tempo de correrias, pulsões várias e ditames que condicionariam o futuro que hoje vivemos e ao qual tristemente nos resignámos. Geralmente bem instalados na vida e beneficiando precisamente daqueles privilégios que há quarenta anos quiseram retirar à casta dirigente e apenas uma geração mais velha - o nem sempre terno e prodigamente desnecessário confronto do filho que visa substituir o pai -, perdem aquele sentido de racionalidade mínima que ainda os faz correr atrás de um tempo perdido e sob o qual caiu uma pesada maldição da História.

 

Querem uma revolução a todo o transe. Pouco lhes importa que tal hecatombe signifique a destruição da tranquilidade de povos inteiros e do desaparecer de princípios e de uma ordem social - sempre ligada ás negregadas coisas do espírito - que jamais poderão compreender e muito menos ainda, aceitar como natural. Não querem perder o último relampejar de energia que uma simples mirada matinal ao espelho desmentirá de forma inapelável. Pior ainda, fogem a engendrar as sublevações nos seus próprios países, onde impera a sua própria ordem que  garante os lugares cativos e julgados como direitos inalienáveis de conquista. Não vêem entre os seus povos, qualquer necessidade de corrigir as flagrantes injustiças que prepotentemente instalaram sob o argumento de uma "libertação" há muito esquecida ou ignorada pelas duas ou três gerações que se lhes sucederam no planeta. São sátrapas de uma colossal fortificação, na qual se entra apenas por uma estreitíssima fresta que é aberta a um certo número de serviçais de confiança que não ofereçam qualquer ameaça às coutadas ciosamente guardadas. Substituindo o uniforme feldgrau de Erich Koch por aquele outro que os torna anónimos em qualquer rua de um mundo menos globalizado do que pensam, no ar fresco dos gabinetes reúnem com os seus pares e com um ou outro recém-chegado às lides conspirativas. Infalivelmente atrelados às carroças dos interesses económicos e financeiros que desmentem a ladainha revolucionária esquerdizante de tempos idos, almejam fazer obra fora de portas, precisamente aquilo que jamais conseguiram impor entre os seus conterrâneos. Quem não se recorda da patética chegada de J.P Sartre a uma esquizóide Lisboa de 1974-75, aconselhando o rápido acatar pelos atónitos portugueses, de um modelo há muito falido e destestado que a Europa de 1968 acabara por vencer precisamente nas ruas de Paris?

 

Agora é que é! Se há uns anos a promessa surgia nas novas independências africanas que conduziram a genocídios jamais vistos e que seguem o seu curso no preciso momento em que o leitor passa a vista por estas linhas, quebrada a magia da novidade, o alvo passou a ser alietório. A Nicarágua serviu durante algum tempo, tal como os "românticos" encapuzados da vasta baía de La Plata dos anos setenta e oitenta. Saltaram para a curta e sangrenta experiênciakhmer e afundando-se reputações e auto-reconhecidos prestígios num oceano de sangue e pilhas de ossos esmagados, encontraram na têxtil cobertura craniana de Arafat, o ícone das "lutas", "contradições", "movimentos de massas" e "dinâmicas" anti-imperialistas. Completamente dependentes desse imperialismo económico que lhes fornece todo o conforto dos ambientes climatizados, relógios de montra de ourivesaria e espadão a leasing - do Estado - na garagem, insistem em conspirar a expensas de outrem. À volta de uma lauta mesa, infindavelmente falam dos gloriosos assaltos pela calada da noite a desertas academias, departamentos estatais ou estabelecimentos comerciais, à cata do quinhão que o "imposto do saque revolucionário" obrigava. Ignorados na sua terra, dedicam os seus esforços a rever-se na pele de outros que mais jovens, incrédulos e infinitamente menos bafejados pela sorte, facilmente se sugestionam pelo linguajar de frases feitas e proferidas pela boca do branco que muito pode, tem e talvez lhes deixe umas migalhas.

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